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Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2010 às 13h35.
Berlim.- O presidente da Alemanha, Horst Köhler, anunciou hoje sua renúncia como líder do país para surpresa dos cidadãos e do Governo, liderado pela chanceler, Angela Merkel.
Semana passada durante o retorno de uma visita ao Afeganistão, Köhler disse que um país como a Alemanha, "com sua orientação para o comércio exterior e com isso à dependência do comércio exterior, deve saber que, em caso de dúvida, as intervenções militares são necessárias para defender nossos interesses".
As palavras do nono presidente federal alemão, que posteriormente explicou que se referia à luta contra a pirataria no litoral da Somália, deram lugar a interpretações, como a que justificava as guerras econômicas e por motivos comerciais, com uma avalanche de críticas por parte da imprensa.
Acompanhado da esposa, Eva Luise, o chefe do Estado comunicou sua renúncia "com efeitos imediatos" devido a interpretação errônea de suas palavras e a "falta de respeito" nas críticas contra sua pessoa como autoridade máxima do país.
"As críticas foram até o ponto de assegurar que eu defendo intervenções do Bundeswehr (Exército Federal) que não estão cobertas pela Lei Fundamental. Essas críticas carecem de qualquer justificativa. E fazem lamentar a falta do devido respeito a meu cargo", disse Köhler.
Horst Köhler, que foi reeleito presidente da Alemanha em 2009 para um segundo mandato de cinco anos, ressaltou que tinha comunicado sua decisão ao presidente rotativo do Bundesrat (câmara alta alemã), o social-democrata Jens Böhrnsen, que assumirá o Governo interinamente.
A renúncia de Köhler, que chegou ao cargo em 2004 com o apoio dos partidos atualmente no Governo, é um duro revés para a coalizão dirigida por Merkel, em um momento de tensão entre as formações da União (CDU/CSU) da chanceler e os liberais (FDP) de seu titular de Exteriores, Guido Westerwelle.
A proposta de Merkel e Westerwelle pela qual Köhler foi eleito presidente da Alemanha pela Assembleia Federal constituiu uma primeira ação conjunta, prévia à coalizão de Governo que eles só formariam cinco anos depois.
Fontes presidenciais assinalaram hoje que Köhler não comunicou sua renúncia a Merkel até pouco antes de torná-la pública e sublinharam que o chefe do Estado refletiu sobre sua decisão sozinho, sem a participação nem do Governo nem dos partidos da Bundestag (câmara baixa).
A própria Merkel confirmou que tomou conhecimento da decisão de Köhler duas horas antes do anúncio, que tentou em vão lhe fazer mudar de opinião e agradeceu seu trabalho durante os seis anos na Presidência, e também como "excelente assessor" em matéria econômica.
As reações de incredulidade e surpresa se sucederam entre os líderes de todos os partidos com representação parlamentar, como o chefe do grupo da Esquerda, Gregor Gysi, que a qualificou de "algo exagerado", apesar de elogiar Köhler, e ressaltou que sua saída aguça a crise do Governo.
É a primeira vez na história da Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial que um chefe de Estado renuncia seu cargo, que, embora de caráter sobretudo representativo, tem a atribuição de sancionar e, com isso, de obstaculizar as leis aprovadas pelas duas câmaras parlamentares alemãs.
A legislação do país estabelece um prazo máximo de 30 dias para a convocação da Assembleia Federal, formada pelos deputados do Bundestag e pelos representantes dos Länder no Bundesrat, para escolher um novo líder máximo.