Próteses da PIP: no Brasil, a meca da cirurgia plástica, calcula-se em 12.500 o número de usuárias desses implantes (Sebastien Nogier/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de abril de 2013 às 13h00.
Buenos Aires - Na América Latina, onde o recurso à cirurgia estética atinge números recordes, dezenas de milhares de mulheres receberam implantes mamários defeituosos da marca francesa PIP, e centenas delas entraram com ações na Justiça, principalmente contra as empresas importadoras e seguradoras.
As demandas tentam obter compensações financeiras para as mulheres que usaram esses implantes que apresentam altas taxas de rompimento, o que causa a dispersão pelo corpo de um gel de silicone suspeito de causar câncer.
No Brasil, a meca da cirurgia plástica, calcula-se em 12.500 o número de usuárias de implantes da PIP (Poly Implant Prothèse) e em 7.000 o número de pessoas que usam essas próteses sob a marca holandesa Rofil.
Jany Simon Ferraz é uma pioneira na luta contra esses implantes. Ela lista as intervenções cirúrgicas desde que sofreu uma "tempestade de silicone" após o rompimento de um implante há quatro anos.
"Fui operada quatro vezes (...) e preciso ficar sob acompanhamento médico permanente", explica. Essa brasileira de 56 anos recorreu à Justiça em 2009 contra a empresa importadora EMI e acaba de conseguir uma indenização de cerca de US$ 35.000 dólares.
Na Argentina, "quase 400 mulheres participarão de uma ação coletiva" na justiça civil local contra a fabricante francesa e suas seguradoras, afirma à AFP a advogada Virginia Luna, também portadora de próteses da marca.
Além disso, cerca de cem argentinas serão representadas em um processo penal que deve começar em 17 de abril em Marselha (sul da França) contra cinco dirigentes da empresa por "fraude com agravante". Estima-se que entre 13.000 e 15.000 mulheres usem esses implantes mamários na Argentina. "Muitas mulheres pagaram os custos da retirada e colocação de novas próteses. O preço total poderia oscilar entre 4.000 e 5.000 dólares", explica Luna.
Cecilia Bustos, de 38 anos, casada e mãe de dois filhos, teve implantados próteses PIP em 2008. Três anos depois teve um câncer diagnosticado.
"Em 2010, quando estourou o escândalo, liguei (para o meu cirurgião) e ele me disse que uma parte (dos implantes) importados estavam defeituosos, mas afirmou que ele não era responsável", conta à AFP.
"No começo de 2011, descobri gânglios enormes debaixo das axilas", prossegue. "As duas próteses se romperam e o silicone tinha se espalhado para os gânglios e os seios. Eu estava com câncer".
"Outro médico trocou as próteses e limpou o que pôde, mas não foi possível extrair os gânglios", o que a deixou com um braço incapacitado, acrescenta Bustos.
Na Venezuela, verdadeira fábrica de miss universo, onde os implantes de mama são rotineiros - são 40.000 intervenções por ano no país de 29 milhões de habitantes -, 33.000 mulheres têm implantes PIP, segundo o Ministério da Saúde.
Iris Simancas colocou próteses PIP em 2007 após ter sofrido uma dupla mastectomia como consequência de um câncer.
No final de 2011, começou a se falar do escândalo na França e, ao tomar conhecimento, Simancas pediu que seu médico a retirasse. Mas o cirurgião desaconselhou o procedimento para "evitar complicações devido às difíceis operações de reconstrução mamária" que sofreu.
"É muito difícil. Antes foi o câncer, depois veio o medo de ter dentro de mim próteses PIP, mas me resignei a viver com estes implantes e só peço a Deus que não se rompam", diz ela, que é mãe de duas crianças.
Em 2012, ela se juntou a uma associação de vítimas, a Asomuvenapip, cujo advogado Guilberto Andrea tenta representar seus 800 clientes no processo penal em Marselha para "mandar para a prisão" Jean-Claude Mas, fundador da empresa.
"Em seguida virão ações de reparação por danos morais e pedidos de indenização", prossegue.
Na vizinha Colômbia, cerca de 15.000 mulheres receberam próteses PIP. Um escritório de advogados locais reuniu os casos de 1.500 mulheres para tentar incluí-las no julgamento francês.
Mas, apesar do escândalo, o recurso às cirurgias plásticas não parece ter diminuído em nenhum destes países.
Entrevistado pela AFP, o médico Ramón Zapata, membro da Sociedade Venezuelana de Cirurgia Plástica, revela simplesmente que agora as pacientes "estão mais informadas e exigem qualidade".