Donald Trump e Kamala Harris, que disputam a Presidência dos EUA (AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 15 de outubro de 2024 às 06h01.
Última atualização em 28 de outubro de 2024 às 15h58.
Eleitores brasileiros que vivem nos Estados Unidos e poderão votar nas eleições americanas dão maior apoio à democrata Kamala Harris do que ao republicano Donald Trump, mostram dados de uma pesquisa EXAME/Ideia.
Dentre os entrevistados, 60% disseram que votarão em Kamala, 35% que preferem Trump, 2% preferem outro candidato (há nomes independentes na disputa) e 3% não sabem.
O estudo ouviu 802 brasileiros, maiores de 18 anos, entre os dias 6 e 12 de outubro, nos estados da Flórida, Virgínia, Maryland, Nova Jersey, Nova York, Massachusetts, Texas, Illinois e Califórnia, além do Distrito de Columbia, onde fica a capital, Washington.
Hoje cerca de 2 milhões de brasileiros vivem nos Estados Unidos, segundo estimativa do Itamaraty, um número 20% maior do que em 2016. Entre 2013 e 2022, 103 mil brasileiros obtiveram a cidadania americana, de acordo com dados do governo dos EUA.
As pesquisas nacionais, que ouvem americanos do país inteiro, mostram um cenário de empate técnico. O site 538, que agrega dados de várias pesquisas, mostra Kamala com 48,6% das intenções de voto, e Trump com 46,1%. Este cenário se mantém desde agosto, com ligeiras variações. A eleição será realizada em 5 de novembro.
O Ideia perguntou ainda quem os brasileiros que vivem nos EUA acham que vai ganhar a eleição. Metade deles (50%) avalia que Kamala será a vencedora, 45% dizem que Trump deve ganhar e 5% não sabem opinar.
A última questão feita foi quem foi o melhor presidente dos EUA para a comunidade brasileira. O atual mandatário, Joe Biden, teve 60% de citação. Seu antecessor, Trump, que governou de 2017 a 2021, teve 33% das menções, e 7% não souberam avaliar.
“A comunidade brasileira nos EUA é predominantemente democrata. Um dos motivos da escolha de Kamala Harris é a posição radical de Donald Trump com relação à imigração, tema chave desta eleição, diz Cila Schulman, presidente do instituto Ideia.
“Mesmo que estejam regularizados no país, os brasileiros temem que uma mudança drástica na legislação os expulse. Portanto, vivem um clima de maior insegurança pessoal, mesmo os que têm curso superior e renda”, prossegue Schulman.
Trump foi eleito em 2016 com a plataforma de combater a imigração irregular nos Estados Unidos, enquanto Biden propôs uma abordagem mais humanizada a quem tenta entrar no país de forma ilegal. Durante o governo Biden, no entanto, a entrada de imigrantes sem documentos no país bateu recorde.
Em 2022, 2,5 milhões de estrangeiros em situação irregular foram expulsos ou presos ao tentar entrar no país, segundo dados do governo americano. Foi o maior número já registrado na história, e mais de três vezes a média anual da década anterior.
O republicano busca um novo mandato nas eleições deste ano e segue prometendo combater a imigração. Ele propõe fazer remoções em massa de estrangeiros e apertar a segurança na fronteira com o México.
A vice-presidente Kamala Harris, que disputa a presidência neste ano, promete melhorar o sistema de imigração, para conter a entrada de imigrantes irregulares, mas acelerar o processamento de solicitações. A democrata também culpa o Congresso, por não ter aprovado medidas propostas por Biden para reforçar a segurança na fronteira.
Schulman aponta ainda que, nos últimos anos, o apoio aos republicanos entre a comunidade brasileira vem crescendo, assim como ocorre com a comunidade latina nos EUA em geral. “Na pesquisa que fizemos em 2016, 10% dos brasileiros preferiam o republicano. Em 2020, aumentou para 27% e agora em 2024 para 35%”, diz.
“O perfil destes brasileiros que apoiam republicanos é de eleitores mais velhos, entre 50 e 60 anos, evangélicos, conservadores, empreendedores, muitos deles nos ramos de alimentação, comércio, esportes, como artes marciais, e salões de beleza. Ou seja, são brasileiros que empregam, em vez de serem empregados”, prossegue a presidente do Ideia.
Em 2020, o instituto também fez pesquisas com eleitores brasileiros nos EUA. Naquele ano, em outubro, Biden tinha 71% de preferência, ante 27% de Trump. O democrata venceu aquela eleição.
"Uma curiosidade da nossa série de pesquisas com o público brasileiro é que ele tem 'acertado' o vencedor. Em 2016, a maioria dele dizia que Trump iria vencer e, em 2020, Biden. Agora, eles veem uma vitória apertada de Kamala Harris", diz Schulman.