Policiais de Nova York conferem a identidade de pessoas: "tráfico de seres humanos é um dos maiores problemas da atualidade", disse secretário da Interpol (John Moore/AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de outubro de 2013 às 13h43.
Cartagena - O lucrativo negócio do tráfico de pessoas, que, em maior ou menor medida, afeta todos os países, é um dos crimes que mais preocupam a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), sendo um dos desafios cujo combate é uma das prioridades da organização.
"O tráfico de seres humanos é um dos maiores problemas da atualidade", declarou à AFP o secretário-geral da Interpol, Ronald Noble, durante a 82ª Assembleia Geral da organização, que vai até quinta-feira, na cidade colombiana de Cartagena.
Outros especialistas da Interpol também afirmaram que este crime representa um negócio bastante lucrativo para aqueles que enganam e exploram as vítimas, sejam para o trabalho ou para atividades sexuais.
O tráfico de seres humanos "é um negócio que está associado a outros crimes", como lavagem de dinheiro e tráfico de drogas, explicou o chefe do escritório regional da Interpol para a América do Sul, Rafael Peña.
Mick Moran, chefe da unidade da Interpol para o narcotráfico e o abuso infantil, disse que a atividade "é um grande negócio, já que alguém pode explorar outras pessoas e usá-las para gerar muito dinheiro", ao subtemê-las a trabalho forçado.
"Em todos os países há tráfico de seres humanos: enquanto alguns são fornecedores de vítimas – obviamente os mais pobres –, alguns são zonas de trânsito e outros são o destino dessas pessoas", explicou.
Há alguns dias, veio a público o caso de uma misteriosa menina loura de cerca de cinco anos, achada em 16 de outubro deste ano em um acampamento de ciganos da Grécia com um homem e uma mulher que não são seus pais. O casal foi preso na segunda-feira sob a acusação de sequestro.
No entanto, o chefe da unidade de tráfico de pessoas da Interpol informou que não existe uma situação global de "comércio maciço" de crianças e que, no caso de menores de idade, o principal problema está na captação de jovens entre 16 e 18 anos para atividades sexuais.
A Interpol tem colaborado com as autoridades gregas para localizar os familiares da menina - que diz se chamar Maria - através da análise do seu DNA e tenta esclarecer o caso, que provocou milhares de ligações e e-mails de supostos parentes de crianças desaparecidas, dentro e fora da Grécia.
"É comovente ver essa menina, sem saber se ela foi tirada de seus pais, com ou sem o seu consentimento, onde vivia e como chegou ao lugar em que foi encontrada. Essa é a nossa preocupação", disse Noble à AFP.
Os representantes da Interpol deixaram claro, porém, que a investigação do caso está apenas começando na Grécia e que ainda é impossível concluir se Maria foi vítima do tráfico de menores.
A Interpol tem realizado grandes esforços contra o tráfico humano e o abuso infantil. "Nos últimos três anos, foi dado um forte impulso à luta contra o tráfico humano, o abuso infantil e os crimes cibernéticos", declarou Peña a respeito do trabalho da organização na América do Sul.
Em 2012 foi realizada na região a operação Spartacus, que conseguiu libertar 357 vitimas do tráfico, das quais 186 foram submetidas à exploração sexual, sendo 41% menores de idade.
Apesar de dispor de alguns dados e estimativas, Moran explicou que "é muito difícil ter números exatos sobre este tipo de crimes". "Geralmente, o que vemos é apenas a ponta do iceberg e não o que está embaixo", disse o responsável, que também destacou a importância de treinar agentes para buscar e reconhecer casos de tráfico de pessoas.
A Polícia Nacional da Colômbia calcula em 21 milhões o número de "escravos modernos" e em 32 bilhões de dólares o montante de dinheiro gerado por este crime anualmente em todo o mundo, de acordo com dados divulgados na 82ª Assembleia da Interpol.
A Colômbia, que é reconhecida como um país de origem de vítimas do tráfico, já prendeu este ano 564 pessoas por estarem ligadas a atividades relacionadas a este crime.