Homem com os punhos amarrados: levantamento da RSF mostra que violações contra liberdade de imprensa e jornalistas aumentaram em todo o mundo (Digital21/ThinkStock)
Gabriela Ruic
Publicado em 20 de abril de 2016 às 12h24.
São Paulo – Qual dessas regiões conta com a imprensa mais livre? África ou Américas? Errou quem disse que os países das Américas oferecem as melhores condições para o trabalho de jornalistas e veículos de informação.
De acordo com a investigação “Liberdade de Imprensa no Mundo”, da organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF), é a primeira vez que a África supera as Américas nesse assunto. O estudo, que analisa 180 países e é produzido anualmente desde 2002, foi publicado nesta manhã.
A entidade enxerga como alarmante a deterioração do cenário da imprensa nas Américas. Segundo cálculos da investigação, a região observou uma queda de 20,5% no índice de liberdade e cita como responsáveis por essa queda os ataques e assassinatos registrados recentemente contra jornalistas no México e países da América Central.
No caso do Brasil, a ONG observa a queda de cinco posições entre as edições 2014 e 2015 no ranking dos países mais ou menos livres. O país ocupava a 99ª posição e agora está na 104ª. “Com ameaças, ataques físicos durante manifestações e assassinatos, o Brasil é um dos países mais violentos da América Latina e um dos mais perigosos para jornalistas”, descreveu a investigação.
Embora a região seja a que oferece os melhores cenários para jornalistas e veículos de imprensa, nem tudo é perfeito na Europa. A entidade pontua especialmente como crítica a situação da Polônia, que deixou a 18ª posição de 2014 para estar hoje na 29ª.
Segundo a análise, o péssimo desempenho do país nos últimos anos se dá por conta das pressões do governo para restituir a imprensa estatal e por conta de uma lei que permite que as autoridades possam contratar e demitir funcionários das rádios e televisões públicas.
Outro país cujo cenário é alarmante é a França. “A maioria dos veículos privados estão nas mãos de empresários de setores que não tem nada a ver com a imprensa”, diz a ONG. Como resultado, o país caiu da 38ª para a 45ª colocação.
No âmbito global, a situação da liberdade de imprensa é vista pela entidade como preocupante. O índice global que monitora as violações contra jornalistas registrou 3.719 pontos em 2014 e 3.857 pontos em 2015. A deterioração é de 3,71% entre esses anos e de 13,6% na comparação com o apurado em 2013, quando o estudo passou a calcular o índice global.
“A sobrevivência da imprensa independente está cada vez mais precária para os veículos estatais e privados, por causa de ideologias”, analisou a RSF. “Especialmente as religiosas, que são hostis à liberdade de imprensa”. Outra crítica é aos oligarcas de diferentes partes do mundo que têm adquirido veículos de informação e os usados como ferramentas de propaganda.
O índice da RSF foi produzido a partir de entrevistas com jornalistas, sociólogos e advogados de 180 países que responderam a um questionário formado por 80 questões e que foi traduzido em 20 idiomas. Aos países, são atribuídas notas que variam entre 0 e 100. Quanto maior a pontuação, pior o cenário.
Veja abaixo quais países são piores e quais os melhores para a imprensa.