Khamenei: aiatolá busca acalmar os ânimos da população para retomar o apoio antes das eleições (Morteza Nikoubazl/File Photo/Reuters)
Da Redação
Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 06h37.
Última atualização em 17 de janeiro de 2020 às 07h04.
São Paulo — O Irã não vive seus melhores dias. Seu líder religioso e político, aiatolá Ali Khamenei, muito menos. A economia está em frangalhos e deve encolher 8,7% em 2020, segundo projeções do Banco Mundial. Além disso, o país está no centro de uma grave crise internacional.
A tensão é tanta que Khamenei decidiu liderar as orações desta sexta-feira (17), o dia da semana mais importante para os muçulmanos foi a primeira vez em oito anos que ele comandou as cerimônias. A tarefa é geralmente conduzida por terceiros, mas assumida por ele em horas de aperto, como agora.
Não é de hoje que o regime teocrático iraniano se vê envolvido em situações de segurança internacional. Dessa vez, porém, a tentativa de acobertar o abate da aeronave avião civil ucraniano, que matou 176 pessoas de diferentes países (82 iranianos, inclusive), enfureceu a população. E fez levantar o temor de que essa revolta possa resultar em tentativas para derrubar do regime.
Pouco depois de vir à tona a admissão de culpa do governo no episódio, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra a liderança do país. Num país acostumado a esbravejar palavras de ordem contra os Estados Unidos, a fúria dos protestos se virou contra contra Khamenei. “Nosso inimigo está aqui”, gritavam manifestantes. “Peça desculpas e renuncie”, dizia a manchete de um popular jornal local.
Nesta sexta-feira, portanto, o aiatolá assumiu as orações para tentar acalmar os ânimos e buscar o apoio da população, fazendo críticas aos Estados Unidos e a toda a comunidade internacional, que considera como inimigos. O resultado das orações desta sexta poderá ser testado nas eleições legislativas, marcadas para acontecer no dia 21 de fevereiro.
Quando Khamenei fez a oração da sexta-feira pela última vez, em 2012, o país vivia um momento solene e turbulento. Celebrava o aniversário de 33 anos da Revolução Iraniana e sofria pressão internacional sobre o seu programa nuclear. Agora, o futuro do regime parece estar em jogo, e sua maior ameaça não são Estados Unidos, mas a insatisfação popular.