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Líbia proclama sua 'libertação' três dias depois da morte de Kadhafi

O presidente do CNT avisou que a sharia, a lei islâmica, será a lei fundamental do país

Comemoração da libertação da Líbia (AFP/Marco Longari)

Comemoração da libertação da Líbia (AFP/Marco Longari)

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Da Redação

Publicado em 23 de outubro de 2011 às 18h32.

Benghazi - As novas autoridades líbias proclamaram neste domingo diante de milhares de pessoas em Benghazi (leste) a "libertação" da Líbia, abrindo o caminho para a formação de um governo de transição após 42 anos de tirania de Muamar Kadhafi, morto na quinta-feira em Sirte.

"Declaração de libertação. Levantem suas cabeças. São líbios livres", declarou o vice-presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT) e porta-voz das novas autoridades do país, Abdel Hafez Ghoga, durante uma cerimônia celebrada três dias depois da queda de Sirte, último bastião kadhafista, e da morte do ex-líder líbio.

A proclamação deste domingo foi ofuscada pela polêmica em torno da morte de Kadhafi. O número dois do CNT, Mahmud Jibril, assegurou que o coronel tinha sido morto em uma troca de tiros durante a sua transferência para um hospital.

Mas as imagens e vídeos feitos no momento de sua prisão em Sirte sugerem outras hipóteses, entre elas a de uma execução sumária.

Outra autoridade do CNT explicou que o corpo será entregue a seus parentes, que, "de acordo com o CNT", decidirão em que local será sepultado.

Milhares de pessoas, agitando bandeiras nas cores verde, preta e vermelha da nova Líbia, se concentraram na praça central de Benghazi, segunda maior cidade do país, que originou a revolta iniciada em meados de fevereiro contra o regime de Kadhafi, para acompanhar a cerimônia de proclamação.

A cerimônia começou com o novo hino nacional e posteriormente as novas autoridades manifestaram a sua felicidade e orgulho pela libertação do país, interrompendo seus discursos com vibrantes "Ala Akbar" ("Deus é o maior").

Também prestaram homenagem aos combatentes mortos. Familiares daqueles que morreram em combate exibiram fotografias de seus entes queridos.


O presidente do CNT, Mustafá Abdul Jalil, reiterou em seu discurso que a nova Líbia "como país islâmico, adotará a sharia (lei islâmica) como lei fundamental".

O anúncio oficial do fim de oito meses de rebelião armada deve representar o início de um processo político que deve terminar com a convocação de eleições gerais em um período de cerca de 20 meses.

Segundo o mapa do caminho apresentado em setembro, o CNT deve promover a formação de um governo de transição um mês depois, no mais tardar, do anúncio da libertação.

Esse governo deverá organizar dentro de oito meses a eleição de uma Assembleia Nacional que designará um comitê encarregado de redigir uma nova Constituição, e organizará eleições gerais em um prazo máximo de um ano.

No entanto, as várias disputas dentro do CNT podem complicar as negociações para a formação de um governo. A formação enfrenta tensões entre liberais e islamitas, com tensões regionais, rivalidades tribais, ambições individuais e a cobiça pelo controle do petróleo.

Em Washington, o presidente Barack Obama saudou a nova era promissora na Líbia e pediu um "processo de reconciliação nacional" para que o país se torne uma nação segura e democrática.

"Em nome do povo americano, felicito o povo da Líbia neste dia histórico de proclamação da libertação. Após quatro décadas de uma ditadura brutal e oito meses de violento conflito, o povo líbio pode festejar sua liberdade e o começo de uma nova era promissora", ressaltou Obama em uma declaração escrita.

Londres destacou "uma vitória histórica para o povo líbio" e Paris ressaltou "a coragem, a união e a dignidade" dos líbios. O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, assegurou que a determinação dos líbios "inspirou o mundo".


Mas as novas autoridades líbias também precisam enfrentar as críticas pela morte do antigo líder líbio.

O ministro da Defesa britânico, Philip Hammond, considerou neste domingo que a reputação das novas autoridades líbias ficou "um pouco ofuscada" pela morte de Kadhafi.

A viúva de Kadhafi e diversas organizações internacionais, entre elas a ONU com o apoio dos Estados Unidos, pediram uma investigação. O presidente do CNT, Mustafá Abdul Jalil, confirmou no sábado que o CNT já começou a investigar.

Entrevistado no sábado à noite pela rede britânica BBC, Mahmud Jibril se disse "totalmente de acordo" com a abertura de uma investigação internacional.

Desde sexta-feira, os cadáveres de Kadhafi e de seu filho Muatasim (morto também em Sirte) estão expostos em uma câmara frigorífica em Misrata. Milhares de cidadãos já passaram pelos corpos para se certificar de que o "inimigo" está morto.

Um jornalista da AFP constatou que o corpo de Muatasim apresenta costuras pela necropsia à qual foi submetido no sábado, segundo o CNT, mas não há sinal de necropsia no corpo de Kadhafi.

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