Mundo

Macron fica sob pressão para se desculpar por testes nucleares

"Esperamos um pedido de desculpas do presidente", declarou Auguste Uebe Carlson, diretor da Associação de Vítimas dos 193 Testes Nucleares

O presidente francês Emmanuel Macron (ao centro) é envolto em guirlandas ao ser saudado na pista ao chegar ao Aeroporto Internacional de Faa'a para uma visita ao Taiti, na Polinésia Francesa. (AFP/AFP)

O presidente francês Emmanuel Macron (ao centro) é envolto em guirlandas ao ser saudado na pista ao chegar ao Aeroporto Internacional de Faa'a para uma visita ao Taiti, na Polinésia Francesa. (AFP/AFP)

A

AFP

Publicado em 25 de julho de 2021 às 12h08.

As décadas de testes nucleares na Polinésia Francesa afetam o presidente Emmanuel Macron, sob pressão para se desculpar pelos danos causados pela radiação.

Durante sua visita de quatro dias, Macron planeja abordar o legado dos testes nucleares realizados entre 1966 e 1996, enquanto a França desenvolvia suas armas atômicas, bem como discutir o papel estratégico do território do Pacífico Sul e o risco existencial de elevação dos mares que supõe o aquecimento global.

Os moradores do extenso arquipélago de mais de 100 ilhas, localizado a meio caminho entre o México e a Austrália, esperam que Macron peça desculpas e confirme a indenização às vítimas da radiação.

Os testes continuam sendo uma fonte de profundo ressentimento, vistos como um sinal de uma atitude colonialista racista em desprezo pelos ilhéus.

Depois de pousar no sábado, Macron, cuja viagem em 2020 foi adiada devido à pandemia, se reuniu com profissionais da saúde que lutam contra a covid-19 no território semi-autônomo, onde muitos desconfiam das vacinas.

"Quero enviar uma mensagem muito forte para pedir a todos que sejam vacinados", disse ele, acrescentando "quando você é vacinado, está protegido e espalha pouco o vírus, ou pelo menos muito menos".

Taxas altas de câncer de tireoide

Macron vai "impulsionar várias medidas concretas" em relação ao legado dos testes nucleares, com a abertura dos arquivos do Estado e indenizações individuais, disse uma fonte da presidência francesa, que pediu para não ser identificada.

As autoridades francesas negaram qualquer ocultação da exposição à radiação em uma reunião no início deste mês com delegados do território semi-autônomo liderado pelo presidente Edouard Fritch.

A reunião aconteceu depois que o site investigativo francês Disclose informou em março que o impacto da chuva radioativa era muito maior do que o reconhecido pelas autoridades, citando documentos militares franceses sobre os 193 testes.

Apenas 63 civis polinésios foram indenizados pela exposição à radiação desde que os testes terminaram em 1996, afirmou o Disclose, estimando que mais de 100.000 pessoas podem ter sido contaminadas no total, com consequências como leucemia, linfomas ou outros tipos de câncer.

"Esperamos um pedido de desculpas do presidente", declarou Auguste Uebe Carlson, diretor da Associação de Vítimas dos 193 Testes Nucleares. "Assim como reconheceram como crime a colonização ocorrida na Argélia, também esperamos que declarem que o que aconteceu aqui no Pacífico foi criminoso e que é uma forma de colonização ligada à energia nuclear", disse.

Patrick Galenon, ex-presidente do sistema de Previdência Social do território (CPS), afirmou que as mulheres polinésias com entre 40 e 50 anos "têm as taxas mais elevadas de câncer de tireoide do mundo".

Ele calcula que o CPS gastou US$ 790 milhões para tratar doenças causadas pela radiação desde 1985.

Macron, que chegou à Polinésia Francesa após uma visita às Olimpíadas de Tóquio, também apresentará sua visão estratégica para o Pacífico Sul, onde a China não esconde sua pressão pelo domínio militar e comercial.

Acompanhe tudo sobre:Emmanuel MacronFrançaTestes nucleares

Mais de Mundo

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde

Cristina Kirchner perde aposentadoria vitalícia após condenação por corrupção

Justiça de Nova York multa a casa de leilões Sotheby's em R$ 36 milhões por fraude fiscal

Xi Jinping inaugura megaporto de US$ 1,3 bilhão no Peru