Reunião do G7 no Canadá (Yves Herman/Reuters)
EFE
Publicado em 10 de junho de 2018 às 17h57.
Québec (Canadá) - Os líderes dos demais países do G7 decidiram ignorar as reações exaltadas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no Twitter, que retirou seu apoio ao comunicado da Cúpula do G7 horas depois do fim da reunião, uma atitude que poderia se repetir no futuro.
Um porta-voz do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, declarou que o governo canadense está concentrado "em tudo o que foi conquistado na cúpula. O primeiro-ministro não disse nada que não tenha dito antes, tanto em público como em conversas privadas com o presidente".
A declaração do escritório do premiê canadense evita responder diretamente aos tweets furiosos que Trump enviou do avião presidencial Air Force One, quando estava a caminho de Cingapura para se reunir com o líder norte-coreano Kim Jong-un, horas depois do fim da Cúpula do G7 em La Malbaie, no Canadá.
Em dois tweets, Trump acusou Trudeau de pronunciar falsidades durante a entrevista coletiva final da reunião, insultou o primeiro-ministro canadense, tachando-o de "submisso", "desonesto" e "fraco" durante a cúpula, e ameaçou com a imposição de tarifas às exportações canadenses de automóveis.
Trump, além disso, ordenou a seus funcionários que "retirassem" o apoio dos EUA ao comunicado final, mesmo depois que o documento já tinha sido assinado por todas as delegações dos países do G7.
Hoje, muitos dos outros países do G7 reafirmaram seu apoio à validade do comunicado final e ignoraram as reações de Trump, como já tinham feito na cúpula quando ele propôs a readmissão da Rússia no grupo das nações mais industrializadas do mundo.
A França foi um dos países que mais claramente afirmou que tentar retirar o apoio do comunicado final do G7 horas depois de sua assinatura não era uma atitude "séria".
Precisamente, foi o presidente francês Emmanuel Macron que, 24 horas antes do início oficial da cúpula no Canadá, afirmou que a melhor forma de lidar com a inconsistência e a arbitrariedade de Trump era ignorá-lo.
Na quinta-feira, durante uma entrevista coletiva com Trudeau em Ottawa, o presidente francês disse, referindo-se a Trump, que nenhum líder "vive para sempre", indicando que sua estadia na Casa Branca terminará e as relações entre os Estados Unidos e seus aliados voltarão à normalidade.
Ontem, o senador republicano John McCain deixou claro através do Twitter que a presidência de Trump é uma anomalia que não reflete as verdadeiras vontades políticas dos Estados Unidos e que o G7 conta com o apoio da maioria dos americanos.
"A nossos aliados: as maiorias bipartidárias dos americanos continuam sendo favoráveis ao livre-comércio, à globalização e apoiam as alianças baseadas em 70 anos de valores comuns. Vocês têm o apoio dos americanos mesmo que nosso presidente não o faça", disse McCain.
Na quinta-feira, a ministra das Relações Exteriores do Canadá, Chrystia Freeland, evitou responder diretamente à questão de se a melhor estratégia dos aliados e sócios dos Estados Unidos é seguir a sugestão de Macron e resistir às dificuldades impostas pela presidência de Trump.
Ao ser questionada pela Agência Efe, Freeland declarou que seu trabalho "não é escolher os líderes de nenhum país, mas trabalhar com eles", especialmente os de seus "aliados democráticos".
"Fazemos isso da melhor maneira possível. Sobre os Estados Unidos, a relação é particularmente próxima e Trudeau frequentemente disse que não há papel mais importante para um primeiro-ministro do Canadá do que ter uma relação efetiva com os Estados Unidos", acrescentou Freeland.
Até mesmo o diretor do Conselheiro Econômico Nacional (NEC, na sigla em inglês) do governo Trump, Larry Kudlow, sugeriu hoje, de certa maneira, que é preciso ignorar os dois tweets do presidente renegando a Cúpula do G7 e atacando Trudeau.
Kudlow comentou hoje em entrevista à emissora "CNN" que o ataque de Trump era mais uma declaração que serviu como uma demonstração de força, já que o presidente americano se reunirá em breve com o líder da Coreia do Norte Kim Jong-un.
"(Trump) não vai permitir que um primeiro-ministro canadense o subjugue. Não vai permitir uma demonstração de fraqueza quando está prestes a negociar com a Coreia do Norte", explicou Kudlow.