O ex-magnata do petróleo e opositor russo Mikhail Khodorkovsky: presidente Vladimir Putin assinou o indulto com efeito imediato (Alexander Nemenov/AFP)
Da Redação
Publicado em 20 de dezembro de 2013 às 12h32.
Moscou - O ex-magnata do petróleo e opositor russo Mikhail Khodorkovsky saiu nesta sexta-feira da prisão, depois de mais de 10 anos de detenção, graças a um indulto presidencial, e viajou rapidamente para a Alemanha.
O ex-presidente do grupo Yukos, que já foi o homem mais rico da Rússia, saiu discretamente do campo de detenção na cidade de Segezha, na região de Carelia (noroeste), e não foi possível obter imagens.
Horas depois da libertação, Khodorkovsky embarcou em um voo para a Alemanha, segundo o serviço penitenciário russo. A agência de notícias judiciais RAPSI informou que ele viaja para Berlim.
"Ele viajou de avião para a Alemanha, onde sua mãe está em tratamento", anunciou o serviço penitenciário.
A mãe do ex-magnata, Marina, 79 anos, passa por um tratamento contra o câncer na Alemanha, mas a cidade não foi revelada. Segundo uma fonte ligada à família, a esposa de Khodorkovsky, Inna, está na Suíça.
O presidente Vladimir Putin assinou na manhã desta sexta-feira o indulto com efeito imediato, citando razões humanitárias.
"Por princípios humanitários, decreto que Mikhail Borisovich Khodorkovsky (...) deve ser liberado da prisão antes do fim de sua pena. Este decreto entra em vigor imediatamente", afirma um curto comunicado da presidência.
Na quinta-feira, Putin surpreendeu ao anunciar em sua entrevista coletiva anual que assinaria o indulto do ex-magnata. De acordo com o presidente russo, Khodorkovsky, que deveria deixar a prisão em agosto de 2014, enviou o pedido alegando que sua mãe está muito doente.
Até o momento as circunstâncias da libertação são pouco claras.
O jornal Kommersant afirma nesta sexta-feira que Khodorkovsky fez o pedido de indulto pressionado pelos serviços secretos. Até então, o ex-oligarca se recusara a fazer a solicitação por considerar que isto equivaleria a reconhecer sua culpa.
No início de dezembro, depois da promotoria anunciar a abertura de uma nova investigação, Khodorkovsky recebeu a visita de agentes do serviço secreto, afirma o Kommersant, que menciona fontes que solicitaram anonimato.
Os agentes informaram que o estado de saúde da mãe do ex-magnata, Marina, que tem câncer, piorava a cada dia e também advertiram que ele poderia sofrer uma terceira investigação, por suposta lavagem de dinheiro, afirma a publicação.
"Esta conversa, que aconteceu sem a presença de seus advogados, obrigou Khodorkovsky a escrever ao presidente", completa o Kommersant.
Khodorkovsky, 50 anos, foi detido em 2003 e condenado em 2005 a oito anos de prisão por "falta de pagamento e fraude fiscal". Ao lado dele foi condenado seu colega Planton Lebedev.
Em 2010, ao fim de um segundo julgamento por "roubo de petróleo e lavagem de dinheiro" de 23,5 bilhões de dólares, Khodorkovsky recebeu pena adicional de seis anos, o que levou a condenação a 14 anos.
A condenação foi posteriormente reduzida em duas ocasiões, para 11 anos, o que deixava a data de libertação do ex-presidente do grupo Yukos em agosto de 2014.
O mais rebelde dos oligarcas surgidos nos anos 90, e que foi o homem mais rico da Rússia, caiu em desgraça depois da chegada de Putin ao Kremlin.
Segundo economistas e analistas políticos, o Kremlin busca com a libertação melhorar sua imagem antes dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, em fevereiro de 2014.
Ao mesmo tempo, não acreditam que a libertação vai mudar radicalmente o clima do mundo dos negócios na Rússia.
"É um sinal muito importante", disse o economista Sergei Guriev, coautor de um relatório muito crítico da segunda condenação de Khodorkovsky em 2010. Depois de muitas pressões, ele se mudou para a França.
"Em si não mudará nada, mas dará esperanças aos investidores", disse Guliev à AFP.
O jornal econômico Vedomosti considera a iniciativa um "trunfo" que Putin tirou da manga em um momento crítico.
"Pessoalmente, Khodorkovsky já não representa uma ameaça para o sistema", afirma, antes de apontar que a libertação "não vai curar as feridas infligidas à economia e a sociedade há 10 anos".
"Os investimentos não vão retornar, as empresas que foram fechadas ou que não foram criadas não retornarão. Os que emigraram não virão", afirma o Vedomosti.
O principal sócio de Khodorkovsky, Platon Lebedev, condenado ao seu lado, deve deixar a prisão em maio de 2014. O advogado do réu afirmou que pretende abordar com o cliente a possibilidade de também pedir o indulto.
*Atualizada às 13h32 do dia 20/12/2013