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Ligo para a Pfizer "cinco vezes por dia", diz Netanyahu em Davos

Em participação no Fórum Econômico Mundial, premiê de Israel falou sobre a estratégia de vacinação no país, que vacinou mais de 30% da população

Netanyahu: "Acredito que você precisa de liderança pessoal aqui. É como checar as munições em uma guerra", disse sobre as negociações para a vacinação (Menahem Kahana/Pool/Reuters)

Netanyahu: "Acredito que você precisa de liderança pessoal aqui. É como checar as munições em uma guerra", disse sobre as negociações para a vacinação (Menahem Kahana/Pool/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 12h41.

Última atualização em 27 de janeiro de 2021 às 18h53.

As réguas para medir o sucesso de governantes ao redor do mundo tiveram alguns "ajustes" na crise da covid-19: ficou com a imagem fortalecida quem conseguiu controlar melhor os casos, prevenir lotação de UTIs e, mais recentemente, quem melhor acelerou o processo de vacinação. Por essa nova óptica, um dos líderes com mais capital político recente se tornou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

No terceiro dia do Fórum Econômico Mundial, em Davos, Netanyahu foi convidado a falar nesta quarta-feira, 27, sobre o cenário político em Israel e, sobretudo, sobre o sucesso na campanha de vacinação do país, que tem um terço da população vacinada.

O premiê disse acreditar que parte do sucesso de Israel com as vacinas é porque o país "comprou muito, e rápido", evitando que os preços das doses subissem mais nos meses a seguir. Enquanto falava em Davos, o premiê disse que estava até há pouco ao telefone com o presidente da Pfizer, Albert Bourla, de quem se disse amigo em entrevistas anteriores.

"Eu não ligo para eles tanto... só cinco vezes por dia", brincou, sobre o contato com a Pfizer. Perguntado se era verdade que esteve ao telefone "70 vezes" com o presidente da Pfizer, Netanyahu corrigiu. "Foram 21 vezes, não 70..."

O premiê disse que também está pessoalmente em contato com os representantes da Moderna e de outras empresas. Também tem participado do processo de negociação o ministro da Saúde, Yuli Edelstein. "Acredito que você precisa de liderança pessoal aqui. É como checar as munições em uma guerra", disse Netanyahu. 

Além da vacina de Pfizer/BioNTech, que tem sido usada em Israel até agora, doses da vacina da Moderna chegarão ao país em março e há entregas previstas para as próximas semanas da vacina de AstraZeneca/Oxford.

Israel é disparado o país com mais doses da vacina da covid-19 aplicadas per capita. Segundo contagem da Bloomberg com base em dados oficiais, o país aplicou 45 doses a cada 100 habitantes -- o que, se fosse dada apenas uma dose a todos, seria o equivalente a quase metade da população do país, que tem na casa dos 9 milhões de habitantes.

Como já há israelenses que tomaram as duas doses necessárias da vacina, na prática, 30% da população foi vacinada com ao menos uma dose.

O Brasil, que beira a casa dos 1 milhão de vacinados, segundo estimativas (o Ministério da Saúde ainda não divulga um número oficial), tem menos de 0,3% da população vacinada, usando as vacinas da Sinovac e da AstraZeneca/Oxford. O governo brasileiro tem sido criticado por não ter concretizado um acordo de 70 milhões de doses com a Pfizer.

Na fala em Davos, Netanyahu disse que Israel vacinou até agora 82% da população com 60 anos ou mais. "Queremos chegar a 95%", disse.

Israel se tornou um laboratório mundial, nas palavras de Netanyahu, para testar "de forma segura" a imunidade de rebanho com a vacina. O país tem compartilhado com a Pfizer seus registros de saúde para entender a eficácia e avanços em tempo real. "Demos à Pfizer o argumento de que eles poderiam se beneficiar com os dados que produzimos", disse o primeiro-ministro.

Ao falar sobre a preocupação com as mutações do coronavírus, Netanyahu usou novamente as metáforas com guerras para dizer que o mundo está numa espécie de "corrida armamentista". "Tirando que não é uma corrida armamentista, é uma corrida entre a vacinação e a mutação", disse, citando especialmente a cepa surgida no Reino Unido -- desde então, países como África do Sul e o Brasil também registraram novas cepas do vírus.

"Há mais mutações [agora] e haverá mais mutações no futuro. Isso significa que temos que correr o mais rápido possível para vacinar", disse. "E a partir daí esperar que as empresas fazendo as vacinas agora as modifiquem para acomodar as mutações à medidas que elas se desenvolvem. Essa será nossa vida nos próximos anos. Não acho que podemos evitar isso, mas podemos superar."

Depois de Israel, o segundo país na lista de mais imunizados são os Emirados Árabes Unidos (que aplicou 25 doses a cada 100 habitantes, mas sem informações sobre quem tomou uma ou duas doses).

Na sequência vem o Reino Unido, primeiro país a começar a vacinar com a vacina da Pfizer no mundo e que tem cerca de 10% da população tendo tomado ao menos uma dose. Em quarto estão os EUA, com cerca de 7% da população vacinada e o país que mais vacinou até agora em números absolutos (com 24 milhões de doses aplicadas).

A campanha de vacinação em Israel começou em 19 de dezembro, estreando com o próprio Netanyahu vacinado. “Seremos o primeiro país do mundo a sair do coronavírus”, disse na ocasião. A prioridade foi dada inicialmente a pessoas com mais de 60 anos, a profissionais de saúde e a qualquer pessoa clinicamente vulnerável. Agora, as vacinas já estão disponíveis para qualquer cidadão com mais de 40 anos ou para jovens com 16 a 18 anos que recebem autorização dos pais.

Os números de vacinados não incluem as 5 milhões de pessoas em territórios palestinos ocupados, o que tem gerado críticas.

Relações diplomáticas

Os debates sobre a vacina em Israel acontecem em um momento político atribulado no país. Netanyahu está em vias de disputar a quarta eleição em dois anos em meio à maioria frágil do governo no Parlamento israelense. Pelo sistema parlamentarista, quando um governo não consegue formar coalizão majoritária, novas eleições são convocadas ou há uma troca de liderança.

A próxima eleição em Israel está marcada para 23 de março. Netanyahu vinha sendo questionado após acusações de corrupção e algum desejo por mudança em parte da população -- o premiê e seu partido conservador, o Likud, estão no poder desde 2009. Mas o sucesso na corrida pela vacinação pode trazer energia extra à campanha de "Bibi", como Netanyahu é conhecido.

A coalizão liderada pelo premiê tem no momento votos para cerca de 30 das 120 cadeiras do Parlamento, segundo as pesquisas de opinião (menos que as 36 que possui na atual legislatura mas mais do que em pesquisas anteriores, mostrando um avanço na intenção de voto).

Além da vacina, Netanyahu também falou em Davos sobre o cenário da política internacional em Israel. Nos últimos meses, o país tem feito uma série de novos acordos com vizinhos árabes, intermediados pelo então governo de Donald Trump nos EUA. No ano passado, foram feitos acordos com Sudão, Emirados Árabes e Bahrein. Neste mês, Israel também anunciou a histórica abertura de uma embaixada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.

Até esses acordos recentes, Israel só tinha relações diplomáticas com dois países vizinhos: o Egito (desde 1979) e a Jordânia (desde 1994).

 

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