O aiatolá Ali Khamenei, do Irã (Majid Saeedi/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 3 de março de 2012 às 14h33.
Teerã - A vitória obtida pelos radicais islâmicos leais ao líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei nas eleições parlamentares de sexta-feira, debilita o presidente, Mahmoud Ahmadinejad, e complica seu último ano de Governo.
Pelas informações preliminares divulgadas na sexta-feira pelo Ministério do Interior, a participação no pleito, com 85% dos colégios apurados, foi de 64,2%, bem acima do previsto, sinal interpretado pelo regime como aval a postura em suas disputas com o Ocidente.
Resultados não oficiais divulgados pela TV iraniana em inglês, 'PressTV', apontam que três quartos dos deputados eleitos no pleito de ontem nos distritos onde os resultados já foram divulgados são afins ao setor principalista do entorno de Khamenei.
Das 150 cadeiras a que faz referência a TV, mais da metade das 290 do Parlamento, 112 seriam de nomes inscritos nas listas principalistas; 28 reformistas, apresentados de forma marginal, enquanto os grandes grupos do setor boicotaram o pleito, e só dez são claramente leais a Ahmadinejad.
Devido ao sistema eleitoral iraniano, no entanto, é difícil identificar uma filiação política clara dos deputados eleitos, porque as candidaturas são individuais.
Ahmadinejad, que manteve diferenças com a maioria dos nomes do Parlamento, que pouco a pouco foram retirando o apoio nele, e com Khamenei, quem o desqualificou em abril ao recolocar no cargo um ministro que este havia destituído pode ter maiores dificuldades no restante de seu Governo, até meados de 2013.
Na próxima semana, se não for retirada a convocação, Ahmadinejad terá de comparecer ao Parlamento para uma sessão de perguntas que poderia acabar em moção de censura.
Os deputados que convocaram a moção vão questionar Ahmadinejad sobre as supostas irregularidades durante seu Governo e a respeito dos casos de corrupção, uma situação pela qual até agora nenhum presidente nos 33 anos de história da República islâmica passou.
Neste momento em que os dois lados estão medindo forças, o líder e os deputados mais radicais islâmicos, críticos de Ahmadinejad, é de esperar que nas presidenciais de 2013 o candidato do sistema a ocupar o cargo seja um principalista próximo a Khamenei e não um nome do entorno do presidente.
Um dos mais importantes principalistas é o atual presidente do Parlamento, Ali Larijani, que obteve ressonante vitória como o mais votado na cidade de Qom, centro espiritual e sede dos seminários muçulmanos xiitas dos clérigos que supervisionam a vida política e social no sistema teocrático do Irã.
Em Teerã, o candidato que obteve mais votos foi Gholam Ali Haddad Adel, presidente do Parlamento pela sétima legislatura (2004-2008) e pessoa próxima a Khamenei, do mesmo partido.
A ampla vitória do setor do líder pode provocar no Irã uma maior radicalização do controle social e do discurso sobre a economia, embora nas duas questões mais importantes para o país - a exportação de petróleo e o programa nuclear - as mudanças tendem a serem poucas.
Qualquer pessoa que conduza o Governo deverá lidar com as sanções internacionais, especialmente as impostas pelos Estados Unidos e a União Europeia, para vender seu petróleo e acompanhar os ativos nos mercados financeiros, e todos estão de acordo em seguir com o programa nuclear, que garantem ter fins civis e pacíficos.
A diferença poderia marcar a maneira de buscar uma aproximação, já que os mais leais ao líder se mostraram radicais e intransigentes em relação ao Ocidente e Ahmadinejad e seu Governo fizeram tímidas piscadas, especialmente à UE.
O ministro do Interior, Mostafa Mohamad Najjar, ao mesmo em que avançava neste sábado os dados provisórios da participação, confirmou que os resultados definitivos nos colégios menores serão conhecidos domingo e os das grandes cidades na próxima segunda-feira, o que indicará um caminho de atuação no futuro próximo.