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Kaine, vice de Hillary apaixonado pela América Latina

Tim Kaine começou no mundo da política em 1995, como vereador de Richmond (Virgínia), e desde então centrou sua carreira no serviço público


	Tim Kaine: para alguns analistas, porém, esse lado aprazível de Kaine poderia acabar se voltando contra ele
 (Carlos Barria / Reuters)

Tim Kaine: para alguns analistas, porém, esse lado aprazível de Kaine poderia acabar se voltando contra ele (Carlos Barria / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 22 de julho de 2016 às 23h25.

Washington - Tinha pouco mais de 20 anos, estudava Direito e decidiu deixar tudo para viajar a Honduras, mais precisamente a uma pequena escola dirigida por jesuítas espanhóis e americanos que buscavam fazer do mundo um lugar melhor.

O que não sabia aquele jovem é que essa viagem mudaria sua vida.

Nem que pouco mais de 30 anos depois estaria a um passo de ser vice-presidente dos Estados Unidos, como companheiro de chapa de Hillary Clinton.

Quando Tim Kaine chegou ao país centro-americano, em 1980, atravessava essas dúvidas existenciais que aguçam os jovens sobre o futuro e a vida, mas "uma pequena voz interior", arraigada em suas crenças católicas, lhe impulsionou a fazer um intervalo em seus estudos em Harvard.

"Brincalhões, enérgicos e cheios de sonhos" lembra Kaine sobre os adolescentes aos quais ensinava carpintaria e outras técnicas manuais na escola El Progresso, enquanto aqueles jesuítas que "haviam escolhido servir aos mais pobres entre os pobres, longe de seus lares" se transformaram, em seus palavras, em seu "modelo a seguir quando necessitava uma direção".

"Meus mais de 30 anos como advogado de direitos civis e servidor público se construíram sobre a base do que aprendi em Honduras", afirmou há menos de um ano, após retornar de uma viagem oficial como senador àquela humilde escola no meio da crise migratória infantil que ainda assola a América Central.

Ali aprendeu espanhol e também criou um forte vínculo com a região, uma empatia especial com o continente que depois, como senador e membro do Comitê de Relações Exteriores do Senado, defenderia de sua cadeira.

Tim Kaine começou no mundo da política em 1995, como vereador de Richmond (Virgínia), e desde então centrou sua carreira no serviço público, depois como prefeito dessa cidade, para logo se transformar em vice-governador e governador de seu estado, e acabar, em 2012, no Senado dos Estados Unidos.

Essa dilatada experiência na política foi um de seus pontos fortes para ser escolhido hoje pela virtual candidata democrata à presidência, Hillary Clinton, como seu companheiro de chapa, já que, além de ser um analista conhecedor da política nacional, também está envolvido em Defesa, através do Comitê de Serviços Armados do qual faz parte.

Entre suas últimas batalhas, e trabalhando em conjunto com senadores republicanos como o ex-candidato à presidência, John McCain, tentou dotar a Casa Branca de novos poderes para lutar contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), mas sempre sem o envio de tropas no terreno.

Em seus anos no Senado, não duvidou em envolver-se na defesa dos imigrantes dentro do país, tentando legislar e apoiar os ilegais e usando seus conhecimentos de castelhano para dirigir-se à comunidade latino-americana que vive nos Estados Unidos.

Não é raro vê-lo pelos corredores do Senado rodeado de uma nuvem de jornalistas de origem latina tentando arrancar-lhe declarações em seu espanhol fluente.

Casado com Anne Holton, atual secretária de Educação da Virgínia, desde 1984 e com quem tem três filhos, os que conhecem Kaine destacam de sua personalidade um dom especial de empatia.

"Sabe dar um toque pessoal até ao aperto de mãos mais rotineiro", contou à Agência Efe José Parra, ex-assessor do líder da minoria democrata no Senado, Harry Reid.

"Há alguns meses o vi em um evento e fui cumprimentá-lo. Estava falando com o ex-senador Richard Lugar, uma eminência em Relações Exteriores. Kaine não só interrompeu a conversa para cumprimentar-me, mas disse a Lugar: 'Lhe apresento meu amigo José'", relatou Parra, especialista em comunicação política.

"Esses detalhes para uma pessoa comum são vitais e, sobretudo, em uma campanha. O carisma ganha eleitores", comentou.

Para alguns analistas, porém, esse lado aprazível de Kaine poderia acabar se voltando contra ele, especialmente em um ciclo eleitoral tão atípico e duro contra o republicano Donald Trump.

Outros, no entanto, consideram que o senador também compensa a frieza que muitos eleitores enxergam em Hillary, cujo marido, o ex-presidente Bill Clinton, também recomendou que Kaine caminhasse ao lado da ex-secretária de Estado em seu caminho rumo à Casa Branca. 

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