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Kamala Harris promete ser 'presidente da classe média' em discurso na Convenção Democrata

Vice-presidente aceitou nomeação democrata e enfrentará Donald Trump nas eleições de novembro

A vice-presidente dos EUA e candidata do partido democrata discursa em Chicago na convenção da sigla. Kamala se apresentou aos americanos no discurso mais importante até aqui de sua carreira (AFP/AFP)

A vice-presidente dos EUA e candidata do partido democrata discursa em Chicago na convenção da sigla. Kamala se apresentou aos americanos no discurso mais importante até aqui de sua carreira (AFP/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 22 de agosto de 2024 às 23h53.

Última atualização em 23 de agosto de 2024 às 07h15.

Chicago, Estados Unidos - A vice-presidente Kamala Harris fez nesta quinta, 22, o discurso mais importante de sua carreira. Ela aceitou formalmente a candidatura à Presidência dos Estados Unidos em pronunciamento na Convenção Democrata, e prometeu que fortalecer a classe média será o foco de seu governo, caso seja eleita.

"Sabemos que uma classe média forte sempre foi importante para o sucesso da América. Construir essa classe média será uma meta definidora da minha Presidência. Isso é pessoal para mim. A classe média é de onde eu vim", discursou Kamala Harris.

A democrata, de 59 anos, falou para uma arena lotada, onde assentos de várias seções se esgotaram três horas antes de ela falar. A Convenção Democrata é realizada no United Center, casa do time de basquete Chicago Bulls.

Na plateia, a maioria das pessoas usava branco, especialmente as mulheres, em homenagem ao Movimento Sufragista, que lutou pelo direito das mulheres ao voto nos Estados Unidos, conquistado apenas em 1920 no país todo.

No palco em frente, mais de 5.000 delegados e outros representantes do Partido Democrata, agrupados de acordo com seus estados, agitavam bandeiras dos Estados Unidos e placas com o nome Kamala.

Confirmada como candidata, ela enfrentará Donald Trump nas eleições presidenciais em 5 de novembro. As pesquisas das últimas semanas mostram empate técnico entre os dois, com ligeira vantagem para Kamala.

Caminhos inesperados

No discurso, Kamala buscou se apresentar aos eleitores. Ela assumiu a candidatura há um mês, quando o presidente Joe Biden desistiu da reeleição.

"América, o caminho que me trouxe aqui nas últimas semanas foi, sem dúvida, inesperado. Mas eu não sou estranha a jornadas improváveis", disse.

Em seguida, ela contou que sua mãe, Shymala Harris, tinha 19 anos quando veio da Índia para a Califórnia, com o sonho de ser cientista e curar o câncer de mama. Ela deveria voltar para a Índia, mas se apaixonou por um estudante jamaicano, com quem teve Kamala.

"Meus pais se separaram e foi principalmente minha mãe que nos criou. Antes de ela poder comprar uma casa, ela alugou um pequeno apartamento, em uma linda vizinhança de trabalhadores, como bombeiros, enfermeiras e operários da construção, todos eles mantinham seus jardins com orgulho", contou.

Ela contou também que, enquanto crescia, seus pais a ensinaram muitas coisas sobre o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos, e que isso a levou a querer estudar direito.

Kamala disse que decidiu ser procuradora para proteger pessoas como uma amiga do ensino médio, Wanda, que sofria abusos sexuais em casa. Ela chegou ao cargo de procuradora-geral da Califórnia e, depois, foi senadora pelo estado, antes de ser eleita vice-presidente em 2020, na chapa de Biden.

A democrata buscou ainda adotar um discurso de união. "Com esta eleição, nossa nação tem uma oportunidade preciosa de deixar a amargura, o cinismo e as batalhas divisivas do passado. Uma chance de criar um novo caminho à frente. Não como membros de um partido ou facção, mas como americanos", disse. Ela prometeu ser uma presidente de todos, unir o país em torno "das mais altas aspirações" e ser uma presidente realista e prática.

O discurso reservou espaço para ataques a Trump. "Esta é uma das eleições mais importantes da história da nossa nação. De muitas formas, Donald Trump não é um homem sério. Mas as consequências de colocar Donald Trump de volta à Casa Branca são extremamente sérias. Considere o poder que ele teria, especialmente depois da Suprema Corte decidir que ele seria imune a perseguição penal", afirmou.

Ela disse ainda que Trump ameaça prender jornalistas e pessoas que fazem oposição a ele e soltar ativistas que atacaram policiais durante a invasão do Congresso, em 6 de janeiro. "Ele quer usar os poderes da Presidência para servir o único cliente que ele já teve: ele mesmo", disse.

"Trump quer levar o país de volta ao passado, mas não vamos recuar", prosseguiu, citando um lema de campanha. Ela prometeu proteger programas que ajudam escolas e o acesso a saúde.

Direito ao aborto, imigração e política externa

Kamala também defendeu o direito ao aborto e às escolhas pessoais, culpou Trump pela perda deles no país e disse que o republicano poderá reduzir ainda mais o acesso das mulheres ao procedimento. "Se o Congresso passar uma lei para restaurar os direitos reprodutivos, eu, como presidente, assinaria ela com orgulho", afirmou.

Ela também prometeu tentar aprovar de novo uma lei bipartidária para mudar o sistema de imigração dos EUA, que foi rejeitada pelo Congresso. "Podemos criar um caminho para a cidadania e proteger nossa fronteira", disse.

Sobre política externa, ela usou tom firme. Prometeu manter os EUA como a força militar mais poderosa do mundo, fortalecer a Otan e disse que ajudou a Ucrânia a se preparar para a invasão da Rússia em 2022.

Em um dos temas mais delicados da eleição, ela se comprometeu a ajudar Israel e, em seguida, defendeu os direitos dos palestinos. "Sempre vou garantir que Israel tenha como se defender e que nunca mais passe por algo como o que ocorreu em 7 de outubro. Ao mesmo tempo, defendeu que o povo palestino também tem direito à segurança e auto-determinação".

Quatro dias de evento

O pronunciamento de Kamala encerrou quatro dias de Convenção Democrata em Chicago, nos quais o partido buscou se unir em torno de Kamala e dar gás para uma campanha que começou em julho e tem menos de dois meses até a eleição.

Os discursos da ex-primeira dama Michelle Obama, da apresentadora Oprah Winfrey e de Hillary Clinton, candidata derrotada à Presidência em 2016, estiveram entre os que mais empolgaram a multidão. Os ex-presidentes Barack Obama e Bill Clinton também falaram, assim como o atual presidente, Joe Biden.

O evento teve ainda vários shows, de artistas como John Legend, Pink e Steve Wonder, que se apresentaram entre os discursos.

Havia o temor de que fortes protestos poderiam ocorrer durante o evento e terminar em confusão, pois a polícia havia prometido repressão dura em caso de descumprimento de acordos. Houve protestos em vários dias e noites perto dos locais da convenção, sem grandes incidentes.

O proximo grande evento das eleições dos EUA será um debate entre Kamala e Trump, marcado para 10 de setembro.

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