Argentina: Não está claro se La Rioja imprimirá notas físicas de bocade (Anita Pouchard Serra/Bloomberg/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 21 de janeiro de 2024 às 10h26.
Última atualização em 21 de janeiro de 2024 às 10h27.
Quando o presidente argentino Javier Milei defendeu a adoção do dólar através de uma “livre concorrência de moedas”, poucos previram o surgimento de uma nova divisa no centro do país.
A assembleia legislativa de La Rioja, uma pequena província conhecida pelas suas azeitonas, aprovou a criação de uma nova quase-moeda esta semana, desafiando o esforço de austeridade de Milei para acabar com o déficit fiscal crônico do país. A decisão de La Rioja lembra iniciativas provinciais semelhantes durante crises econômico passadas que acabaram mal.
O governador de La Rioja, Ricardo Quintela — da coalizão de oposição peronista — solicitou autorização para lançar o chamado “bono de cancelación de deuda”, ou bocade, para pagar parte dos salários dos funcionários públicos após uma greve da força policial local de La Rioja e protestos de profissionais de saúde. A assembleia legislativa aprovou a emissão de até 22,5 bilhões de pesos (US$ 28 milhões) em bocades para complementar os salários dos trabalhadores na moeda nacional.
Não está claro se La Rioja imprimirá notas físicas de bocade. Em comunicado, a assembleia da província disse que Quintela está autorizado a emitir dinheiro vivo ou a registar o dinheiro digitalmente nas contas bancárias dos trabalhadores. Também não se sabe se as empresas aceitarão bocades como forma de pagamento.
Quintela culpou a austeridade de Milei por forçar a província a congelar os salários dos funcionários públicos que não conseguem acompanhar a inflação de 211%. Ele também está processando o governo federal em 9,3 bilhões de pesos que, segundo ele, são devidos à província pelo orçamento de 2023.
Quintela diz que o bocade vai permitir ao governo provincial “melhorar os salários dos trabalhadores da administração pública e reanimar a economia local”, de acordo com um comentário que ele postou nas redes sociais.
Não é a primeira experiência de La Rioja com uma moeda alternativa. Como muitas províncias argentinas, La Rioja também criou sua própria moeda na esteira da crise de dívida do país em 2001. A província de Buenos Aires, a mais populosa do país, também imprimiu os chamados patacones, que foram utilizados como forma de pagamento até serem convertidos em pesos pelo governo federal.
Milei, que suspendeu os planos de substituir o peso pelo dólar para priorizar a austeridade fiscal, saudou sarcasticamente a decisão de La Rioja.
“Moedas provinciais são bem-vindas para competir”, Milei escreveu nas redes sociais. Mas, “ao contrário do que aconteceu no passado, de forma alguma serão resgatadas pelo governo”.