Líder norte-coreano Kim Jong Un e presidente chinês comem juntos em Pyongyang em foto divulgada pelo governo da Coreia do Norte (KCNA/Reuters)
AFP
Publicado em 21 de junho de 2019 às 07h45.
A Coreia do Norte elogiou nesta sexta-feira a "invencibilidade" de seus vínculos com a China, país que é aliado histórico do regime norte-coreano, no encerramento de uma visita de dois dias do presidente chinês Xi Jinping, em um momento de estagnação de suas respectivas negociações com os Estados Unidos.
Kim Jong Un afirmou ao presidente chinês que sua visita era uma oportunidade para demonstrar "ao mundo a imutabilidade e invencibilidade da amizade entre a República Popular Democrática da Coreia e a China", informou a agência de notícias norte-coreana KCNA.
No momento em que "estão acontecendo mudanças sérias e complicadas nos cenários internacional e regional", afirmou a KCNA, os dois líderes concordaram em "promover uma estreita comunicação estratégica e desenvolver os interesses comuns".
Pyongyang fez todo o possível para organizar uma grande recepção a Xi, o primeiro presidente chinês a visitar o país em 14 anos, período no qual a Coreia do Norte executou cinco testes nucleares e lançou mísseis com capacidade de atingir o território continental dos Estados Unidos.
A China sempre deu preferência à estabilidade em sua vizinhança e as provocações nucleares norte-coreanas provocaram tensão entre os aliados da Guerra Fria. Pequim apoiou as sanções da ONU contra Pyongyang e Kim não visitou o país para apresentar seus respeitos antes de completar seis anos no poder.
Mas após uma intensa campanha diplomática no ano passado, Kim fez questão de que Xi Jinping - cujo país é o principal apoio diplomático do Norte e o principal parceiro comercial e fornecedor de ajuda - fosse o primeiro chefe de Estado a conhecer.
O líder norte-coreano viajou à China outras três vezes para encontros com Xi e Pyongyang desejava que o presidente chinês retribuísse a visita.
Agora isto finalmente aconteceu, um movimento que os analistas consideram um sinal ao presidente americano Donald Trump de sua ascendência sobre Kim, uma semana antes da reunião do G20 no Japão.
As duas principais economias do mundo protagonizam uma guerra comercial prolongada e uma reunião entre os chefes de Estado é aguardada em Osaka.
Do mesmo modo, as negociações nucleares entre Coreia do Norte e Estados Unidos estão paralisadas, depois que a segunda reunião entre Kim e Trump acabou sem resultados em Hanói em fevereiro, com os dois líderes incapazes de chegar a um acordo sobre o alívio das sanções e o que Pyongyang deveria dar em troca.
A imprensa norte-coreana, no entanto, não citou os comentários de Kim divulgados pelo canal estatal chinês CCTV de que estaria "disposto a ser paciente" nas conversações com Washington, mas que deseja que as partes envolvidas encontrem um meio-termo.
Xi respondeu que a China "avalia positivamente" os esforços da Coreia do Norte, segundo a CCTV.
Jeung Young-tae, diretor do Instituto de Estudos Norte-Coreanos de Seul, destacou que a reunião representa um forte apoio da China a Kim no processo diplomático.
"Xi diz que ajudará Kim a resistir à pressão dos Estados Unidos e pede a Kim que cumpra com suas demandas", afirmou à AFP.
Pyongyang pediu repetidamente a Washington "um novo método de cálculo" para as negociações. Hong Min, pesquisador do Instituto de Unificação Nacional da Coreia do Sul, administrado pelo Estado, considera que a visita de Xi deu a Kim uma "abertura política e diplomática para retomar as conversações com os Estados Unidos".
As autoridades norte-coreanas mobilizaram dezenas de milhares de cidadãos nas ruas dar as boas-vindas a Xi. A KCNA afirmou que a população demonstrou o "afeto amistoso" pelos cidadãos chineses, com os quais "compartilham alegrias e tristezas" na busca do socialismo.
Kim e Xi percorreram juntos as ruas da capital em um carro conversível e na quinta-feira à noite o presidente chinês e sua delegação assistiram a uma apresentação especial das clássicas coreografias de massas.
O evento exibiu imagens da história e da amizade entre China e Coreia - formadas por milhares de crianças -, slogans e um retrato de Xi.
As canções do programa incluíam "Te amo, China". O jornal oficial Rodong Sinmun publicou fotos de Kim e sua esposa Ri Sol Ju dando as boas-vindas a Xi.
Pequim enviou milhões de soldados conhecidos como "Voluntários do Povo Chinês" para salvar a Coreia do Norte da derrota durante a Guerra da Coreia. Mao Tsé-Tung descreveu as relações com o país vizinho como "tão próximas como lábios e dentes".
Atualmente, a China considera a Coreia do Norte como uma área estratégica que mantém os 28.500 soldados americanos na Coreia do Sul longe de suas fronteiras.