Bobou é acusado de "corrupção passiva em concorrência fraudada" (Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 28 de junho de 2014 às 09h38.
Um juiz indiciou o vice-presidente da Argentina, Amado Boudou, por "suborno" e "negociações incompatíveis" em um caso de corrupção relacionado com a impressão de papel oficial quando ele era ministro da Economia, indicaram fontes judiciais sexta-feira à noite.
O segundo no governo de centro-esquerda da presidente Cristina Kirchner se torna, desta forma, o primeiro vice-presidente em funções da história da Argentina a ser processado em um caso de corrupção. Boudou está em viagem à Cuba e pretende retornar ao país na próxima semana.
Antes de viajar, o vice-presidente pediu ao juiz na sexta-feira à tarde uma audiência para estender o seu testemunho em uma corte federal que investiga a compra da empresa Ciccone Calcográfica, única emissora de cédulas e documentos oficiais do país.
"Boudou, aproveitando sua posição como funcionário público, e (os demais réus) Nuñez Carmona, teriam acordado com Nicolás e Héctor Ciccone, e William Reinwick a transferência de 70% da empresa Ciccone Calcográfica em troca da realização de atos necessários para que a empresa pudesse voltar a operar e contratar com a administração pública", afirma o texto da sentença, de 333 páginas.
Além de Boudou, o juiz Ariel Lijo também acusou um sócio e um suposto laranja da operação, assim como outros três envolvidos no caso, segundo o Centro de Informação Judicial (CIJ), o site oficial das notícias do judiciário na Argentina.
A decisão do juiz impõe aos seis envolvidos um "processo sem prisão preventiva" e ordenou o embargo de 200.000 pesos (cerca de US$ 25.000) sobre os bens de Boudou, de acordo com mesma fonte que divulgou o indiciamento a meia-noite deste sábado.
Boudou, de 51 anos, havia declarado sua inocência durante uma audiência que se estendeu por sete horas no dia 9 de junho pela compra de uma empresa impressora de papel-moeda quando ocupava o cargo de ministro da Economia em 2010.
Até o momento, ele diz ser vítima de uma campanha da mídia e de setores econômicos, que buscam ofuscar o êxito do acordo alcançado no mês passado com o clube de Paris.
O juiz determinou que Boudou deverá ampliar sua defesa em 16 de julho, conforme solicitado pelo próprio vice-presidente.
Boudou tem recebido o apoio do governo Kirchner.
A origem do caso
A intimação judicial indica que o vice-presidente, junto "com José María Núñez Carmona, teria adquirido a empresa falida e monopólica Ciccone Calcográfica quando era ministro da Economia (durante o primeiro mandato de Cristina Kirchner), por meio da sociedade The Old Fund e de Alejandro Vandenbroele, com o objetivo final de obter um contrato do Governo Federal para a impressão de documentos oficiais".
O ex-ministro da Economia, que se tornou vice-presidente em 2011, havia sido intimado a depor em 15 de julho. Ele pediu que a data fosse antecipada, alegando querer esclarecer o seu papel no caso o mais rápido possível.
Boudou negou em seu depoimento perante o juiz qualquer relação com Vanderbroele. Mas na resolução de sexta-feira, o juiz Lijo considera evidente a ligação entre Boudou e Vanderbroele.
Os outros réus no caso são Jose Maria Nuñez Carmona, Rafael Brenner Resnick, William e Nicholas Ciccone Reinwick.
Tanto Boudou como Nuñez Carmona e Vanderbroele são acusados de "corrupção passiva em concorrência fraudada", enquanto Ciccone e Reinwick foram processados por "corrupção ativa".
"Vale a pena travar essas lutas. Aqui o que está em jogo é saber se o poder está nas mãos de poucas pessoas que tomam as decisão", declarou o vice-presidente há quase quatro semanas.