Keiko Fujimori e Pedro Pablo Kuczynski: a diferença entre os dois candidatos caiu nas últimas horas com a apuração dos votos das regiões rurais mais afastadas da capital (Mariana Bazo / Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de junho de 2016 às 11h30.
O economista de centro-direita Pedro Pablo Kuczynski estava com uma vantagem de apenas 0,64% sobre a rival Keiko Fujimori no segundo turno da eleição presidencial do Peru, com mais de 92% das urnas apuradas, um resultado apertado, que mostra como o país está dividido.
Com 92,6% das urnas apuradas, Kuczynski, candidato do 'Partido Peruano por el Kambio', ex-executivo de Wall Street e ex-funcionário do Banco Mundial, tinha 50,32% dos votos, contra 49,68% de Fujimori, informou o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE).
A diferença entre os dois candidatos caiu nas últimas horas com a apuração dos votos das regiões rurais mais afastadas da capital, reduto do fujimorismo.
Apesar de o voto ser obrigatório no Peru, o índice de abstenção chegou a 17,8%.
Nenhum candidato declarou vitória e, com a pequena margem de diferença, que poderia mudar com os votos das províncias mais afastadas, os dois lados optaram pela cautela.
"Ainda não vencemos. É preciso esperar os resultados oficiais", disse Kuczynski, chamado de PPK, acrônimo de seu nome e de seu partido, 'Peruanos Por el Kambio'.
Ele estava na varanda de sua casa, em Lima, onde apareceu acompanhado dos dois candidatos à vice-presidência, de sua esposa e de duas de suas filhas.
"Tomemos estes resultados preliminares com otimismo, mas com modéstia", disse o candidato, que pediu aos seus seguidores que permaneçam "vigilantes até o último voto", antes de acrescentar que no domingo os peruanos demonstraram que "temos um país democrático".
Fujimori também pediu prudência diante dos resultados apertados da votação e agradeceu aos 50% dos peruanos que votaram nela.
"Nós nos sentimos plenos de emoção e de orgulho em saber que contamos com 50% do apoio da população", disse Fujimori, sorridente, ao se dirigir aos simpatizantes reunidos em frente ao hotel onde instalou seu quartel-general à espera dos resultados oficiais.
"É uma votação apertada, sem dúvida", comentou a candidata.
"Vamos esperar com prudência porque durante toda a noite chegarão os votos das regiões, do exterior e o voto rural, do Peru profundo. Por isto estamos otimistas", disse Fujimori.
Esta é a segunda vez que a filha do autocrata Alberto Fujimori, que governou o Peru de 1990 a 2000, disputa a eleição presidencial. Ela pode amargar a segunda derrota, apesar de ter sido considerada favorita durante quase toda a campanha. Em 2011 ela perdeu para o presidente Ollanta Humala. Na votação passada, Kuczynski ficou em terceiro lugar.
Cerca de 23 milhões de peruanos votaram no domingo de forma tranquila para eleger o novo presidente, após uma longa campanha em que Keiko Fujimori era até poucos dias atrás a favorita para substituir Humala na presidência a partir do próximo 28 de julho. Na última semana, no entanto, Kuczynski a alcançou e pode tirar dela a vitória.
O fujimorismo luta para voltar ao poder 16 anos depois de o pai da candidata, Alberto Fujimori, ter fugido para o Japão e renunciado à Presidência por fax, pondo fim a um governo repressor e corrupto (1990-2000).
Durante a campanha, mais que propostas, houve troca de acusações entre os candidatos.
Kuczynski começou a ganhar terreno na reta final da disputa, estimulado pelo bom desempenho no último debate presidencial, pelo apoio da maioria dos candidatos derrotados no primeiro turno - incluindo a popular candidata de esquerda Verónika Mendoza - e um protesto organizado por grupos civis contra a candidatura de Fujimori.
No caso de vitória de Kuczynski, ele terá que buscar consenso em um Congresso de maioria absoluta fujimorista - 73 de 130 representantes -, com apenas 18 legisladores de seu partido.
"Vamos ter um governo de consenso, não mais lutas nem confronto", afirmou Kuczynski no domingo.
O papel de Keiko
Keiko Fujimori manterá o controle de sua bancada parlamentar, com uma importante força de negociação e o respaldo de 50% da população, o que lhe permitiria incluir na pauta inclusive a concessão da prisão domiciliar a seu pai, Alberto Fujimori, que desde 2009 cumpre uma condenação de 25 anos por crimes de corrupção e contra a humanidade.
Esta possibilidade já havia sido mencionada pelo próprio PPK.
Keiko viu sua candidatura perder força nos últimos dias pelo vínculo de pessoas de seu entorno a denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro e narcotráfico.
Seus adversários conseguiram divulgar a ideia de que, em caso de vitória fujimorista, ficaria institucionalizado um "narcoestado", com o retorno do clã ao poder.
Keiko reconstruiu sua imagem pública, com uma tentativa de divulgar novos valores e se distanciar da autocracia de seu pai, que em 5 de abril de 1992 deu um autogolpe, com o qual fechou o Congresso e assumiu o controle das instituições do Estado, com mais duas reeleições para a presidência.