Macron em campanha nesta segunda-feira, 11: criticado pelo sumiço no primeiro turno, presidente tentará reduzir sua rejeição com campanha intensa nas próximas semanas (Sylvain Lefevre/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 12 de abril de 2022 às 06h00.
Se uma das principais críticas dos eleitores na França foi a quase inexistência de campanha no primeiro turno, a reta final da eleição no país promete ser muito mais movimentada. A agenda eleitoral do presidente Emmanuel Macron e de sua concorrente, Marine Le Pen, tem novos eventos nesta terça-feira, 12, e seguirá com atividades diárias até a votação no segundo turno, em 24 de abril.
Macron, que só fez um evento de campanha no primeiro turno - o que analistas afirmam ter dado espaço a Le Pen -, tentará tirar o atraso visitando hoje redutos eleitorais da opositora.
O presidente passa nesta terça-feira por áreas do leste do país, após já ter visitado eleitores no norte na segunda-feira, 11. Em ambas as regiões, a abstenção foi alta (acima de um terço) e os que votaram preferiram Le Pen e, em segundo, o esquerdista Jean-Luc Mélenchon.
Já Le Pen visitou ontem fazendeiros na região de Borgonha, onde discutiu o alto custo de vida e a inflação, temas que foram prioritários na campanha no primeiro turno. Nesta terça-feira, ela fará um pronunciamento onde prometeu detalhar sua "visão para revitalizar a democracia" na França.
Macron e Le Pen se enfrentam em duas semanas após terem sido os melhores colocados na eleição do último domingo, 10.
Entre os apertos de mão, fotografias comendo croissant e visitas a áreas diversas da França antes do segundo turno, os candidatos terão dois desafios principais: angariar votos dos oponentes já eliminados (somados, são 49%) e convencer mais eleitores a irem às urnas, após a abstenção recorde no fim de semana (dos quase 49 milhões de eleitores aptos, mais de 26% não votaram).
Em 2017, última eleição, Macron e Le Pen já haviam disputado o segundo turno. Na ocasião, o atual presidente venceu com folga, tendo mais de 66% dos votos.
Desta vez, a missão de Macron para seguir no cargo será mais difícil. As primeiras pesquisas dão cenário de somente 53% dos votos para Macron e 47% para Le Pen, na média, e muitas sondagens colocam a liderança do atual presidente somente dentro da margem de erro.
Há uma rejeição constante dos franceses a políticos que já estão no cargo, e Macron, se vitorioso, seria o primeiro presidente reeleito em duas décadas. Em 2017, o mandatário se vendeu na campanha como figura de novidade e renovação, o que o levou à vitória, mas, em 2022, ele chega ao pleito com alta rejeição acumulada.
Educado nas melhores faculdades da França e ex-banqueiro, Macron é visto como elitista e descolado dos anseios da população. O presidente defende reformas impopulares (como a idade mínima para aposentadoria aos 65 anos) e teve a imagem impactada por protestos como os dos "coletes amarelos" em 2018.
Um de seus trunfos recentes na campanha, as negociações com Vladimir Putin sobre a guerra na Ucrânia, não é mais prioridade para o eleitor.
Enquanto isso, Le Pen tem moderado o discurso, feito campanha com crianças e idosos no interior e tentado imprimir uma nova imagem de conciliação e simpatia, o que a fez reduzir parte da rejeição que trazia anteriormente. A candidata da extrema-direita também cresceu nas pesquisas ao se colocar como porta-voz de temas como o custo de vida, a inflação e os salários, que se somam a suas tradicionais pautas conservadoras, com posições anti-imigração e anti-União Europeia.
Apesar da tentativa da candidata da Reunião Nacional de mostrar moderação, uma frente democrática contra Le Pen se formou logo após os resultados.
Partidos diversos declararam apoio a Macron, como o Partido Socialista (centro-esquerda tradicional) e o Republicanos (centro-direita tradicional), além dos ambientalistas e dos comunistas.
“Vou votar em Macron para evitar a chegada de Le Pen ao poder e o caos resultante”, disse a direitista Valérie Pécresse, dos Republicanos. Dos principais candidatos, só Éric Zemmour, também de extrema-direita, apoia Le Pen.
Movimento parecido já havia ocorrido em 2017 e sobretudo em 2002, quando o pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, foi ao segundo turno de forma inédita. Le Pen "pai" saiu massacrado pelo conservador Jacques Chirac, que contou com apoio de rivais da esquerda e teve mais de 80% dos votos.
Desta vez, mesmo Mélenchon, que pertence a uma ala mais radical da esquerda e é critico ferrenho de Macron, disse que "não deve ser dado um voto sequer a Le Pen" - embora não tenha citado diretamente o nome do atual presidente.
Mas o cenário fica indefinido porque seu eleitorado - que votou em propostas como aposentadoria aos 60 anos, menor jornada de trabalho e energias renováveis - pode não necessariamente transferir os votos para Macron, a quem este grupo rejeita.
Eleitores de Mélenchon com menor escolaridade e mais pobres tendem a transferir mais votos para Le Pen, como mostram as pesquisas até o momento.
Segundo pesquisa Ifop nesta segunda-feira, 44% dos eleitores de Mélenchon sequer planejam votar. Os que vão às urnas estão divididos em 33% para Macron e altíssimos 22% para Le Pen. Caberá a Macron convencê-los do contrário nas próximas duas semanas, começando agora.