Ex-dirigente do Partido Comunista chinês Bo Xilai (à direita) e sua esposa Gu Kailai durante evento em Pequim: julgamento de Kailai, envolvida no maior escândalo político chinês em três décadas, começa nesta quinta-feira (Reuters)
Da Redação
Publicado em 8 de agosto de 2012 às 09h57.
Pequim - A esposa do ex-dirigente comunista Bo Xilai, Gu Kailai, se prepara para ser submetida a julgamento nesta quinta-feira em um caso que representa o maior escândalo político das últimas três décadas na China.
Gu comparecerá à cidade de Hefei, capital da província central de Anhui, para ser julgada pela morte do empresário britânico Neil Heywood, em uma audiência que será realizada a portas fechadas e que poderá ser concluída no mesmo dia.
A imprensa não terá acesso ao processo, já que somente dois diplomatas britânicos interinos foram autorizados a acompanhar este caso.
Em um país onde 98% dos julgamentos definem o acusado como culpado e onde a própria agência de notícias oficial, "Xinhua", indicou que "os fatos são claros e as provas incontestáveis e substanciais", o veredicto de culpabilidade contra Gu é praticamente certo.
Neste caso, a grande dúvida é saber qual será a pena imposta à acusada. Embora o assassinato seja um dos crimes que possam acarretar pena de morte na China, os analistas descartam a possibilidade de o processo terminar com a execução de uma advogada de grande renome e esposa de um dos políticos mais representativos do país até o momento de sua queda.
O esperado é que Gu seja condenada a uma longa pena de prisão ou uma condenação à morte reversível. Ou seja, uma condenação à morte que pode se transformar em prisão perpétua após dois anos se a acusada apresentar boa conduta e arrependimento.
Em declarações à Agência Efe, o advogado pró-direitos humanos Liu Xiaoyuan, afirmou que o mais provável é que Gu seja "condenada à morte pelo assassinato do britânico. No entanto, como a maioria dos casos na China, seguramente essa condenação será suspensa e substituída por vários anos de prisão".
Algo que os analistas também parecem estar de acordo é que Gu será julgada somente pela morte do empresário, um antigo amigo da família, e não pelos possíveis crimes financeiros.
Um julgamento por crimes financeiros - um termo que pode abranger desde corrupção até evasão de capitais - poderia ter perigosas ramificações em um país onde a corrupção é um dos principais problemas.
Omitir supostos crimes financeiros - fato que Gu também teria admitido, segundo o jornal "South China Morning Post" -, daria a possibilidade de o próprio Bo Xilai, de 62 anos, evitar o banco dos réus.
Embora tenha sido deposto, Bo Xilai, que praticamente desapareceu após sua queda, ainda conta com alguns seguidores.
As autoridades chinesas têm pressa de pôr ponto final nesta verdadeira "batata quente" que representou o escândalo em torno de Bo Xilai e Gu. Isso porque, o Congresso do Partido Comunista da China, que deverá renovar totalmente sua cúpula de direção, será realizado já no mês de outubro.
Antes da queda de Bo Xilai em abril, o ex-dirigente comunista, até então chefe do Partido Comunista na cidade de Chongqing e um dos políticos mais populares do país, deveria se tornar um dos novos integrantes do Comitê Permanente do Politburo, o órgão de direção colegiado do partido.
O escândalo ocorreu em fevereiro, quando Wang Lijun, vice-prefeito de Chongqing e braço direito de Bo Xilai, pediu asilo no consulado dos Estados Unidos na cidade de Chengdu, próxima a Chongqing.
Ali Wang (que também poderia ser condenado à morte por traição ao Partido Comunista) denunciou a má conduta de Bo Xilai e os vínculos de Gu com a morte de Heywood, um antigo amigo da família.
Até então, as autoridades chinesas haviam coberto com um espesso véu a morte de Heywood e, inclusive, chegaram a sugerir que esta tinha sido provocada por uma ingestão excessiva de álcool, apesar de os familiares do britânico assegurarem que o mesmo era abstêmio.
No dia 10 de abril, Gu e seu assistente Zhang Xiaojun foram declarados "altamente suspeitos" pela morte de Heywood.
De maneira quase simultânea, a suspensão de Bo Xilai do Politburo e do Comitê Central do Partido Comunista da China por "supostas irregularidades" também foi anunciada, mas sem vincular ambos os casos.
Quase três meses depois, no dia 26 de julho, a Promotoria de Hefei acusou formalmente Gu e Xiaojun por assassinato.