Maduro: presidente venezuelano diz que "não quer falar de guerra" (Carlos Becerra/Bloomberg)
Tamires Vitorio
Publicado em 17 de setembro de 2019 às 09h01.
Última atualização em 17 de setembro de 2019 às 09h08.
São Paulo — Em entrevista exclusiva ao jornal Folha de S. Paulo, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, define muitas coisas como "estúpidas". Uma delas é a atitude do presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Para Maduro, Bolsonaro "não é um político" e sim um "extremista ideológico". "É uma estupidez que ele se declare admirador de Pinochet e diga que a revolução bolivariana é uma ditadura", comentou.
"Ele não conhece a história da América Latina nem da Venezuela. Em 20 anos, fizemos 25 eleições, de presidente, governadores, prefeitos, parlamentares. As forças bolivarianas, chavistas, ganhamos 23 eleições." Mesmo assim, para ele, "a oposição venezuelana é pior do que Bolsonaro".
Sobre o fato de a Organização dos Estados Americanos (OEA) poder reativar o Tratado Interamericano de Ação Recíproca (TAR), o que poderia culminar em uma intervenção militar no país, Maduro foi categórico: "[O Tar] É um tratado morto, e o único que resta é sepultá-lo abaixo da terra, bem sepultado. E defender o direito à paz, à não intervenção militar do povo da Venezuela. Eu estou seguro de que isso vai prevalecer por cima de tudo".
Maduro questionou também o relatório da ONU divulgado pela alta comissária de Direitos Humanos, Michelle Bachelet, e disse que "tem uma polêmica dura com ela" por causa das falas da comissária sobre prisões arbitrárias, torturas e degradação econômica na Venezuela.
"Eu tive uma longa conversa com Bachelet em sua visita aqui. Ela repetiu as mesmas mentiras. Sem sustentação, sem nenhuma prova. A única coisa que ela pega e coloca no informe são cópias do jornal O Globo, de [jornais de] São Paulo, de New York Times, etc. etc., que dizem mentiras sobre a Venezuela", afirmou. "Na Venezuela nós temos quase pleno emprego, apesar das circunstâncias que estamos vivendo." Em agosto deste ano, o salário mínimo venezuelano atingiu o valor mais baixo da história, segundo cotação do Banco Central (BCV).
Outra coisa estúpida, para Maduro, é dizer que a Venezuela é uma ditadura. "É uma estupidez histórica. E quem o diga é um estúpido. À Venezuela se respeita. A Venezuela é uma democracia sólida. Ameaçada. Assediada", afirmou.
Segundo ele, "todas as ameaças do governo Trump e Bolsonaro, de invadir a Venezuela, têm unido ideologicamente e institucionalmente a Forma Armada Nacional Bolivariana". "Eu decretei recentemente um conjunto de exercícios militares e vamos nos preparando para defender nossa terra. O mundo não deve se esquecer de que a Venezuela tem uma força armada profissional, com um bom sistema de armas defensivo, poderoso", explicou.
Apesar disso, Maduro disse que "não quer falar de guerra". "Quero falar de paz. Eu sou cristão, convencido, praticante, de oração e de ação. Estou convencido de que aqui vai triunfar a paz frente às ameaças e às loucuras da ultradireita, de Bolsonaro, de Trump e de toda essa gente."