O secretário de Estado americano John Kerry (D) e o ministro russo das Relações Exteriores durante reunião em Genebra (Evan Vucci/AFP)
Da Redação
Publicado em 2 de março de 2015 às 17h47.
Genebra - O secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, reuniram-se por cerca de 80 minutos nesta segunda-feira, em Genebra, para tratar da crise na Ucrânia.
Após o encontro, o chanceler russo falou brevemente sobre os "progressos notáveis" na implementação dos últimos acordos de paz assinados em Minsk, em 15 de fevereiro, indicando que o "cessar-fogo está sendo aplicado, e as armas pesadas foram retiradas" do leste da Ucrânia.
Lavrov também pediu às autoridades ucranianas que suspendam o "bloqueio de facto" imposto à região do Donbass e que os serviços básicos sejam restabelecidos para a população.
Já o chefe da diplomacia americana, que havia recentemente acusado as autoridades russas de "mentir" sobre os combates, declarou hoje estar "muito esperançoso" com o diálogo em Genebra e com a possibilidade de uma redução da violência nesse país do leste europeu.
Kerry voltou a afirmar que a trégua acordada em Minsk ainda não é "um cessar-fogo completo", mas disse esperar que o seja "nas próximas horas".
"Espero que isso seja o caminho para menos violência, e não para mais decepções", completou.
O encontro Kerry-Lavrov aconteceu pouco depois do anúncio pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos de que mais de seis mil pessoas morreram no leste da Ucrânia desde o início do conflito, em abril de 2014.
"Mais de seis mil vidas foram perdidas em menos de um ano, em consequência dos combates no leste da Ucrânia", informou em Genebra o alto comissário, o jordaniano Zeid Raad Al-Hussein, denunciando a destruição das infraestruturas e o sofrimento dos civis.
Kerry e Lavrov participaram da sessão de abertura do Conselho e, em seus discursos em plenária, ambos defenderam seus pontos de vista sobre a Ucrânia.
Por um lado, o secretário americano, advertiu que o Conselho de Direitos Humanos deve "observar os fatos [na Ucrânia] e não se deixar induzir ao erro". Ele alegou ainda que a ONU deve solicitar a "prestação de contas" dos que violam os direitos humanos nessa antiga república.
Por outro, o chanceler russo criticou os que querem, segundo ele, sabotar uma solução pacífica na Ucrânia.
Em Moscou, o Kremlin garantiu hoje que o presidente russo, Vladimir Putin, não mudará sua posição, apesar das sanções ocidentais.
"As tentativas de pressionar Putin, ou de fazê-lo mudar de opinião sob pressão são totalmente em vão", descartou o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, em entrevista à agência de notícias russa RIA Novosti.
No terreno, uma relativa calma parece retornar à região nesses últimos dias. Embora o cessar-fogo acordado em Minsk tenha entrado em vigor três dias depois, ambos os lados se acusam mutuamente de violar a trégua em diferentes ocasiões.
A situação na Ucrânia também será tema, nesta segunda-feira à noite, de mais uma conversa por telefone entre os presidentes russo; ucraniano, Petro Poroshenko; e francês, François Hollande; além da chanceler alemã, Angela Merkel.
Reunião sobre gás
No plano energético, a União Europeia (UE) tenta desarmar um novo conflito do gás: a gigante russa Gazprom começou na semana passada a fornecer gás diretamente para as áreas sob controle dos rebeldes, alegando que Kiev tinha deixado de fazê-lo.
O vice-presidente da Comissão Europeia, Maros Šefčovič, expressou sua disposição para tentar alcançar um acordo nesta segunda entre Kiev e Moscou, em uma reunião em Bruxelas com os ministros da Energia russo e ucraniano. O objetivo é garantir o abastecimento para a UE.
Essa mediação devem ser precedida por conversas "em diferentes configurações", segundo uma fonte próxima ao assunto.
Quase 15% das importações totais da UE transitam pela Ucrânia.
A porta-voz dos temas de Energia da Comissão, Anna-Kaisa Itkonen, disse à AFP que "as discussões serão sobre a implementação do pacote de inverno".
Acordado em outubro de 2014, esse pacote incluía o preço de compra e as quantidades de hidrocarboneto que o grupo ucraniano Naftogaz deveria pagar durante seis meses ao russo Gazprom.