Irã: Esta foi a primeira vez, desde 2012, que Ali Khamenei dirigiu a grande oração muçulmana semanal (Official Khamenei website/Reuters)
AFP
Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 10h58.
Última atualização em 17 de janeiro de 2020 às 11h03.
O guia supremo do Irã, Ali Khamenei, manteve nesta sexta-feira (17) uma posição firme contra os ocidentais e deu a entender que os protestos contra o poder após um desastre aéreo não eram representativos do povo como um todo.
Palavra final nos principais assuntos da República Islâmica, o aiatolá Khamenei falou durante a grande oração muçulmana semanal na mesquita Mosalla de Teerã. Esta foi a primeira vez, desde 2012, que ele a dirigiu.
O sermão de Khamenei foi entremeado por palavras de ordem de "Morte à América" e "Morte a Israel", entoadas pela multidão presente na mesquita e em seus arredores, de acordo com imagens da televisão estatal.
No início deste mês, Estados Unidos e Irã chegaram à beira do confronto militar direto.
Em 3 de janeiro, os Estados Unidos mataram em Bagdá, em um ataque com drone, o general iraniano Qassem Soleimani, chefe da Guarda Revolucionária, exército ideológico do Irã. Soleimani era reconhecido como o arquiteto da estratégia de influência regional do Irã.
Cinco dias depois, em 8 de janeiro, o Irã disparou mísseis contra duas bases usadas pelos Estados Unidos no Iraque, ferindo 11 soldados americanos. No mesmo dia, o Irã derrubou "por engano" um Boeing da Ukrainian International Airlines (UIA) alguns minutos depois da decolagem em Teerã. O desastre deixou 176 mortos, a maioria iranianos e canadenses.
Esta catástrofe é um "acidente amargo" que "queimou nossos corações", disse Ali Khamenei. "Mas alguns tentaram (usá-lo) como forma para fazer (esquecer) o grande martírio e o sacrifício" de Soleimani.
O aiatolá se referiu assim às manifestações contra as autoridades, que ocorrem desde sábado em Teerã e em outras cidades após o tragédia do avião e o tempo que as forças armadas demoram para reconhecer sua responsabilidade.
Elogiando a ação de Soleimani além das fronteiras do país pela "segurança" da nação iraniana, o aiatolá Khamenei afirmou que o povo iraniano é a favor da "firmeza" e da "resistência" diante dos "inimigos".
Ainda que a tensão entre Estados Unidos e Irã pareça ter diminuído após o desastre aéreo, a tragédia causou indignação no Irã.
Na capital iraniana, um forte esquema de segurança foi estabelecido nesta sexta-feira.
Desde que o Irã reconheceu, no sábado passado (11), seu "erro" na queda da aeronave, manifestações são realizadas todos os dias contra o governo.
Concentrados especialmente em Teerã, os protestos acontecem em uma escala consideravelmente menor do que a onda de protestos nacionais de novembro contra o aumento do preço da gasolina, que terminaram com cerca de 300 mortos na repressão, segundo a Anistia Internacional.
De acordo com imagens postadas nas redes sociais, uma cerimônia na quinta-feira em memória das vítimas do acidente em Isfahan (centro) se transformou em uma manifestação hostil às autoridades.
Foi um general da Guarda Revolucionária que assumiu total responsabilidade pela tragédia e que alegou que tinha sido provocada pelo operador de uma bateria de míssil que confundiu o Boeing com um "míssil de cruzeiro", em pleno alerta de "guerra" das forças iranianas por medo de uma resposta americana.
Nesta sexta, as autoridades anunciaram que "a pedido da população", manifestações em apoio ao "sistema sagrado da República Islâmica" e às Forças Armadas contra "o Grande Satanás (Estados Unidos)" vão acontecer durante todo dia, com exceção de Teerã.
Segundo o Conselho de Coordenação para a Difusão do Islã, os eventos devem ser uma oportunidade para comemorar "os esforços incansáveis das Forças Armadas, em particular da Guarda Revolucionária".
O presidente iraniano, Hassan Rohani, admitiu implicitamente na quinta-feira que havia uma crise de confiança das autoridades e defendeu sua política de abertura.
O aiatolá Khamenei reitera regularmente que os ocidentais não são confiáveis e proibiu qualquer diálogo com o governo Donald Trump.
Com a aproximação das eleições legislativas de 21 de fevereiro, anunciadas como difíceis para Rohani, e em um contexto de tensões crescentes entre Teerã e o Ocidente sobre o programa nuclear iraniano, Rohani também declarou que queria continuar dialogando com o mundo nesta questão.
Washington se retirou em 2018 do acordo nuclear internacional iraniano e restabeleceu as sanções econômicas contra Teerã.