Emmanuel Macron, presidente da França (Ludovic MARIN /AFP)
Agência de notícias
Publicado em 26 de agosto de 2024 às 12h38.
O presidente francês, Emmanuel Macron, reuniu-se nesta segunda-feira com a líder da extrema direita, Marine Le Pen, em sua rodada de consultas para nomear um novo primeiro-ministro, enquanto aumenta a pressão para superar quase dois meses de bloqueio político.
A França está em um limbo político desde julho, quando a coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) venceu o pleito, mas sem maioria absoluta dos assentos.
Apesar de estar longe da maioria absoluta de 289 deputados, a NFP, formado por socialistas, comunistas, ecologistas e pelo partido de esquerda radical A França Insubmissa (LFI), pede para formar um governo e propõe o nome de Lucie Castets, economista de 37 anos. Mas o presidente de centro-direita, que iniciou na sexta-feira a série de consultas com a coalizão de esquerda, recusou por enquanto nomeá-la como chefe de governo, considerando que não tem maioria suficiente na Assembleia.
Le Pen e a estrela em ascensão da extrema direita Jordan Bardella confirmaram a Macron que apoiarão uma moção de censura contra um governo da NFP, mesmo que sem ministros do LFI, indicaram os dois após o encontro no Palácio do Eliseu, sede da presidência em Paris, nesta segunda. A três vezes candidata presidencial do Reagrupamento Nacional (RN) também pediu uma sessão extraordinária do Parlamento para que os parlamentares pudessem depor imediatamente qualquer novo governo em um voto de confiança.
— Não quero que um primeiro-ministro tenha um mês para implementar por decreto uma política tóxica que seria perigosa para o povo francês — disse Le Pen.
As eleições antecipadas convocadas pelo centrista Macron não conseguiram, no mês passado, tirar a França do impasse do Parlamento suspenso, que fez com que seu grupo governasse em minoria desde 2022. Em vez disso, a Assembleia Nacional (câmara baixa) está amplamente dividida entre três blocos: a aliança da Nova Frente Popular (NFP) de partidos de esquerda com mais de 190 assentos, seguida pelos apoiadores do presidente com cerca de 160 e o Reagrupamento Nacional de extrema direita com 140. Nenhum deles se aproxima de uma maioria de 289 na câmara de 577 assentos.
Desde que as pesquisas do segundo turno foram encerradas em 7 de julho, a esquerda tem pressionado para que Macron nomeie um de seus membros como primeiro-ministro, dizendo que a posição cabe a eles como a maior potência. Eles indicaram a economista e funcionária pública Lucie Castets, de 37 anos, amplamente desconhecida, como sua possível candidata a chefe de governo.
Macron, por sua vez, adiou a nomeação de um novo primeiro-ministro, deixando um governo interino em vigor por um período sem precedentes, enquanto busca uma figura com amplo apoio que não seria imediatamente derrubada em um voto de confiança.
“A fraqueza do presidente é que, desde a noite do segundo turno, ele não foi capaz de mudar o jogo nem de fazer nada andar... ele depende da boa vontade dos outros para consertar seus próprios erros”, escreveu o comentarista Guillaume Tabard no diário conservador Le Figaro.
Antes das reuniões, um porta-voz do Palácio do Eliseu disse na semana passada que ainda não há uma data certa para a nomeação de um novo premier. As disputas em torno do Orçamento para o ano que vem, no entanto, aceleraram o processo: a proposta deve ser votada pelo Parlamento até outubro, e o governo interino sugeriu uma contenção nos gastos que é desaprovada pela coalizão de esquerda.
Desde sexta-feira, Macron convidou líderes partidários para conversas no Palácio do Eliseu, na esperança de encontrar um candidato de consenso. Todos se mantiveram firmes, com a aliança do NFP insistindo que ganharam o direito de implementar seu programa de grandes gastos.
— Não quero participar de um programa em que os dados foram lançados [contra a esquerda] — disse o chefe do Partido Socialista, Olivier Faure, sobre as conversas com Macron.
Um grande passo foi dado pelo líder do LFI, Jean-Luc Mélenchon, que disse na sexta-feira que seus seguidores não precisariam ser ministros em nenhum governo, uma das principais objeções de Macron e de outros atores políticos.
O presidente tem chamado repetidamente o LFI de movimento “extremista”, tentando marcar o partido como algo tão fora dos padrões quanto a extrema direita.
Antes, Macron “achava que poderia eliminar um governo Castets como opção em dois dias de conversações”, escreveu o jornal de centro-esquerda Le Monde. Após a oferta de Melenchon, “ele terá que justificar mais seriamente do que planejou para o público francês por que está descartando o NFP”, acrescentou o jornal.
Macron chocou a França com a inesperada antecipação das eleições legislativas marcadas para 2027, após a vitória de Bardella nas eleições europeias, e agora não pode dissolver novamente a Assembleia até julho de 2025.
Segundo a Presidência, Macron, que tem mandato até 2027, pode anunciar na noite desta segunda-feira a convocação de uma nova rodada de consultas para terça-feira. O primeiro-ministro Gabriel Attal está no cargo de maneira interina há 41 dias, um recorde desde o final da Segunda Guerra Mundial.