Mauricio Macri, presidente da Argentina: "Foi uma reunião muito cordial. Teremos em 10 de dezembro uma bela cerimônia de transmissão" (Ivan Alvarado/REUTERS)
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2015 às 09h01.
A presidente peronista Cristina Kirchner e seu sucessor liberal Mauricio Macri se reuniram nesta terça-feira para discutir a transição e a transmissão do poder, no prazo de 16 dias.
"Estivemos sozinhos. Disse que havia me convocado para dar uma felicitação pessoal. Mas não valeu a pena. Não acontecerá nenhum encontro entre nossos ministros", disse algumas horas depois Macri, 56 anos, ao canal TN.
Macri permaneceu uma hora na residência oficial de Olivos (periferia de Buenos Aires), mas a audiência durou 20 minutos, segundo fontes ligadas ao presidente eleito.
Macri havia anunciado o início de "outra época" para o país, dividido após sua acirrada vitória sobre o peronista Daniel Scioli, candidato apoiado por Kirchner.
"Foi uma reunião muito cordial. Teremos em 10 de dezembro uma bela cerimônia de transmissão", disse Macri ao sair da residência oficial, antes de escapar do tumulto formado por jornalistas, policiais e partidários do futuro presidente.
Segundo fontes ligadas a Macri, o futuro presidente pretendia pedir a Kirchner as renúncias antecipadas da Procuradora Fiscal, Alejandra Gils Carbó, e do chefe do órgão regulador dos meios audiovisuais, Martín Sabbatella.
Na terça-feira, Macri anunciou para o ministério das Relações Exteriores Susana Malcorra, chefe de gabinete do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
Gabinete econômico de seis cabeças
Macri, um homem pró-mercado, anunciou que o novo gabinete não contará com um "super-ministro" da Economia, como de costume, mas com uma equipe de seis ministros e um coordenador: Fazenda e Finanças, Produção (ex-Indústria), Infraestrutura (ex-Planejamento), Agricultura e as novas pastas de Energia e do Transporte.
O novo governo assumirá um país sem dívidas e com baixo desemprego (5,9% no terceiro trimestre de 2015), mas com temas críticos como a inflação, a restrição cambial (banda cambial), a queda das reservas (abaixo de 26 bilhões de dólares) e a desconfiança nas estatísticas oficiais.
"Vamos tornar as regras do jogo mais claras para que todo mundo saiba que se pode investir. Vamos estabilizar o valor da moeda baixando a inflação. Vamos ter um único mercado de câmbio, como em toda a América Latina", prometeu Macri.
Nesta terça-feira, o presidente eleito afirmou ao Clarín que levantará a banda cambial vigente desde 2011 no dia 11 de dezembro, um dia depois de assumir seu mandato.
"Haverá um único tipo de câmbio, onde o Banco Central vai intervir em sua administração", assistiu ao tomar como referência o preço do dólar no mercado paralelo (15,20 pesos na segunda-feira) e não o oficial, a 9,68 pesos.
Segundo Macri, "o problema não é a desvalorização, mas a inflação" de dois dígitos desde 2008.
Outros temas também estão na agenda, como a abertura de importações, a redução de subsídios aos serviços e a eliminação dos impostos às exportações agrícolas, reclamadas pelos grandes produtores.
Consensos e oposição K
Cristina Kirchner recebeu, na segunda-feira, Daniel Scioli e Carlos Zannini, a dupla oficialista derrotada no domingo, e concordaram em trabalhar juntos com o intuito de serem uma oposição "propositiva e construtiva", segundo a imprensa.
"A presidente leva a política no sangue. Não a vejo abandonando ou distanciando-se desse meio", afirmou à AFP o analista Rosendo Fraga, da consultora Nueva Mayoría.
Fraga acrescentou que a presidente em fim de mandato "vai tentar, nesses poucos dias antes de deixar o poder, ser uma espécie de líder da oposição, com a ideia de voltar ao poder nas eleições de 2019 ou em outro momento".
Macri, processado por um caso de escutas ilegais, será o primeiro presidente eleito por voto popular sem ser radical nem peronista, os dois partidos que monopolizaram a política argentina desde o século XX.
Deverá governar sem maioria no Congresso, controlado nas duas câmaras pela Frente para la Victoria, o partido de Kirchner.
A social-democrata União Cívica Radical (UCR) contribuiu através de sua força territorial com a aliança Cambiemos, mas seu principal membro, o senador Ernesto Sanz, desistiu por "razões pessoais" de integrar o gabinete, uma decisão que gerou ruídos antes da posse.