Combatente talibã monta guarda perto do local do atentado do Estado Islâmico no aeroporto de Cabul (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 29 de agosto de 2021 às 19h23.
Desde que tomaram o poder no Afeganistão, em 15 de agosto, muitos dissidentes talibãs apareceram em público em Cabul, mas do líder supremo do movimento fundamentalista, Hibatullah Akhundzada, só neste domingo (29) se soube que está em Kandahar.
"Posso contar que está em Kandahar. Tem estado (lá) desde o começo", disse o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid.
"Aparecerá em público em breve", destacou neste domingo o porta-voz adjunto, Bilal Karimi.
Mulá especializado em questões religiosas e judiciais, o nome de Akhundzada começou a ser ouvido em maio de 2016, quando substituiu à frente dos talibãs o Mulá Mansur, morto em um ataque americano com drones no Paquistão.
Seu primeiro objetivo era unir o movimento fundamentalista, dividido por lutas internas e a descoberta de que a morte de seu fundador, o mulá Omar, tinha sido ocultada durante anos.
Hibatullah Akhundzada só se manifesta durante as festas islâmicas. Para muitos analistas, seu papel é mais simbólico do que operacional.
Os talibãs só divulgaram uma foto dele.
Filho de um teólogo, originário de Kandahar, território pashtum e berço dos talibãs, Akhundzada desfrutava, antes de sua nomeação, de grande influência no movimento, e chegou a dirigir seu sistema judicial.
Desde que retomaram o poder do Afeganistão, após terem sido expulsos há 20 anos por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, os talibãs não tinham informado sobre seus deslocamentos e atividades.
"Se Deus quiser, o verão em breve", assegurou nesta semana à imprensa o principal porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid.
Os líderes das diferentes facções talibãs têm se mostrado publicamente em Cabul estes dias.
Tradicionalmente, os talibãs deixam seu líder supremo nas sombras. O fundador do grupo, mulá Omar, levava uma vida de asceta e apenas foi visto na capital afegã durante o anterior período de governo do grupo, nos anos 1990.
Omar vivia escondido em sua casa em Kandahar e era muito reticente a receber lideranças em sua casa. Mas suas palavras eram consideradas sagradas, um respeito que nenhum de seus sucessores conseguiu.
Para Laurel Miller, que dirige o programa Ásia do International Crisis Group, Hibatullah Akhundzada "parece ter adotado um modo de vida similar de ermitão".
Esta discrição poderia responder também a um tema de segurança para evitar um final similar ao de seu antecessor, Mansur, avalia esta especialista.
O movimento Talibã, composto por várias facções originárias de diferentes partes do Afeganistão e representantes de grupos com aspirações diferentes, sofreu pelo menos uma cisão importante em 2015, quando soube-se da notícia da morte do mulá Omar.
Após 20 anos de guerrilha, os fundamentalistas terão que manter o equilíbrio entre as diferentes facções, com interesses às vezes desencontrados, em sua volta ao poder.
O vácuo do poder poderia desestabilizar um movimento que, sob Hibatullah Akhundzada, pôde manter sua coesão apesar da guerra, da morte de milhares de seus combatentes, do assassinato ou do envio para a prisão de Guantánamo de alguns de seus principais dirigentes.
Para outros analistas, o líder talibã espera simplesmente a retirada definitiva dos americanos, em 31 de agosto, para se mostrar publicamente.
"Os talibãs pensam que estão na jihad", enquanto houver forças estrangeiras em território afegão, comenta Imtiaz Gul, analista de temas de segurança paquistaneses.