Heinz-Christian Strache: Kurz ressaltou que uma "orientação pró-europeia clara" é requisito para entrar no governo (Leonhard Foeger/Reuters)
AFP
Publicado em 24 de outubro de 2017 às 10h22.
Última atualização em 24 de outubro de 2017 às 10h22.
O líder conservador austríaco, Sebastian Kurz, convidou o partido de extrema direita FPÖ para participar das negociações para a formação de uma coalizão de governo, o que representaria o retorno desta formação ao poder, 17 anos após uma primeira aliança que provocou grande polêmica na Europa.
"Decidi convidar Heinz-Christian Strache (líder do FPÖ) para as negociações para a formação de um governo", afirmou em uma entrevista coletiva em Viena, antes de destacar que já manteve conversas preliminares "muito construtivas" com ele.
"A Áustria precisa da formação rápida de um governo estável", completou Kurz, que deseja alcançar o objetivo antes do Natal.
Vencedor das eleições legislativas antecipadas de 15 de outubro com 31,5% dos votos, após 10 anos de coalizão com a direita, Kurz, de 31 anos, já havia incluído em sua campanha vários temas do FPÖ (26%), especialmente sobre a imigração e a tributação.
O anúncio de negociações oficiais com a extrema-direita era previsível, depois que Kurz e Strache multiplicaram nos últimos dias as declarações que apontavam nesta direção.
O atual chanceler, o social-democrata Christian Kern (26,9% dos votos), informou que se preparava para entrar na oposição.
Se a aliança for concretizada, isto representaria o retorno ao poder do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), 17 anos depois do líder conservador Wolfgang Schüssel ter procurado a formação em 2000. Na época, a iniciativa provocou uma grande polêmica internacional e sanções europeias.
Em um contexto no qual os partidos populistas e anti-imigração estão no auge em vários países europeus, tais medidas parecem pouco prováveis hoje em dia. Além disso, Strache, de 48 anos, se esforçou para suavizar a imagem do FPÖ, que lidera desde 2005, depois de suceder Jörg Haider.
Kurz, que foi ministro das Relações Exteriores nos últimos quatro anos, ressaltou, no entanto, que uma "orientação pró-europeia clara" é requisito para entrar no governo.
A aproximação de Kurz e Strache recebeu o apelido de "coalizão sushi" entre a imprensa mais popular, em referência ao jantar oferecido pelo líder do FPÖ a Kurz em um encontro privado em sua residência, três dias após as eleições.
Entre as condições para entrar na coalizão, o FPÖ ressaltou que exigiria o ministério do Interior, uma pasta muito importante que o partido não ocupou no ano 2000. Strache também destacou a "segurança das fronteiras, a democracia direta como na Suíça e o fim da islamização".
"Temos pontos em comum e pontos em que nossas posições divergem", afirmou Kurz, sem entrar em detalhes.
O líder conservador, que será o chefe de Governo mais jovem do mundo, afirmou à imprensa israelense que a "tolerância zero" com o antissemitismo é uma "condição prévia clara" para entrar no governo.
A perspectiva de um retorno ao poder do FPÖ, um partido fundado por nazistas, provocou grande preocupação entre a comunidade judaica da Áustria.