Mundo

Julian Assange afirma não ter medo de nada

Para Andenas, a decisão mais "sensata" seria suspender a vigilância policial, devolver o passaporte de Assange e "deixá-lo partir para a Austrália"


	O fundador do WikiLeaks, Julian Assange: "Não tenho medo de nada, mas entendo qual é minha situação", disse Assange
 (Geoff Caddick/AFP)

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange: "Não tenho medo de nada, mas entendo qual é minha situação", disse Assange (Geoff Caddick/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de fevereiro de 2016 às 11h27.

Londres - O fundador do Wikileaks, Julian Assange, afirmou em entrevista à Agência Efe que vê sua saída da embaixada do Equador em Londres mais próxima após a sentença da ONU que pediu sua libertação, e garantiu não temer os riscos que enfrentará quando deixar o lugar que é seu refúgio desde junho de 2012.

"Não tenho medo de nada, mas entendo qual é minha situação", disse Assange em uma conversa telefônica com a Agência Efe na qual mostrou confiança de que Suécia e Reino Unido permitirão em breve que ele deixe a delegação equatoriana, embora os Estados Unidos ainda queiram submetê-lo a um julgamento pelo vazamento de milhares de telegramas diplomáticos em 2010, pelo qual poderia ser condenado à pena de morte.

"Depois de passar um certo tempo em que vão querer salvar as aparências, acredito que veremos como Londres e Estocolmo respeitarão suas obrigações internacionais", afirmou o ativista, que por motivos de segurança se recusa a dizer para onde planeja ir quando puder sair da capital britânica.

O australiano viu a resolução do Grupo de Trabalho sobre Detenções Arbitrárias da ONU, anunciada em 5 de fevereiro, que pede que seu direito à "liberdade de movimento" seja respeitado, como uma "enorme vitória" pessoal sobre três países.

"De um lado estava eu e do outro três Estados. Formalmente, estavam Suécia e Reino Unido, e de maneira informal, os Estados Unidos", descreveu Assange.

O fundador do Wikileaks, cuja equipe legal é liderada pelo ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, garantiu que o organismo internacional sofreu "sérias pressões políticas" de Washington e que "uma vitória nessas circunstâncias demonstra a integridade dos juristas" que compõem o Grupo de Trabalho.

Assange, de 44 anos, a quem Suécia reivindica para interrogá-lo sobre um suposto crime sexual, do que nunca foi acusado formalmente, mostrou bom humor após cinco anos e meio privado de liberdade - dois em prisão domiciliar em Londres e mais de três em um espaço de 19 metros quadrados na Embaixada equatoriana.

"Qualquer um que esteja em uma situação de confinamento deve se concentrar em seu trabalho e na situação exterior, é no que é preciso fazer para se manter sereno e efetivo. Não penso no quão difícil é minha posição", afirmou.

O ativista fez referência durante a conversa às suas conexões com Edward Snowden, o ex-espião americano que aparentemente leva uma vida tranquila em Moscou, após ter revelado segredos da CIA.

Assange está convencido de que os vazamentos publicados pelo Wikileaks estimularam outros a revelar documentos confidenciais que evidenciaram a "hipocrisia e a corrupção" dos países.

"Minha situação não dissuadiu Snowden. De fato, ele diz que (o Wikileaks) é um exemplo e um orgulho para ele", sustentou Assange, que avaliou que sua passagem pela Suécia para dar uma conferência em 2010 foi um dos erros de cálculo que o levaram a ficar retido em Londres, ao contrário da liberdade que Snowden tem na Rússia.

"Me dei conta de que havia coisas que então não compreendia, apesar de que tinha um conhecimento geopolítico bastante razoável do mundo. Não entendi, por exemplo, a enorme mudança que havia acontecido na escalação política da Suécia após o assassinato do primeiro-ministro Olof Palme", apontou.

Assange não quis dizer se o Equador, país que o deu asilo até agora em sua embaixada no Reino Unido, é um possível destino para ele quando deixar Londres, ou se pretende retornar à Austrália.

"Devido a questão da segurança, não posso dizer exatamente para onde poderia ir, mas obviamente quero ver meus filhos, de quem fui afastado durante os cinco anos em que estive detido ilegalmente no Reino Unido", comentou.

Sobre as possibilidades de Reino Unido e Suécia darem os passos necessários para permitir sua libertação, o presidente do Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Detenções Arbitrárias, Mads Andenas, afirmou à Efe que os países são obrigados a cumprir o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, em vigor desde 1966.

"Se trata de uma sentença do corpo independente de especialistas em detenções arbitrárias da ONU que estabelece os deveres do Reino Unido e da Suécia" como membros das Nações Unidas, reafirmou Andenas.

"Assim que passar o rebulico que a decisão gerou, é de se esperar que esses países encontrem uma solução que os permita cumprir suas obrigações", avaliou o jurista.

Para Andenas, a decisão mais "sensata" seria suspender a vigilância policial, devolver o passaporte de Assange e "deixá-lo partir para a Austrália".

Acompanhe tudo sobre:Julian AssangeONUPersonalidadesWikiLeaks

Mais de Mundo

À espera de Trump, um G20 dividido busca o diálogo no Rio de Janeiro

Milei chama vitória de Trump de 'maior retorno' da história

RFK Jr promete reformular FDA e sinaliza confronto com a indústria farmacêutica

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde