Oswiecim - Líderes mundiais se juntaram a cerca de 300 sobreviventes de Auschwitz no local do antigo campo de concentração nazista nesta terça-feira para marcar os 70 anos passados desde sua libertação graças às tropas soviéticas, uma data eclipsada pela guerra na Ucrânia e pelo aumento do antissemitismo na Europa.
A reunião desta terça-feira no sul da Polônia pode sinalizar o último grande aniversário ao qual os remanescentes do campo poderão comparecer em grande número, dado que o mais jovem deles está na casa dos 70 anos. Cerca de 1.500 deles compareceram ao 60º ano da libertação.
Em torno de 1,5 milhão de pessoas, sobretudo judeus europeus, foram mortos com gás, fuzilados, enforcados e incinerados no campo durante a Segunda Guerra Mundial antes de o Exército Vermelho derrubar seus portões no inverno de 1945. O local provavelmente é o símbolo mais pungente do Holocausto, que eliminou 6 milhões de judeus em toda a Europa.
David Wisnia, um sobrevivente de 88 anos, declarou na segunda-feira que o Holocausto foi algo “quase impossível para uma mente humana compreender”.
Os presidentes de Polônia, Alemanha e França estavam entre as centenas que compareceram à cerimônia em uma tenda gigantesca armada sobre a entrada de tijolos do campo Auschwitz II-Birkenau, parte do complexo que hoje abriga um museu.
O líder francês, François Hollande, fez a viagem menos de três semanas depois que islâmicos mataram 17 pessoas em Paris em ataques ao semanário satírico Charlie Hebdo e a um supermercado judeu.
Quatro judeus franceses estavam entre os mortos, as vítimas mais recentes do surto atual de atentados contra judeus na Europa.
Mais cedo, quando discursou no memorial Shoah de Paris, dedicado aos judeus franceses mortos em Auschwitz e em outras partes durante a guerra, Hollande se dirigiu à comunidade judia de 550 mil pessoas de seu país.
“Vocês, franceses de fé judaica, seu lugar é aqui, em seu lar. A França é seu país”, disse.
Em um comunicado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que os ataques na capital francesa foram “um lembrete doloroso de nossa obrigação de rejeitar e combater o antissemitismo crescente em todas as suas formas, incluindo a negação ou a banalização do Holocausto”.
Os judeus europeus vêm alertando para o ressurgimento do preconceito contra eles, alimentado pela revolta com a política de Israel no Oriente Médio e pelas tensões sociais em torno de temas como imigração, desigualdade e crise econômica, que contribuíram para uma onda de movimentos de extrema direita, como alemão Patriotas Europeus Contra a Islamização do Ocidente (Pegida). A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que seu país tem uma responsabilidade perene de lutar contra toda as manifestações de antissemitismo e racismo.
“Temos que expor aqueles que incentivam preconceitos e evocam bichos-papões, tanto os antigos quanto os novos”, afirmou ela na véspera do aniversário. Notável por sua ausência foi o presidente russo, Vladimir Putin, cujo apoio aos rebeldes ucranianos pró-Moscou levou as relações entre o Ocidente e a Rússia a seu pior momento desde a Guerra Fria. Seu chefe de gabinete, Sergei Ivanov, o representou.
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1. Memória
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1/11 (Ian Gavan/Getty Images)
São Paulo – O mundo comemora nesta terça-feira os 70 anos da chegada das tropas soviéticas ao complexo de campos de concentração e extermínio Auschwitz-Birkenau e a consequente libertação dos últimos prisioneiros do local no dia 27 de janeiro de 1945. Ao todo, estima a fundação Auschwitz Museum, 50 mil pessoas foram levadas para outros campos dias antes da tomada do complexo pelo exército vermelho, que conseguiu resgatar sete mil com vida. Segundo a entidade, 1,5 milhão de prisioneiros (homens, mulheres, crianças e idosos) foram executados ao longo dos cinco anos de funcionamento de Auschwitz-Birkenau. Atualmente, apenas 300 sobreviventes que testemunharam os horrores daquele local estão vivos e a judia Miriam Ziegler, 79 anos, faz parte deste grupo. Em 1940, ela fugiu da cidade de Radom (
Polônia) com sua família, que acabou separada por um tempo. Escondida na fazenda de um conhecido, contou ela ao canal canadense
CTV News, assumiu o papel de sobrinha daquele homem, pois tinha medo que os oficiais alemães descobrissem a sua verdadeira identidade. Reencontrou a família logo depois e, aos 8 anos, foi enviada com eles para Auschwitz. A partir daquele momento, sua memória passou a falhar, ou talvez tenha ficado mais seletiva. Recorda-se de que foi levada para um local cheio de crianças, onde encontrou primos e fez amigos. Era nestas pessoas que os oficiais do complexo realizavam experimentos médicos. “Algumas voltavam, outras não”, relatou ela. “Uma vez estive entre as escolhidas e lembro apenas de ter sido levada de volta ao dormitório com dores nas pernas e no quadril.” Miriam foi uma das pessoas libertadas pelos soviéticos e viveu em orfanatos até ir para o Canadá, onde se estabeleceu. Reencontrou sua mãe anos depois e se casou com outro judeu que, como ela, viveu a dor do holocausto. “Tive a sorte de sobreviver”, finalizou. Nas imagens, conheça outros ex-prisioneiros de Auschwitz que ainda estão vivos para contar as suas histórias.
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2. Sam Pivinik
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2/11 (Christopher Furlong/Getty Images)
Pivinik nasceu na Polônia em 1º de setembro de 1926 e, em 1939, na época de seu aniversário, as tropas nazistas atacaram o país. “Nunca celebrei meu aniversário”, contou ele ao jornalista Adrian Weale, que produziu um documentário sobre sua história. “O que deveria fazer com a data? Nada. Então deixei pra lá”, lamentou. Sua família desembarcou no complexo em agosto de 1943 e logo seus pais e irmãos foram mortos. Pivinik passou seis meses preso até ser levado para trabalhar no descarregamento dos trens que chegavam ao complexo. Ele conta que todos os prisioneiros andavam sempre com a cabeça baixa, encarando o chão. “Esperávamos o momento em que eles (os aliados) viriam nos resgatar e questionávamos onde estava Deus e o porquê de ele não ter tempo para nos salvar.”
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3. Rose Schindler
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3/11 (Sean Gallup/Getty Images)
Rose passou quatro meses em Auschwitz-Birkenau quando tinha apenas 14 anos de idade. Segundo relatado por ela ao jornal americano
UT San Diego, era uma forte candidata a ser enviada para câmara de gás, pois era considerada “magra demais” para a rotina de trabalho forçado no campo. Um dia, conseguiu se infiltrar em um caminhão que levava outros prisioneiros até uma fábrica no qual eram feitas máscaras de gás e uniformes das tropas nazistas. Ficou no local até o fim da 2ª Guerra Mundial e vive nos Estados Unidos desde 1951.
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4. Johnny Pekats
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4/11 (Sean Gallup/Getty Images)
Pekats chegou ao complexo em 1943. Estava acompanhado de seus irmãos e de sua mãe, que carregava ainda sua irmã caçula nos braços. Os oficiais tentaram separar as duas sem sucesso, até que as levaram embora, marcando a última vez que ele as viu. O jornal
Washignton Post acompanhou a chegada de Pekats, que vive nos EUA, ao complexo nesta terça-feira e esta foi a primeira vez que ele retornou ao local. “Meu Deus, meu Deus!”, disse ao adentrar os portões ainda tentando controlar as lágrimas, “foi aqui que elas morreram, foi aqui que eles as tiraram de nós. Eu consigo ver tudo”, exclamou.
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5. Susan Pollock
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5/11 (Christopher Furlong/Getty Images)
A húngara Susan hoje tem 84 anos de idade e vive em Londres. Segundo ela, quando chegaram ao complexo, sua mãe foi imediatamente direcionada para as câmaras de gás, enquanto que ela foi submetida ao trabalho forçado. Um dia, ela e um grupo de prisioneiros foram levadas da Polônia para a Alemanha por guardas. Caminharam dia e noite em pleno inverno até chegarem a outro campo de concentração chamado Belsen. Susan foi libertada por tropas britânicas em 15 de abril de 1945.
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6. Jack Rosenthal
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6/11 (Sean Gallup/Getty Images)
Rosenthal nasceu na Hungria e hoje vive nos Estados Unidos. Uma de suas memórias mais vivas do tempo que passou em Auschwitz-Birkenau é do momento em que chegou ao local: “se você passar deste ponto, será morto”, dizia uma frase pintada próxima ao portão de entrada, na contramão do fluxo de pessoas. “Em seguida, alguém se virou para mim e disse que ninguém sairia de lá com vida”, contou à rede de notícias americana
NBC. “Considero um verdadeiro feito o fato de eu ter conseguido”, lembrou.
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7. Edith Baneth
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7/11 (Christopher Furlong/Getty Images)
Edith nasceu em 1926 na então Tchecoslováquia e passou três dias em um trem até chegar ao complexo Auschwitz-Birkenau. Estava em um vagão com dezenas de pessoas e apenas um balde para as necessidades fisiológicas. Segundo ela, em relato ao jornal britânico
The Daily Mail, ninguém sabia o que iria acontecer. Contudo, no momento em que desembarcaram, ao ouvir os gritos dos guardas e ao ver o que descreveu como sendo “uma montanha de cadáveres”, ela soube exatamente onde estava. Edith
viveu em outros sete campos até ser libertada em Belsen, na Alemanha, por tropas britânicas em 1945. Hoje ela vive em Londres.
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8. Josef Pearl
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8/11 (Christopher Furlong/Getty Images)
Na primavera de 1940, no meio da noite, oficiais alemães e húngaros invadiram a casa da família de Pearl. Todos foram levados até a estação de trem e eram pressionados a entrar o mais rápido possível. Aqueles que tinham dificuldades para se locomover eram espancados ou alvejados. A viagem até Auschwitz-Birkenau durou dois dias. “Quando as portas finalmente se abriram, mortos e vivos caíram para fora do trem. Os sobreviventes foram levados para uma tenda, enquanto os que morreram eram pisoteados”, relatou Pearl.
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9. Susan Kluger
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9/11 (Christopher Furlong/Getty Images)
Susan foi levada ao complexo em 1944 com sua mãe Helen e a irmã Lilian. Logo na chegada, foram separadas: ela foi levada aos campos de trabalho forçado, enquanto que sua mãe e irmã foram executadas nas câmaras de gás. “Quando você passa pelo inferno e sobrevive, nada mais importa que ser feliz”, contou ela ao jornal britânico
The Daily Mail.
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10. Alexander Riseman
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10/11 (Alexander Riseman)
Nascido na Polônia em 1926, Riseman esteve em dois diferentes campos de concentração até chegar em Auschwitz com sua família. Ficou no local até ser finalmente libertado em 1945 pelas tropas soviéticas.
Segundo ele, durante todo o tempo em que passou preso, não conseguiu rezar sequer um dia. Hoje ele vive em Londres.
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11. Agora veja imagens do campo de concentração e extermínio Auschwitz
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11/11 (Christopher Furlong/Getty Images)