Desde que de tornou conhecida no movimento pacifista, Leymah ganhou um apelido no cenário internacional: "a guerreira da paz" (Gary Gershoff/Getty Images for Tribeca Film Festival)
Da Redação
Publicado em 7 de outubro de 2011 às 09h57.
Monrovia - A liberiana Leymah Gbowee, premiada nesta sexta-feira com o Nobel da Paz de 2011 ao lado de sua compatriota e presidente Ellen Johnson Sirlead e da iemenita Tawakkul Karman, é uma militante pacifista que contribuiu para acabar com as guerras civis que devastaram seu país até 2003.
Quando era pequena, era chamada de "red" (vermelha) por sua pele clara, relatou a liberiana no livro autobiográfico "Mighty Be Our Powers: How Sisterhood, Prayer, and Sex Changed a Nation at War" ("Poderosos sejam nossos poderes: como a comunidade de mulheres, a oração e o sexo mudaram uma nação em guerra").
Desde que de tornou conhecida no movimento pacifista, esta quarentona corpulenta, originária da etnia Kpellé, ganhou outro apelido no cenário internacional: "a guerreira da paz".
Contra os demônios da guerra, Leymah Roberta Gbowee chamou as mulheres a orar pela paz, sem distinção de religião e frequentemente vestidas de branco.
O movimento foi crescendo durante o conflito, até culminar em uma greve de sexo, obrigando o regime de Charles Taylor a integrá-las às negociações de paz.
Leymah Gbowee "é mais que valente. Desafiou a 'tempestade' Charles Taylor e o obrigou a se voltar à paz quando a maioria de nós, os homens, fugimos para salvar nossas vidas", disse Nathan Jacobs, funcionário de 45 anos.
Em dezembro de 1989, depois de iniciar uma rebelião contra o presidente liberiano Samuel Doe, Charles Taylor se apoderou em poucos meses da quase totalidade do país e tornou-se presidente em 1997.
Enfrentando uma revolta armada, viu-se obrigado a deixar o poder em 2003, sob a pressão da rebelião e da comunidade internacional.
Durante a guerra e como assistente social, Leymah Gbowee conviveu diariamente com as crianças soldados e percebeu que "a única maneira de mudar as coisas, do mal para o bem, era que nós, mulheres e mães dessas crianças, nos levantássemos e avançássemos pelo bom caminho", declarou esta mulher, hoje mãe de seis filhos, instalada desde 2005 em Gana.
"Nada deveria levar as pessoas a fazer o que fizeram com as crianças da Libéria", drogadas, armadas, convertidas em máquinas de morte, explicou em um documentário - "Pray the Devil back to Hell" (Reze para o Diabo voltar ao inferno) - sobre a luta das liberianas pela paz.
Esta luta "não é uma história de guerra tradicional. Trata-se de um exército de mulheres vestidas de branco, que se ergueram quando ninguém queria fazê-lo, sem medo, porque as piores coisas imagináveis já haviam ocorrido conosco", escreveu em sua autobiografia.
"Trata-se da maneira como encontramos a força moral, a perseverança e a valentia para levantar nossa voz contra a guerra, e reestabelecer o sentido comum em nosso país", acrescentou.
Leymah Gbowee, que fundou e dirige várias organizações de mulheres, participou da Comissão Verdade e Reconciliação. Um percurso inesperado para quem reconhece ter sido uma criança doente - rubéola, malária, cólera - que "frequentemente desejou estar saudável".