Bandeira do Líbano (Salah Malkawi/Getty Images)
AFP
Publicado em 6 de maio de 2018 às 09h29.
Última atualização em 6 de maio de 2018 às 09h31.
As primeiras eleições legislativas em quase uma década começaram neste domingo (6) no Líbano, onde o equilíbrio político historicamente frágil foi severamente testado nos últimos anos pela turbulência regional, principalmente o conflito na vizinha Síria.
Os colégios eleitorais abriram às 7h00 (1h00 no horário de Brasília). Na capital Beirute, filas se formaram logo nas primeiras horas de votação.
Embora se espere que os partidos tradicionais participem do novo Parlamento (128 deputados), o poderoso movimento armado xiita Hezbollah, aliado do governo sírio e iraniano, pode fortalecer seu papel ao conquistar uma maioria de assentos, pela primeira vez desde 2005.
Mas é improvável que isso implique uma grande mudança, considerando-se que o Hezbollah já domina o jogo político no Líbano, um território de cerca de quatro milhões de pessoas entre Israel e Síria.
Além disso, grande parte da população diz que tem poucas ilusões diante de uma classe política acusada de corrupção e de nepotismo, em um país fragilizado por uma dívida pública que chega a 150% do PIB.
"É a primeira vez que eu voto", disse Theresa, uma eleitora de 60 anos, em frente ao local de voto.
"Vim para apoiar a sociedade civil, porque ninguém mais me satisfaz, apesar de saber que provavelmente vão vencer", explica.
Para Jalal Naanou, outro eleitor de 28 anos, "viemos votar para termos novos deputados, porque sem mudança, nossa situação não vai mudar, talvez até piore".
O outro grande campo no Líbano é liderado pelo primeiro-ministro sunita Saad Hariri, que esteve, em novembro de 2017, no centro de uma polêmica relacionada ao anúncio de sua renúncia surpresa a partir da Arábia Saudita, que disputa a influência regional com o Irã xiita. Ele então voltou atrás em sua decisão.
As legislativas são organizadas com o objetivo de completar a estabilização política do Líbano, país que permaneceu mais de dois anos sem um chefe de Estado e abalado por múltiplas crises.
- Sem 'mudança' -
Apesar da agitação em trono da votação, grande parte dos 3,7 milhões de eleitores têm poucas esperanças.
Sami Atallah, diretor do Lebanese Center for Policy Studies, não espera "nenhuma mudança fundamental".
Após as eleições, as "principais forças vão dirigir o país em conjunto", acredita.
O Hezbollah, única facção a não ter abandonado as armas após a guerra civil (1975-1990), "vai manter o controle sobre as decisões do governo e não permitirá o debate sobre seu armamento", afirma Hilal Khashan, professor de Ciência Política da Universidade americana de Beirute.
O movimento xiita "e seus aliados vão ter uma maioria dos (128) assentos" no Parlamento, em detrimento do campo de Hariri, aposta ele. Por aliados, ele quer dizer Nabih Berri, chefe do Parlamento desde 1992, e o presidente da República, Michel Aoun.
Apesar das profundas divergências e, por vezes, animosidade, as grandes decisões políticas geralmente são tomadas por consenso entre as forças políticas rivais.
No Líbano, segundo uma regra não escrita, as três principais funções do Estado são atribuídas a um cristão maronita (presidente), a um muçulmano sunita (primeiro-ministro) e a um muçulmano xiita (chefe do Parlamento).