"Queria ensinar a alguns ex-presidentes como é importante ser um ex-presidente sem dar palpites", afirmou Lula, em uma referência implícita ao ex-presidente FHC (Fabio Rodrigues/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2011 às 09h12.
São Paulo - O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em Guarulhos, na Grande São Paulo, que tem evitado comentar os temas nacionais porque fez um acordo com a presidente Dilma Rousseff de não intervir nos assuntos do governo. Além disso, ele argumentou que a decisão tem por objetivo dar uma lição aos antecessores. "Queria ensinar a alguns ex-presidentes como é importante ser um ex-presidente sem dar palpites", afirmou, em uma referência implícita ao ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, com quem tem trocado farpas nas últimas semanas.
Lula, que participou no fim da noite de ontem do Congresso Nacional de Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em Guarulhos, disse que ainda não conseguiu "desencarnar" da Presidência. "Eu ainda não desencarnei totalmente do meu mandato de presidente. Não é uma tarefa fácil." Durante os 55 minutos de discurso, ele disse que está com "uma comichão", uma vontade forte, de voltar a viajar e fazer caravanas pelo País. "Eu estou com vontade de tudo, mas tenho de me controlar. Só com autocontrole vou conseguir desencarnar", brincou.
Ao descrever a sua gestão como a que "mais" interagiu com os movimentos sociais, Lula afirmou que em nenhum outro País um presidente esteve tão disponível para ouvir a sociedade. "Duvido que, na história da humanidade - eu costumo dizer nunca antes na história do Brasil -, tenha havido um governo que tenha exercitado a democracia com tanta plenitude como exercemos. Nenhum segmento da sociedade deixou de ser ouvido."
O ex-presidente admitiu também que o termo "nunca antes" era usado para afrontar a oposição. "Era para provocá-los, para dizer que 'nunca antes' eles não fizeram nada." No primeiro encontro com líderes sindicais desde que deixou a Presidência, Lula declarou que se sentia, junto com os antigos companheiros, como se vivesse o "primeiro dia de militância". "Nem todo mundo pode retornar para casa de cabeça erguida", disse.
Palanque
Como se estivesse em um palanque de campanha, o ex-presidente fez um balanço do mandato e ressaltou que fez em oito anos o que parecia ser impossível, "para a desgraça de seus adversários". "Eu tentei provar para eles que eu era o governante mais competente deste País", provocou. Entre as realizações, Lula citou a criação de 15 milhões de empregos, o surgimento da nova classe média, a superação da crise financeira internacional de 2008 e a posição de destaque do Brasil na política internacional, o qual, segundo ele, "deixou de ser um País de banana para ser um País chique".
Entre risos e aplausos da plateia, Lula afirmou que se sentia orgulhoso por fazer uma política que não era subserviente. "Ninguém deles (presidentes de outros países) trabalhou como eu trabalhei. Eu conheço a língua de quem produz o mundo", disse, ao comentar o sentimento diante de líderes mundiais que dominavam a língua inglesa, ao contrário dele. O ex-presidente acentuou que a administração de Dilma é a continuidade do governo de inclusão social dele e reclamou do "namorico" da imprensa com a presidente.
Para Lula, os constantes elogios a ela são tentativas de provocar divergências entre ele e Dilma. "O dia que tiver divergência, ela está certa", acrescentou. Além do ex-presidente, participaram do evento da CUT os ex-ministros da Secretaria-Geral da Presidência Luiz Dulci e dos Direitos Humanos Paulo Vannuchi. Lula, que é presidente de honra da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, ganhou dos líderes sindicais um tablet e uma foto emoldurada em que aparece carregado pelos trabalhadores na década de 80.