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Lentidão da internet no Paquistão gera suspeitas de censura

Queda na velocidade da internet em todo o país levanta suspeitas de nova tecnologia de firewall, enquanto governo nega e culpa uso de VPNs

População do Paquistão tem reportado lentidão incomum na navegação de internet no país. (Aamir QURESHI / AFP/AFP)

População do Paquistão tem reportado lentidão incomum na navegação de internet no país. (Aamir QURESHI / AFP/AFP)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 21 de agosto de 2024 às 12h37.

Nos últimos dias, a internet no Paquistão tem apresentado uma desaceleração significativa, afetando milhões de usuários e gerando preocupações sobre a possibilidade de uma nova forma de controle digital por parte do governo, de acordo com a reportagem do The New York Times. A lentidão, que tem interrompido negócios e impactado negativamente a economia, está sendo atribuída por grupos de direitos digitais a um possível sistema de firewall introduzido secretamente pelas autoridades paquistanesas. Este sistema, mais sofisticado do que os métodos de monitoramento anteriores, poderia estar sendo usado para vigiar e censurar o acesso à internet no país.

O governo do Paquistão, por sua vez, negou essas acusações, alegando que a desaceleração da internet é resultado de atualizações necessárias para melhorar a cibersegurança, além do uso excessivo de VPNs pelos usuários, o que estaria sobrecarregando a infraestrutura de rede. No entanto, essas justificativas não têm convencido muitos analistas e ativistas, que apontam para uma estratégia deliberada de controle sobre o crescente espaço digital do país.

A situação tem causado preocupação especial entre profissionais de tecnologia, como Shafi Naeem, um designer de software freelance baseado em Karachi. Naeem relatou que a lentidão da internet afetou severamente sua capacidade de trabalhar, resultando em perdas significativas de receita. Ele, como muitos outros trabalhadores do setor de tecnologia, depende de uma conexão rápida e estável para realizar seu trabalho, e as recentes interrupções têm sido devastadoras para o setor.

As consequências econômicas dessa desaceleração são consideráveis. A Associação de Casas de Software do Paquistão alertou que as interrupções podem causar prejuízos de até US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão) ao país. Além disso, a Associação de Freelancers Paquistaneses expressou preocupações de que o Paquistão possa ser rebaixado em plataformas globais de freelancing, prejudicando um setor que vinha crescendo rapidamente.

Além dos impactos econômicos, há uma crescente preocupação com as implicações para as liberdades civis. Grupos de direitos digitais afirmam que o novo sistema de firewall poderia permitir ao governo bloquear seletivamente o acesso a partes da internet, como redes sociais e plataformas de mensagens, enquanto mantêm outras funções operacionais. Essa capacidade de controle sobre o espaço digital poderia ser usada para restringir a liberdade de expressão e suprimir dissidências em um país que já enfrenta desafios significativos à sua democracia.

Tensões crescentes

O contexto político no Paquistão tem sido marcado por tensões crescentes, especialmente após a prisão do ex-primeiro-ministro Imran Khan e a repressão contra seus apoiadores. Khan, cuja ascensão política foi impulsionada pelo uso estratégico das redes sociais, se tornou um alvo das autoridades, que têm intensificado seus esforços para controlar a narrativa digital. Essa repressão levanta suspeitas de que as recentes quedas na velocidade da internet estejam relacionadas a uma tentativa do governo de silenciar críticas e controlar o fluxo de informações no país.

A introdução do termo "terrorismo digital" por líderes militares paquistaneses também aumentou as preocupações entre ativistas de direitos humanos. Eles temem que a crescente equiparação de críticos do governo a terroristas possa levar a uma repressão ainda mais severa sobre a liberdade de expressão e os direitos civis. Essa retórica, combinada com as ações recentes das autoridades, sugere que o governo pode estar disposto a usar todos os meios disponíveis para manter o controle sobre a narrativa pública, mesmo que isso signifique sacrificar as liberdades individuais e a democracia.

O impacto dessa situação se estende além das fronteiras do Paquistão, com especialistas em segurança alertando que a repressão digital pode exacerbar a instabilidade regional. Além disso, a percepção de que o governo paquistanês está usando tecnologias de vigilância para suprimir a dissidência pode isolar ainda mais o país no cenário internacional, dificultando a cooperação com outras nações e organizações.

Enquanto a comunidade internacional observa com preocupação os desdobramentos no Paquistão, as implicações de longo prazo dessa repressão digital ainda são incertas. O que está claro, no entanto, é que a luta pelo controle do espaço digital no país está longe de ser resolvida, e os próximos meses serão cruciais para determinar o futuro da liberdade de expressão e da democracia no Paquistão.

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