Diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, participa de cerimônia de abertura da 11ª Rodada de áreas de exploração de petróleo e gás no Brasil no Rio de Janeiro (Ricardo Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 15 de maio de 2013 às 14h03.
Rio de Janeiro - Pela primeira vez em quase cinco anos, a debilitada indústria do petróleo do Brasil recebeu um importante choque de interesse de investidores privados, e analistas disseram que os resultados da 11a rodada mostraram que o Brasil é simplesmente uma oportunidade grande demais para ser ignorado.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) vendeu 142 áreas de exploração a 30 empresas de 12 países na terça-feira, encerrando o leilão previsto para durar dois dias em um único dia. Foi a primeira licitação desde que uma década de vendas anuais foram interrompidas em 2008.
Os vencedores concordaram em pagar um recorde de 2,82 bilhões de reais em dinheiro pelos direitos e se comprometeram a investir cerca de 7 bilhões de reais ao longo de cerca de cinco anos na exploração, disse a ANP. A maioria das áreas está em regiões fronteiriças de alto risco, com pouca ou nenhuma produção de petróleo.
O Brasil não conseguiu corresponder às suas promessas como um novo e importante produtor, com um aumento das intervenções do governo e um novo modelo regulatório desencorajando os investidores privados nacionais e estrangeiros. A produção de petróleo estagnou nos últimos anos, e as importações subiram.
Mas analistas consideram que as empresas não podem ficar distantes do potencial petrolífero do país.
"Sim, o Brasil teve problemas, mas o leilão coloca as coisas em perspectiva", disse Cleveland Jones, geólogo do Instituto Brasileiro de Petróleo, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
"O Brasil tem um enorme potencial, e é um lugar muito menos arriscado do que a Nigéria, a Venezuela ou a Rússia." As reservas de petróleo nas bacias de Campos e Santos, uma extensão da área onde jazidas gigantes foram encontradas em 2007, podem conter até 100 bilhões de barris, disse ele, o suficiente para atender a cerca de três anos das necessidades mundiais.
A ANP estima a quantidade de petróleo vendida no leilão de terça-feira em cerca de 35 bilhões de barris in situ.
Entre os maiores vencedores da rodada estão a britânica BG Group Plc, que se ofereceu para pagar 416 milhões de reais por participações em 10 blocos no Brasil, a OGX Petróleo e Gás SA, que vai pagar 376 milhões de reais por participações em 13 blocos, e a francesa Total, que concordou em pagar 372 milhões de reais por uma participação em dez blocos, segundo dados preliminares da ANP compilados pela Reuters.
Empresas da Austrália, Noruega, Colômbia e Espanha também arremataram blocos.
Ambiente difícil
Desde o último leilão, o Brasil tem enfrentado dificuldades para cumprir o seu potencial como uma potência petrolífera.
Em 2008, a estatal Petrobras disse que gastaria 112 bilhões de dólares ao longo de cinco anos para aumentar a produção em 50 por cento para cerca de 3,5 milhões de barris por dia em 2012, um volume que teria feito o país superar tanto México quanto Venezuela como maior produtor da América Latina.
No entanto, a produção subiu apenas 13 por cento em cinco anos, para cerca de 2,68 milhões de barris, enquanto as ações da Petrobras recuaram para níveis menores do que os registrados antes das gigantescas descobertas de 2007.
A Petrobras concordou em pagar 540 milhões de reais por participações em 35 blocos, sendo a grande vencedora na terça-feira, mas a atuação da estatal foi proporcionalmente menor do que em leilões anteriores.
As empresas não-estatais também tiveram dificuldades. A Chevron Corp e sua parceira de perfuração Transocean Ltd. enfrentam cerca de 20 bilhões de dólares em ações cíveis por um vazamento de petróleo equivalente a 3,5 mil barris de petróleo em 2011 em Campos, apesar de afirmações da ANP de que nenhum dano ambiental perceptível foi feito, e de a Chevron ter rapidamente realizado a limpeza do local.
Apesar dessas dificuldades, a Chevron não hesitou na terça-feira em pagar 31,4 milhões de reais por participações em um bloco.
O leilão, no entanto, pode ajudar o Brasil a romper com um ciclo de notícias negativas, e dar às empresas as reservas futuras necessárias para manter o investimento fluindo, disse João Carlos de Luca, diretor do IBP, a associação da indústria de petróleo do Brasil.
"Eu acho que nós podemos deixar muitas das dificuldades enfrentadas nos últimos anos para trás", disse ele. "A demanda no leilão foi muito forte, cerca de 40 por cento acima das minhas próprias estimativas."
Demanda reprimida
No final, a crescente demanda mundial por petróleo, e o apelo relativo do Brasil como uma fronteira de petróleo atraiu novamente os investidores.
Após ansiosos preparativos para o leilão, o governo brasileiro manifestou alegria sobre os altos lances.
"Nunca vi nada assim", disse Marco Antonio Martins Almeida, secretário de Petróleo no Ministério de Minas e Energia do Brasil, na terça-feira.
A OGX Petróleo e Gás SA, prejudicada por promessas não cumpridas, saiu do leilão parecendo mais forte. Controlada pelo bilionário brasileiro Eike Batista, a OGX viu suas ações subirem por otimismo sobre o potencial petrolífero do Brasil.
A OGX venceu 13 blocos no leilão, dez sozinha e três em parceria, e foi o principal parceiro no leilão da Exxon Mobil Corp, principal empresa de petróleo dos EUA.
A Exxon levou participações de 50 por cento em dois blocos com a OGX por 63,9 milhões de reais, de acordo com informações da ANP compiladas pela Reuters.
As ações da OGX subiram 5,4 por cento em São Paulo na terça-feira, e operavam em alta de quase 4 por cento nesta quarta-feira, por volta das 11h30.
As empresas petrolíferas de países asiáticos de rápido crescimento adotaram cautela. Só a malaia Petronas, que recentemente comprou participação em blocos da OGX, foi mais ativa, mas não ganhou nenhum bloco.
"Acho que as companhias de petróleo chinesas e asiáticas querem reservas com mais promessa de rápido desenvolvimento", disse De Luca, do IBP. "Essas áreas de fronteira vão levar tempo para se desenvolver." Ele espera que as empresas asiáticas apareçam no leilão de novembro, do pré-sal (Reportagem adicional de Kristen Hays em Houston e Pedro Fonseca, Sabrina Lorenzi, Gustavo Bonato e Walter Brandimarte no Rio de Janeiro)