Mubarak: a libertação de Mubarak acaba definitivamente com as aspirações nascidas de uma revolução que levou ao país a esperança de um regime mais democrático (Sean Gallup/Getty Images)
AFP
Publicado em 24 de março de 2017 às 21h33.
Última atualização em 24 de março de 2017 às 21h35.
O ex-presidente egípcio Hosni Mubarak foi libertado nesta sexta-feira, enquanto várias figuras importantes da revolução de 2011 na Praça Tahrir permanecem atrás das grades, morreram ou são consideradas desaparecidas.
Farid al-Deeb, advogado do ex-presidente, anunciou a saída de Mubarak do hospital militar do Cairo, onde ele passou boa parte dos seis anos de detenção.
A libertação de Mubarak acaba definitivamente com as aspirações nascidas de uma revolução que levou ao país a esperança de um regime mais democrático, depois de três décadas de governo do 'rais', que dirigiu o Egito com mão de ferro.
Além de Mubarak, o ex-ministro do Interior Habib al-Adly, que simboliza a tortura e os abusos do regime, também foi absolvido das acusações pela morte de manifestantes durante a revolta.
Ao mesmo tempo, Alaa Abdel Fatah e Ahmed Duma, dois dos principais ativistas da revolução, permanecem na prisão.
Depois de destituir o antecessor, o islamita Mohamed Mursi, em 2013, o atual presidente Abdel Fatah al-Sisi, ex-comandante do exército, governa o país com o objetivo de eliminar qualquer sinal de oposição, religiosa ou laica.
Seis anos depois da revolução, os críticos de Al-Sisi o acusam de ter fechado o pequeno espaço democrático aberto em janeiro-fevereiro de 2011.
Mubarak foi julgado em dois grandes casos desde que deixou o poder: o mais grave por incitação ao assassinato durante os 18 dias de revolta em 2011, quando 850 pessoas morreram em confrontos entre a polícia e os manifestantes.
O ex-presidente foi condenado à prisão perpétua em 2012, mas um tribunal de apelação ordenou um novo julgamento dois anos depois, no qual as acusações foram retiradas e a principal instância de apelação do país o absolveu em 2 de março.
Para Adel Ramadan, advogado da organização egípcia de defesa dos direitos humanos Initiative for Personal Rights, Mubarak recebeu um tratamento especial em seu processo.
"Há uma diferença entre a maneira como Mubarak e os símbolos do regime foram tratados e a reservada aos militantes de janeiro de 2011", disse à AFP.
Apesar da libertação de alguns ativistas, muitos deles estão submetidos a um controle judicial estrito.
Ahmed Maher, fundador e porta-voz do movimento 6 de Abril, um grupo muito ativo em 2011, foi libertado em janeiro.
Mas durante três anos ele precisa comparecer à delegacia de seu bairro e dormir no local.
Na semana passada, as autoridades anunciaram o indulto a 203 detentos por casos vinculados à proibição de manifestações, mas nenhum ativista conhecido saiu da prisão.
Entrevistados após o anúncio em 13 de março de que a justiça em breve anunciaria a libertação de Mubarak, vários manifestantes da Primavera Árabe consideraram que a revolução foi "inútil".
"Minha frustração é compartilhada por muitas pessoas pelo que aconteceu no país. Sentem que participaram para nada", disse Ahmed Mohamed, de 29 anos.
Para Osama Mahmud, 28 anos, "a ideia se tornou muito clara e evidente para nós, o exército é o problema. Quanto a Mubarak, não me importo que seja liberado, fique na prisão ou morra".
Após a destituição de Mursi pelo exército, a oposição islamita também foi dizimada.
Em agosto de 2013, quase 700 de seus partidários morreram no Cairo em uma ofensiva dos militares.
O Egito do presidente Al-Sisi enfrenta os mesmos problemas econômicos e de desigualdade que provocaram a revolução em 2011.
O país vive de novo sob um regime autoritário e atravessa uma grave crise econômica.
Em novembro, o governo permitiu o câmbio flutuante para obter um empréstimo de 12 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Como resultado, a inflação disparou e a situação econômica se torno a maior preocupação dos egípcios.
"As condições que levaram à revolução continuam presentes, mas não acredito em uma nova revolta", opina Mostafa Kamel el-Sayed, professor de Ciências Políticas na Universidade do Cairo.
O novo regime é acusado por organizações de defesa dos direitos humanos de multiplicar os desaparecimentos, as detenções arbitrárias e os maus-tratos nas prisões.