A máquina de propaganda do regime continua elogiando Kim Jong-un, com palavras como "arguto líder". Objetivo é destacá-lo como sucessor do falecido pai (AFP)
Da Redação
Publicado em 27 de dezembro de 2011 às 10h14.
Seul - Um dia antes do funeral de Kim Jong-il, o cenário de poder na Coreia do Norte está cada vez mais nítido e mostra que o país já é liderado por Kim Jong-un, herdeiro de uma dinastia autocrata legitimada pela propaganda, as armas e o isolamento.
A TV norte-coreana "KCTV" continuou nesta terça-feira, na última parte do luto que chega ao fim em 29 de dezembro, transmitindo cenas de dor e condolências ao jovem Kim Jong-un no Palácio Memorial de Kumsusan, onde está o corpo do líder falecido.
Pelas imagens é possível ver funcionários parando em frente ao féretro de vidro de Kim. A todo instante chegam grandes coroas de flores brancas com fitas pretas ao velório, pelo qual desfilaram na última semana a cúpula das Forças Armadas e do Partido dos Trabalhadores.
A máquina de propaganda do regime também continua elogiando Kim Jong-un, com palavras como "arguto líder". O objetivo é destacá-lo como sucessor que, por sua juventude (acredita-se que tenha menos de 30 anos) e falta de experiência, desperta dúvidas.
Já doente seu pai o nomeou general de quatro estrelas e vice-presidente da comissão Militar Central em 2010. Pyongyang o promoveu habilmente como "grande sucessor", consciente de que um candidato alheio aos Kim arriscaria a unidade de um regime obsoleto com aspirações de perpetuar-se.
Por enquanto se desconhece se o jovem herdeiro exercerá na prática o poder totalitário que supostamente foi outorgado a ele ou se, pelo contrário, as decisões serão tomadas por veteranos dirigentes do país, como Jang Song-thaek, cunhado do falecido Kim Jong-il.
Muitos especialistas em Seul assinalam nos últimos dias como possível futuro administrador do país Jang, braço-direito de Kim Jong-il e quem sempre esteve próximo aos círculos de poder. No último domingo, ele apareceu pela primeira vez com uniforme de general na televisão norte-coreana.
Outra figura-chave que emerge nestes dias é Cho Ryung-hae, de 61 anos, assessor de Kim Jong-un e quem, da mesma forma que o sucessor, foi elevado a general em 2010.
Cho, cujo pai e ele mesmo mantinham uma estreita relação com o fundador do regime e "presidente eterno", Kim Il-sung, gozaria de uma influência nas elites norte-coreanas similar à de Jang Song-thaek, respeito ao qual goza além de uma categoria superior no partido, como publicou nesta terça-feira o jornal sul-coreano "The Chosun Ilbo".
Os analistas cogitam também o octogenário Kim Yong-nam, presidente da Assembleia Popular da Coreia do Norte, ao que o espanhol Alejandro Cao de Benós, delegado especial do Comitê de Relações Culturais com o Exterior norte-coreano, denominou "a verdadeira autoridade do país".
As futuras relações com o exterior da hermética Coreia do Norte se transformaram em outra das grandes incertezas na comunidade internacional, onde ninguém espera que Pyongyang tome decisões transcendentes até quinta-feira, quando acaba o luto nacional pela morte de Kim Jong-il.
Esta postura foi confirmada nesta terça-feira pelos vice-ministros da Coreia do Sul e da China, que em um encontro realizado em Seul coincidiram em que "manter a paz e a estabilidade" na Coreia do Norte é a prioridade máxima para ambas as nações.
Embora Seul cogite constantemente a reunificação coreana e inclusive existe um Ministério dedicado a esse objetivo, em momentos delicados como o atual opta pela cautela e advoga para que se mantenha a estabilidade no norte, cuja evolução política pode ter consequências sobre a próspera economia do Sul.
A Coreia do Norte, cuja economia ancorada no comunismo mais ortodoxo sofre uma crise constante desde os anos 90, depende da ajuda humanitária externa para alimentar sua população.
Em contraste, a dinâmica Coreia do Sul, cujo PIB per capita é 15 vezes superior ao do país vizinho, segue abrindo passagem entre as principais economias do mundo.
Diante deste panorama, uma das incertezas na nova etapa que se abre é se, seguindo o exemplo da China, a Coreia do Norte de Kim Jong-un impulsionará uma abertura econômica que dê asas a seu desenvolvimento ou fará o contrário, opte por perpetuar seu isolamento e, com ele, o regime.