Alberto Nisman: ele acusou a presidente de liderar "a campanha discursiva e midiática necessária para camuflar a execução do delito" (REUTERS/Marcos Brindicci)
Da Redação
Publicado em 21 de janeiro de 2015 às 06h10.
Buenos Aires - O falecido promotor Alberto Nisman acusou a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, de articular um "plano criminoso de impunidade" para os supostos autores do atentado contra a instituição israelita Amia em sua denúncia, que foi divulgada na íntegra nesta terça-feira pelo juiz do caso.
O magistrado Ariel Lijo tornou pública a denúncia apresentada por Nisman na última quarta-feira, cinco dias antes de sua morte em estranhas circunstâncias, contra a presidente pelo suposto acobertamento de terroristas iranianos.
Na denúncia, Nisman garantiu que Cristina "não somente foi quem decidiu a articulação deste plano criminoso de impunidade e se valeu de diferentes atores para levar adiante sua execução".
Nisman também acusou a presidente de liderar "a campanha discursiva e midiática necessária para camuflar a execução do delito".
O chanceler, Héctor Timerman, foi "o principal instrumentador do plano de impunidade idealizado" e "transmitiu ao Irã a decisão do governo argentino de abandonar a reivindicação de justiça pelo caso Amia", segundo o documento.
A denúncia também atinge o deputado governista Andrés Larroque, os militantes Luis D"Elía e Fernando Esteche, o ex-promotor encarregado do caso Amia, Héctor Yrimia, e um suposto espião, Ramón Allan Héctor Bogado, entre outros.
Além disso, o promotor tinha pedido que fosse "determinado o papel exato" de outras pessoas, "que não estão alheias ao plano", como o ministro do Planejamento Federal, Julio De Vido.
Na denúncia, Nisman sustentou que o memorando de entendimento com o Irã aparece como "a peça central do plano de impunidade" supostamente idealizado pelas autoridades argentinas.
Assinado em 2013, o memorando previa a revisão de toda a documentação da investigação judicial, a possibilidade de que os suspeitos pelo ataque terrorista fossem interrogados em território iraniano e a formação de uma "Comissão da Verdade".
"A assinatura e ratificação de tal documento implica na destruição das acusações contra os suspeitos de nacionalidade iraniana", assegurou o falecido promotor.
"Sabiam que a Comissão da Verdade não tinha sido criada para investigar absolutamente nada, mas para legitimar a mentira que estava sendo fabricada", acrescentou.
Para Nisman, os funcionários "agiram com um único propósito", o de "conseguir a impunidade" dos acusados iranianos para poder "estabelecer plenas relações comerciais" com o Irã.
"A presidente entendeu que o petróleo iraniano teria a capacidade de aliviar a severa crise energética que o país vem atravessando", destacou Nisman.
Nesse contexto, o principal interesse de Teerã para assinar o acordo seria "o fim das notificações vermelhas da Interpol" que pesam sobre os iranianos acusados.
"Timerman não cumpriu, não porque não quisesse, mas porque a Interpol o impediu", afirmou Nisman na denúncia.
"Enquanto transcorriam as negociações diplomáticas públicas", o suposto plano avançava em canais paralelos com Teerã, momento em que, para Nisman, foi estabelecido o "aspecto fundamental": "o desvio da investigação para uma nova e falsa hipótese" que incrimine terceiros e desvincule os iranianos.
Dessas tarefas, segundo a denúncia, "participaram ativamente" Khalil, Esteche, Yrimia e "Allan", enquanto Larroque é apontado como um dos interlocutores perante a presidente argentina.