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Luisa Ortega, a procuradora chavista que se rebelou contra Maduro

A advogada confrontou Maduro diretamente ao rejeitar a Assembleia Constituinte que propõe para modificar a Carta Magna da Venezuela de 1999

Luisa Ortega: a procuradora se tornou uma dura adversária de Maduro (Marco Bello/Reuters)

Luisa Ortega: a procuradora se tornou uma dura adversária de Maduro (Marco Bello/Reuters)

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AFP

Publicado em 20 de junho de 2017 às 22h03.

Disciplinada e firme de caráter, a procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega, a quem o Supremo Tribunal autorizou julgar, é uma chavista histórica que protagonizou polêmicas acusações contra a oposição e hoje se tornou uma dura adversária do presidente Nicolás Maduro.

Esta advogada de 59 anos, acusada de supostas "faltas graves" no cargo, denunciou a "ruptura da ordem constitucional" por parte do governo do presidente Nicolás Maduro.

Loira, de olhos claros e sempre de óculos, Ortega também dirigiu suas críticas contra o Poder Eleitoral e os militares, considerados pilares do governo Maduro junto ao Supremo.

Ortega confrontou Maduro diretamente ao rejeitar a Assembleia Constituinte que propõe para modificar a Carta Magna de 1999, promovida pelo então presidente, Hugo Chávez (falecido em 2013), ao considerar que ela viola a democracia.

O deputado chavista Germán Ferrer, com quem é casada há 18 anos, a descreve como uma "pessoa muito disposta, valente e honesta".

"Enfrentaria qualquer coisa para defender seus valores. Ela é a fiadora da legalidade no país, está cumprindo com seu dever", disse à AFP.

A reação governista à rebelião de Ortega foi tal que o deputado Pedro Carreño pediu ao Supremo sua destituição por "insanidade mental", o congelamento de seus bens e a proibição de sair do país.

O divórcio

Segundo Ferrer, sua esposa começou a se desencantar com o governo Maduro a partir de 2016, por discordar da prisão de alguns líderes opositores.

Este distanciamento ficou claro quando o Supremo emitiu, no final de março, uma decisão que retirava as prerrogativas do Parlamento, dominado pela oposição, o que Ortega qualificou de "ruptura da ordem constitucional".

Desde então, o abismo só aumentou: Ortega pediu a anulação da Constituinte, julgamento de alguns juízes do Supremo e também criticou a "repressão" dos órgãos de segurança aos protestos deflagrados em 1º de abril para exigir a saída de Maduro.

Chamada de "traidora" pelos chavistas, Ortega, a quem Maduro agora qualifica de "líder da oposição", sempre militou na esquerda, sendo ligada a Chávez desde a campanha presidencial de 1998, quando trabalhava como advogada no estado de Aragua (norte).

Ortega foi nomeada procuradora para Caracas em 2002, e em 2007, com o aval de Chávez, assumiu a procuradoria-geral para um período de sete anos, sendo reeleita em 2014 pelo Parlamento, então controlado pelo chavismo.

Apesar de o atual mandato de Ortega prosseguir até 2021, funcionários do governo já marcaram a data de sua destituição: 30 de julho, quando se elegerá a Assembleia Constituinte, um "suprapoder" controlado pelos chavistas.

"Sagaz e com faro político"

Ortega é lembrada por denunciar os policiais que a Justiça condenou por participação no golpe de Estado contra Chávez em 2002, e também por promover a condenação, a quase 14 anos de prisão, do líder opositor Leopoldo López em 2014, acusado de incitar à violência nos protestos contra Maduro que deixaram 43 mortos.

O cientista político Nicmer Evans, chavista crítico de Maduro, considera que o papel de Ortega será essencial para "reinstitucionalizar o país". "Representa o chavismo digno, democrático, diante das pretensões totalitárias do madurismo".

Analistas como Félix Seijas consideram que Ortega pode ser a "ponte" entre o chavismo crítico e aoposição.

Um jornalista que a conhece há dez anos garante que Ortega "é muito sagaz e tem grande faro político".

Ortega não tem filhos, mas denuncia ameaças contra familiares e responsabilizou o governo por qualquer coisa que possa lhe ocorrer.

"Até meu último suspiro defenderei a Constituição", prometeu Ortega na segunda-feira em um discurso com tom político para um grupo de funcionários da Procuradoria que saiu às ruas para apoiá-la.

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