Hervé Ladsous: "Espero que possamos atuar, porque estes casos são totalmente inaceitáveis" (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 8 de fevereiro de 2012 às 19h09.
Nações Unidas - O subsecretário-geral para Operações de Paz das Nações Unidas, o francês Hervé Ladsous, defendeu nesta quarta-feira endurecer as medidas que o organismo internacional aplica perante os casos de abusos sexuais realizados por seus soldados.
'Acho que, antes de tudo, temos que endurecer as medidas tomadas nesses casos. Espero que possamos atuar, porque estes casos são totalmente inaceitáveis', disse Ladsous perante a imprensa, quando lamentou que 'alguns indivíduos' com suas ações 'contaminem e danifiquem completamente' a imagem das operações de paz da ONU.
O chefe dos 'boinas azuis', como são conhecidos os soldados das tropas de paz, reconheceu, no entanto, que a capacidade de reação da ONU perante os casos de abusos sexuais é limitada 'porque os Estados-membros decidiram lidar com o assunto nos casos que envolvem militares'.
'Essa é uma dificuldade maior e foi até o momento uma limitação', disse o francês, que destacou, no entanto, que a ONU pode atuar 'rapidamente' quando se trata de policiais, o que agiliza a investigação desse tipo de denúncias e permite dar uma resposta 'adequada'.
Ladsous usou como exemplo os dois últimos casos de abusos que se tem conhecimento entre membros do corpo policial da Missão de Paz das Nações Unidas no Haiti (Minustah), revelados em janeiro e nos quais policiais da ONU estão envolvidos em denúncias por exploração sexual e abuso de menores.
'Perante esses casos, atuamos muito rapidamente. Enviamos uma equipe de investigadores, e quando sua tarefa acabar e forem demonstrados os fatos, poderemos atuar com decisão para remediar o caso', disse o subsecretário-geral, que defende o impedimento de servir a ONU a envolvidos nestes casos.
Ladsous também fez referência ao caso dos cinco marinheiros uruguaios integrantes da Minustah expulsos após serem divulgadas na internet imagens de vídeo nas quais abusam de um jovem haitiano, que aparece deitado de bruços em um colchão, enquanto um dos 'boinas azuis' aparece atrás dele com o tronco nu.
'Trata-se de um caso diferente no qual os governos do Uruguai e Haiti têm que concordar como proceder. A ONU faz o que pode para alcançar um acordo', disse o diplomata francês. De acordo com ele, os esforços se concentram atualmente em conseguir que a suposta vítima possa depor na justiça uruguaia.
Ladsous defendeu a necessidade de que o Haiti e o Uruguai alcancem rapidamente um acordo para que a vítima possa prestar depoimento e se inicie 'o processo adequado', 'porque este caso já durou demais'.
O subsecretário-geral reconheceu que se estes casos continuarem a acontecer é um sinal de que a mensagem de tolerância zero aos abusos não foi divulgada 'de forma satisfatória ou efetiva' pela hierarquia das missões das Nações Unidas, à qual pediu mais esforços nesse sentido.
Ladsous também se referiu à crise de cólera que castiga o Haiti e afirmou que a Minustah faz o que pode para diminuir seus efeitos. Ele reconheceu que a missão continua estudando as denúncias apresentadas pela propagação da doença e não quis avaliar se deveria dar compensações econômicas às vítimas.
A Minustah enfrentou a rejeição da população haitiana pela cólera, depois que relatórios técnicos atribuíram a epidemia a dejetos do contingente nepalês da missão jogados em um rio, mas a ONU considera que faltam provas para isso.
Em seu comparecimento perante a imprensa na sede central da ONU, Ladsous também reconheceu que o Departamento de Operações de Paz enfrenta um corte de seu orçamento este ano de cerca de US$ 1 bilhão, até situar-se em US$ 7 bilhões.