Nicolás Maduro busca apoio da Rússia para entrada da Venezuela nos Brics durante cúpula em Kazan (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 22 de outubro de 2024 às 19h07.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, chegou de forma inesperada na noite desta terça-feira, 22, à cidade russa de Kazan, capital da República do Tartaristão, no dia em que começou a cúpula de chefes de Estado dos Brics. O grupo, que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, é um dos focos da política externa venezuelana, com Maduro buscando o apoio da Rússia para que o país seja incorporado ao bloco.
Até recentemente, fontes em Caracas confirmaram que o presidente venezuelano não pretendia viajar a Kazan. A mudança de planos estaria relacionada às dificuldades para que a Venezuela seja aceita no grupo, especialmente devido à resistência do Brasil. Celso Amorim, assessor internacional da Presidência, declarou que "não considera oportuna a entrada da Venezuela", destacando que "não vemos vantagens nessa incorporação neste momento".
“Nossa presença é um avanço significativo para a geopolítica global”, disse Maduro ao desembarcar em Kazan. Enquanto isso, Amorim enfatizou que "não somos inimigos da Venezuela, mas estamos insatisfeitos com a situação no país".
Até segunda-feira, a Venezuela estava representada na cúpula pela vice-presidente Delcy Rodríguez. Fontes em Caracas atribuíram a viagem de Maduro à necessidade de exercer "uma pressão muito forte" para reverter o cenário adverso para a Venezuela, principalmente devido à posição do Brasil.
Várias listas com países potenciais para serem incorporados ao Brics circularam em Kazan, e a Venezuela não aparece nas mais recentes. Enquanto os demais membros do bloco não se opõem à entrada do país, a Rússia, por outro lado, vê a ampliação do Brics como uma estratégia para combater a tese de seu isolamento internacional após a invasão da Ucrânia.
Se a Rússia insistir na inclusão da Venezuela, a grande questão será se o Brasil irá vetar. Fontes do governo brasileiro afirmam que, embora não haja intenção de vetar a entrada da Venezuela, o problema com Maduro é a eleição presidencial de 28 de julho, cujos resultados não foram reconhecidos pelo Brasil. A partir de janeiro, o Brasil deve deixar de reconhecer Maduro como presidente legítimo da Venezuela, embora as relações diplomáticas entre os dois países sejam mantidas.
“A relação entre Estados será preservada, mas o vínculo entre os governos mudará radicalmente”, afirmou Amorim. Com isso, Lula nunca foi simpático à ideia de incorporar a Venezuela ao Brics, preferindo a inclusão de países como Cuba, Bolívia e Colômbia, esta última, porém, não apresentou solicitação de adesão.
As listas mais recentes de países candidatos incluem Vietnã, Indonésia, Turquia, Uzbequistão, Azerbaijão, Nigéria, Tailândia e Malásia. A decisão final sobre a entrada de novos membros será tomada pelos chefes de Estado, com o chanceler Mauro Vieira representando o Brasil na cúpula.