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Jogar água radioativa no mar contraria o princípio de segurança, diz oceanógrafo

Segundo especialista, despejo de água contaminada de Fukushima no oceano, apesar de válido pelo caráter emergencial, representa uma ameaça potencial à vida marinha

Vista área de Fukushima, após terremoto e tsnunami que danificaram os reatores nucleares. (Wikimedia Commons)

Vista área de Fukushima, após terremoto e tsnunami que danificaram os reatores nucleares. (Wikimedia Commons)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 4 de abril de 2011 às 17h58.

São Paulo - Na tentativa de evitar um desastre de maiores proporções, o governo japonês anunciou o despejo de 11,5 mil toneladas de água radioativa, volume equivalente ao de três piscinas olímpicas, da usina nuclear de Fukushima no Oceano Pacífico. De imediato, a medida afasta o perigo de contaminação terrestre mas, em contrapartida, representa uma ameaça em potencial para a vida marinha.

De acordo com o professor de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) David Zee, a radiação liberada no mar pode comprometer o período de reprodução dos peixes, sendo os organismos juvenis mais vulneráveis. "Os efeitos vão desde problemas de má formação à disfunção dos órgãos", explica.

Ele enfatiza que apesar de "válido por se tratar de uma emergência", a decisão das autoridades japonesas vai contra o princípio de segurança nuclear, que prevê o confinamento do material radioativo e não sua liberação direta no meio ambiente. O ideal, segundo Zee, seria que o volume de água contaminada por iodo 131 tivesse sido colocado em um container, ao invés de ser despejado no mar.

"Nessa altura do campeonato, a medida pode ser considerada válida. Mas agora é necessário que os órgãos competentes monitorem o comportamento desse material radioativo no oceano e seus efeitos sobre os animais marinhos", alerta. O que não vai ser fácil, já que as correntes marítimas podem influenciar a dispersão da água radioativa e dificultar seu controle.

Por outro lado, a ameaça promete se dissipar rápido, já que o iodo radioativo possui meia vida curta, de apenas 8 dias. Isso significa que nesse período, a sua atividade decai pela metade, sendo anulada praticamente após um mês. Outro ponto positivo é que a concentração do material presente nas 11,5 mil ton (cerca de três picinas olímpicas) deve se diluir na imensidão do Oceano Pacífico sem dificuldades. 

Mas se água contaminada tiver outros produtos radioativos, como césio e plutônio - mais pesados que o iodo e, por isso, com maior probabilidade de se acumular no fundo do mar, região de alta concentração de seres marinhos - as consequências podem ser catastróficas.

De acordo com Tokyo Electric Power (Tepco), empresa que opera a central nuclear de Fukushima, entretanto, a água lançada no oceano só possui iodo radioativo. Apesar de estar numa concentração 100 vezes superior ao considerado legal, as partículas do material presentes na água não apresentam riscos à saúde, segundo a Tepco.

Para o professor da Uerj, a dificuldade de se controlar o acidente na central do Japão deve servir de lição para que outros países aperfeiçoem os sistemas de segurança e medidas de emergência de suas usinas nucleares.

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