Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, cujo mandato é contestado pela comunidade internacional (Miraflores Palace/Reuters)
AFP
Publicado em 28 de janeiro de 2019 às 11h16.
Última atualização em 28 de janeiro de 2019 às 11h29.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro enfrentará esta semana um novo ataque do opositor Juan Guaidó, autoproclamado líder interino que convocou novas manifestações, enquanto se esgota o prazo de oito dias dado pelos países europeus para que aceite eleições livres.
Encorajado pelo forte apoio dos Estados Unidos, Guaidó convocou no domingo à noite uma mobilização na quarta-feira para exigir que as Forças Armadas retirem seu apoio a Maduro, e no sábado uma grande marcha em apoio ao ultimato europeu.
França, Alemanha, Reino Unido, Holanda e Portugal deram a Maduro até 3 de fevereiro para convocar eleições, caso contrário vão reconhecer Guaidó, chefe do Parlamento de maioria opositora, como presidente interino da Venezuela.
Nesta segunda-feira, o papa Francisco admitiu que teme "um derramamento de sangue" na Venezuela e a violência que pode ser desencadeada pela crise política no país, em declarações a bordo do avião que o levou do Panamá para Roma.
"O que me assusta? O derramamento de sangue", disse ele aos 70 jornalistas que o acompanhavam na viagem.
Em entrevista à rede de televisão turca CNN Turk, divulgada no domingo, Maduro pediu à Europa que retirasse seu ultimato.
"Ninguém pode nos impor um ultimato", disse ele, depois de lamentar o fato de os europeus se curvarem ao que ele denuncia como um golpe de Estado liderado pelos Estados Unidos, com o qual rompeu relações diplomáticas.
A semana passada foi marcada por protestos e distúrbios que deixaram 29 mortos e cerca de 350 detidos.
O agravamento da crise ocorre em meio ao colapso econômico da Venezuela, com sua companhia petrolífera declarada em suspensão de pagamentos e uma hiperinflação que, segundo o FMI, alcançará 10.000.000% este ano.
Encorajado pela deserção do adido militar em Washington, Guaidó enviou aos quartéis da polícia e do Exército cópias de uma lei de anistia aprovada pelo Parlamento.
Segundo o documento, "todas as garantias constitucionais" serão concedidas a militares e civis que "colaborarem na restauração da democracia".
Guaidó procura assim acabar com o apoio das Forças Armadas a Maduro.
Por sua vez, o líder socialista se cerca com frequência pela cúpula militar, que na última semana professou "lealdade absoluta e incondicional" ao seu governo.
"Traidores nunca, leais sempre!", declarou Maduro no domingo durante exercícios militares, ao pedir às Forças Armadas "união" e "disciplina" para enfrentar o "golpe de Estado".
Guaidó se autoproclamou presidente após o Congresso declarar Maduro "usurpador" por iniciar em 10 de janeiro um segundo mandato considerado ilegítimo pela comunidade internacional.
Assim que Washington reconheceu Guaidó, Maduro rompeu relações com o governo de Donald Trump e ordenou o fechamento da embaixada e consulados venezuelanos no país. No entanto, no sábado, anunciou que os dois países negociariam a abertura de escritórios de interesses.
O assessor de Segurança Nacional americano, John Bolton, alertou no domingo que haverá uma "resposta significativa" a qualquer ameaça contra Guaidó ou diplomatas americanos.
Um dia antes, a Casa Branca havia convocado o mundo a se unir às "forças da liberdade" em apoio a Guaidó, em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, na qual a Rússia saiu em defesa de Maduro.
Além dos Estados Unidos, o Canadá e uma dúzia de países americanos reconheceram o líder da oposição. A Rússia e a China continuam fieis a Maduro, assim como Bolívia, Cuba, Nicarágua, Turquia e Coreia do Norte.