Mesmo sendo favorita de muitos, principalmente europeus, Lagarde terá concorrentes. Os Brics disseram que a escolha da chefia do FMI deve ser baseada em competência e não em nacionalidade (Dominique Charriau/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 17 de junho de 2012 às 09h35.
Paris/Washington - A francesa Christine Lagarde, entrou na disputa pela chefia do Fundo Monetário Internacional (FMI), apesar da fúria das grandes economias emergentes sobre a predominância europeia no cargo.
A ministra das Finanças anunciou sua candidatura nesta quarta-feira, véspera de uma cúpula do G8, depois de garantir apoio unânime da União Europeia e, segundo diplomatas, dos Estados Unidos e da China.
"É um desafio imenso, do qual me aproximo com humildade e com esperança de obter o maior consenso possível", disse ela em uma entrevista coletiva.
A ex-advogada corporativa de 55 anos, que fala inglês fluentemente, ganhou aplausos por sua presidência dos ministros das Finanças do G20 e por suas habilidades de comunicação.
Mas, ao contrário do ex-diretor-gerente Dominique Strauss-Kahn, que renunciou na semana passada após ser acusado de crime sexual, ela não é uma economista e pode encontrar dificuldades em seguir os passos dele na condução da economia global.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul criticaram as autoridades europeias em comunicado conjunto, por sugerirem que o próximo chefe do FMI deveria ser um europeu, uma tradição que data do fim da Segunda Guerra Mundial.
No entanto, os países que formam os Brics, não obtiveram unidade sobre um candidato alternativo, deixando o caminho aberto para Lagarde.
Lagarde disse que vai trabalhar "por uma maior representatividade e maior flexibilidade" no FMI se eleita.
Brics reclamam
No comunicado conjunto, os Brics disseram que a escolha da chefia do FMI deve ser baseada em competência e não em nacionalidade. Eles pediram "o abandono da obsoleta convenção não escrita que requer que o chefe do FMI seja necessariamente da Europa".
Lagarde disse que ela está concorrendo para servir a todos os membros do FMI e não apenas à Europa, mas ressaltou que sua experiência e suas boas relações com autoridades europeias devem ser uma vantagem no papel do FMI na crise de dívida da zona do euro.
"Ser europeia não deveria ser uma qualidade a mais, mas também não deveria ser uma qualidade a menos", disse ela.
Horas antes de o comunicado ser emitido em Washington, o governo francês disse que a China apoia Lagarde. O Ministério das Relações Exteriores chinês não quis comentar.
O México nomeou seu presidente do Banco Central para concorrer ao cargo. África do Sul e Cazaquistão também devem apresentar nomes.
Diplomatas disseram que os Estados Unidos questionaram o governo francês sobre um caso legal pendente que envolve Lagarde, no qual ela enfrenta acusações de abuso de autoridade.
A Corte de Justiça da República, uma corte especial criada para julgar ministros por delitos cometidos enquanto estavam no poder, examina um acordo de 285 milhões de euros para Bernard Tapie, um ex-ministro condenado que apoiou a campanha de eleição do presidente Nicolas Sarkozy em 2007.
Lagarde disse ter a consciência limpa. "Tenho toda a confiança nesse procedimento, porque minha consciência está completamente limpa. Agi no interesse do Estado e em respeito à lei."