Bandeira do movimento gay em frente à Suprema Corte dos EUA (REUTERS/Joshua Roberts)
Da Redação
Publicado em 26 de junho de 2015 às 22h56.
Washington - Com a legalização do casamento gay, a Suprema Corte dos Estados Unidos selou nesta sexta-feira o giro radical que experimentou na última década a sociedade do país sobre um "direito" ao qual, até meia década atrás, se opunha a maioria e contra o qual até mesmo políticos progressistas faziam campanha.
Quando Barack Obama chegou à Casa Branca em 2009, o casamento homossexual só era legal em dois estados, não tinha uma maioria social a seu favor, e seguia vigente uma lei, impulsionada pelo democrata Bill Clinton, contrária a este tipo de união.
Menos de sete anos depois, hoje 57% dos americanos apoia o casamento gay "com naturalidade", uma estatística do Pew Center na qual exerce um papel-chave os jovens do milênio (os que agora têm entre 15 e 35 anos), segundo os especialistas consultados pela Agência Efe.
"O principal fator que explica a extraordinária mudança social dos últimos anos é o impacto que existe sobre todos os que conhecem uma pessoa que já enfrentou essa dura conversa na qual se conta a seu entorno que é homossexual", declarou à Efe Julian Davis Mortenson, advogado especialista em litígios da comunidade LGBT.
"Esse ato de coragem, essas conversas, é o que muda as coisas. É ali, no quarto de seu irmão gay no final do corredor, onde começa a rápida mudança que o país viveu", acrescentou Mortenson, professor de Direito na Universidade de Michigan.
A luta pelo casamento homossexual, considerada por muitas vozes nos Estados Unidos como o maior movimento contemporâneo de direitos civis, chegou hoje a sua estação final: a Suprema Corte, que blindou estas uniões como um "direito" em todo o país.
Esta decisão judicial é a mais importante sobre o direito ao casamento desde que o Supremo derrubou a proibição das uniões de pessoas de diferentes raças em 1967.
"Frequentemente, o progresso chega pouco a pouco, às vezes se dão dois passos adiante, às vezes se dá um passo pra trás, empurrado pelo esforço persistente de dedicados cidadãos. Mas às vezes há dias como este, quando esse esforço lento e sustentado é recompensado com a justiça que irrompe como um raio", disse hoje Obama após ser informado da decisão.
Sua evolução pessoal é um exemplo da rapidez com a qual a sociedade americana, acompanhada por políticos e juízes, deu um giro em sua visão do casamento homossexual.
Obama, que hoje comemorou a legalização como "uma vitória para América", não defendeu abertamente o casamento homossexual até 2012, quando um comentário de seu vice-presidente, Joe Biden, lhe obrigou a posicionar-se com clareza sobre este tema.
Até então dizia estar "indeciso", apelava a sua fé cristã, e sugeria que sua linha vermelha na defesa dos direitos dos homossexuais estava no casamento.
Forçado pelas declarações de Biden a favor do casamento gay três dias antes, Obama disse finalmente em entrevista em 9 de maio de 2012: "Concluí que para mim é importante afirmar que acredito que os casais do mesmo sexo deveriam poder se casar".
Essa foi a primeira vez que um presidente dos Estados Unidos se posicionava a favor do casamento homossexual, ao qual até cinco anos atrás se opunha a maioria dos cidadãos.
Em sua primeira campanha, Obama defendeu a revogação da Lei em Defesa do Casamento ("Defense of Marriage Act", ou DOMA), promulgada em 1996 por outro presidente progressista, Bill Clinton.
Há dois anos, em outra decisão histórica, o Supremo declarou inconstitucional uma parte-chave da lei, a que impedia que as pessoas do mesmo sexo casadas nos estados onde a prática era legal alcançassem reconhecimento e benefícios fiscais em nível federal.
A transcendência da legalização do casamento homossexual "vai muito além do simples direito a casar-se", opinou à Efe Anthony Corrado, analista político do centro de estudos Brookings Institution de Washington.
"Garante também tratamento igualitário de todos os cidadãos a respeito da paternidade legal e o registro de pais nas certidões de nascimento, assim como o reconhecimento de certos direitos quando o cônjuge falece", destacou Corrado.
Com a decisão do Supremo não será possível que nos Estados Unidos se repita uma situação como a que viveu Jim Obergefell, um cidadão que denunciou o estado de Ohio por não reconhecer no atestado de óbito de seu marido John Artur - com quem tinha se casado em Maryland -, que estavam casados.
"A decisão de hoje afirma o que milhões de cidadãos em todo o país já sabíamos que era verdade no fundo de nossos coraçãos: que nosso amor é igual", disse hoje Obergefell, cuja infatigável luta já faz parte da história pelos direitos civis nos Estados Unidos.