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Da Redação
Publicado em 25 de fevereiro de 2011 às 19h50.
Trípoli - O coronel Muamar Kadhafi anunciou nesta sexta-feira a abertura de arsenais "para armar o povo" e pediu a seus partidários que "defendam a Líbia" contra a revolução, que tomou o controle do leste do país e ameaça derrubar o regime fundado por ele há 42 anos.
O "Guia da Revolução" líbia, de 68 anos, reuniu a multidão na praça Verde de Trípoli, em um momento em que suas forças reprimiam ferozmente os focos de insurreição no oeste da capital.
O cerco sobre Kadhafi estreitava-se também no exterior, em meio a uma onda de críticas por conta da feroz repressão ao levante popular que explodiu em 15 de fevereiro.
Segundo o número dois da missão líbia na ONU, Ibrahim Debbashi, que abandonou o regime, a repressão já deixou milhares de mortos.
O Conselho de Segurança apressou-se em discutir a situação na Líbia e os países da União Europeia (UE) disseram-se dispostos a impor uma zona de proteção aérea para impedir a mobilização de aviões militares líbios, caso haja decisão da ONU neste sentido.
Várias capitais ocidentais avaliavam, por sua vez, bloquear os bens no exterior de Kadhafi e seus aliados.
O regime enfrentava também a deserção de diversos hierarcas, entre eles os embaixadores da Líbia na França, em Lisboa, e na Unesco.
A comunidade internacional acelerava a retirada por terra, mar e ar de milhares de estrangeiros no país, em um movimento que se converteu em um verdadeiro êxodo.
"Lutaremos e venceremos", proclamou Kadhafi do alto da muralha da Praça Verde. "Se for necessário, abriremos todos os arsenais para armar todo o povo", completou.
O povo "quer Kadhafi", assegurou, e instou seus seguidores a se prepararem para "defender a Líbia".
Kadhafi, segundo fontes opositoras em Baida (leste), concentrou na capital em torno de 9.000 milicianos Jamis, com tanques e aviões. Essas milícias têm esse nome por estar sob o comando de Jamis Miniat al-Kadhafi, um dos sete filhos do líder líbio.
Informes dão conta de que nesta sexta-feira houve distúrbios em um bairro popular de Trípoli, durante os quais os milicianos mataram ao menos dois manifestantes.
Kadhafi tinha proclamado na terça-feira sua determinação de morrer como um "mártir" e de ficar no combate "até a última gota de sangue".
Na quinta-feira, acusou os manifestantes em Zauiya (60 km a oeste de Trípoli) de estarem vinculados à rede islâmica Al-Qaeda e de atuar sob efeito de drogas.
Ao menos 23 pessoas morreram e 44 ficaram feridas no ataque das forças de segurança contra essa cidade, que conta com a maior refinaria de petróleo do país, informou o jornal líbio Quryna, publicado em Beghazi, a cidade do leste nas mãos dos rebeldes.
Outra cidade do oeste, Zuara, foi palco de sangrentos combates, afirmaram refugiados que fugiam para a fronteira com a Tunísia.
Em Benghazi, segunda maior cidade líbia (1.000 km a leste de Trípoli), em torno de 1 mil pessoas participaram de motins anti-Kadhafi em frente ao palácio da Justiça, convertido em quartel-general da insurreição.
Em Musratah (150 km a leste da capital), informes ainda sem confirmação relatavam confrontos.
A fronteira com o Egito estava sendo custodiada por apenas um soldado, que fazia um controle informal dos passaportes dos jornalistas que continuavam entrando na Líbia por essa região controlada pelos rebeldes.
Diversos países aceleravam a retirada de seus cidadãos.
Um barco fretado pelos Estados Unidos zarpou nesta sexta-feira com destino a Malta com "mais de 300 pessoas a bordo", mais da metade delas cidadãos americanos, anunciou o Departamento de Estado.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU adotou uma resolução que exige a suspensão da Líbia e uma investigação independente para determinar se os ataques podem dar lugar a acusações de "crimes contra a humanidade".
A rebelião na Líbia está inspirada nos movimentos populares que desde o início deste ano derrubaram regimes autoritários na Tunísia e no Egito e que desde então estendem-se para todo o mundo árabe.