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Kadafi recorre a imigrantes africanos contra rebeldes no leste

Segundo algumas fontes do país, mercenários aceitaram por causa do alto salário, de US$ 500 por dia

Rebeldes em Brega, na Líbia: segundo um somali, pelo menos 5 mil africanos se alistaram (Gianluigi Guercia/AFP)

Rebeldes em Brega, na Líbia: segundo um somali, pelo menos 5 mil africanos se alistaram (Gianluigi Guercia/AFP)

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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2011 às 10h31.

Túnis - O regime político de Muammar Kadafi recorreu a imigrantes africanos para engrossar suas fileiras de combatentes no conflito na Líbia, sob a condição de que soubessem atirar e aceitassem combater no leste do país.

De acordo com o testemunho de refugiados no posto fronteiriço de Ras el Jedir, a campanha de alistamento aconteceu no início da guerra, quando funcionários líbios fizeram uma oferta que, segundo algumas fontes, foi aceita por milhares de imigrantes negros.

"Buscavam os negros, os imigrantes negros. Buscavam-nos em nossas comunidades, e muitos aceitaram porque o salário era alto, de US$ 500 por dia", relata o refugiado ganês Kapna Ousu, que trabalhava como operário de construção em Trípoli.

"Alistaram-se sobretudo trabalhadores de Níger, Mali e também de meu país, Gana. Não sei quantos se alistaram, mas foram muitos", declara Ousu.

O refugiado afirma que as forças do regime de Kadafi faziam testes com os imigrantes para comprovar que eles sabiam manejar armas de fogo, para então enviá-los a combate ao leste da Líbia.

Ousu disse que vários companheiros de fuga seus aceitaram a oferta, mas que ele não o fez porque não podia nem queria. "Não sei atirar e prefiro salvar minha vida", explica.

O somali Ali Abubaker, que até o início do conflito também trabalhava como operário de construção na capital líbia, afirma que, entre os imigrantes de sua nacionalidade, a quantia oferecida para "combater os rebeldes de Benghazi" chegava a US$ 800.

"Nós temos experiência, sabemos combater melhor", ressalta Abubaker, que cifrou em "pelo menos 5 mil" o número de trabalhadores africanos que se alistaram, procedentes principalmente de Níger e Chade.


Outro refugiado, o pedreiro ganês Aziz Kodem, conta que, noutro dia, um amigo telefonou-o em Trípoli para dizer-lhe que a oferta do regime líbio se estendia entre as comunidades de trabalhadores africanos.

"A mim, a oferta nunca chegou. Se tivesse chegado, francamente, acho teria cogitado", admite Kodem.

Não é a primeira vez que Kadafi utiliza mercenários africanos. Desde que fracassou em sua ambição de se transformar no líder do pan-arabismo, o líder líbio não retrocedeu na tentativa de comandar a África por meio do dinheiro e das armas.

Seu objetivo era liderar o continente com projetos como a União Africana (UA) - proclamada em 1999 em Lomé e que não teria sido fundada sem o financiamento da Líbia -, e com a intervenção em diversos países mediante grupos guerrilheiros.

Com esse objetivo, Kadafi interveio direta ou indiretamente, militar, política ou economicamente, nos assuntos internos de Níger, Mali, República Centro-Africana, Sudão, Chade, República Democrática do Congo (RDC) e Ilhas Comores, entre outros países.

Tropas líbias combateram nas duas últimas décadas no Chade, Sudão e República Centro-Africana, a favor de grupos rebeldes ou em defesa de regimes, enquanto o petróleo líbio serviu para sustentar os insurgentes da RDC e os tuaregues de Mali e Níger.

A novidade é que, pela primeira vez, Kadafi recorre a mercenários do continente para combater no interior de seu próprio país, onde os trabalhadores africanos são muito numerosos em virtude dos generosos programas de cooperação assinados por seus países de origem com Trípoli.

Entre os refugiados africanos que chegaram a Ras el Jedir provenientes do território líbio, não faltam, no entanto, outras opiniões.

O eletricista malinês Salif Diara afirma que o recrutamento pelo regime de Kadafi de trabalhadores africanos para combater os rebeldes "é um mito". "É uma mentira que foi propagada pelos próprios líbios para nos desacreditar", exclama.

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