Kuczynski: promotor disse que os problemas de saúde de Kuczynski podem ser tratados sem problemas na cadeia (Mariana Bazo/Reuters Brazil)
Reuters
Publicado em 20 de abril de 2019 às 10h08.
Lima - Um juiz peruano determinou, nesta sexta-feira, que o ex-presidente do Peru Pedro Pablo Kuczynski passe até 3 anos preso enquanto promotores preparam acusações de corrupção contra ele por supostamente aceitar subornos da construtora brasileira Odebrecht.
A decisão ocorre apenas dois dias depois de outro ex-presidente peruano, Alan García, ter cometido suicídio para evitar ser preso por ligação com o caso da Odebrecht, que devastou a classe política estabelecida do Peru ao implicar autoridades e líderes políticos em esquemas de suborno.
Kuczynski, um ex-banqueiro de Wall Street de 80 anos que já deteve a cidadania norte-americana, nega ter cometido irregularidades. Ele não compareceu à audiência diante do juiz Jorge Chávez nesta sexta-feira porque estava recebendo tratamento para problemas cardíacos em uma clínica local.
Depois que García se suicidou na quarta-feira, o advogado de Kuczynski pediu ao promotor José Domingo Perez que considerasse colocar Kuczynski sob prisão domiciliar em vez da prisão preventiva. Mas Perez disse que os problemas de saúde de Kuczynski podem ser tratados sem problemas na cadeia, e o juiz aprovou o pedido de prisão por 36 meses.
A decisão foi anunciada no momento em que o corpo de García era cremado, e provavelmente alimentará mais críticas de que a investigação da Odebrecht se tornou agressiva demais e que promotores e juízes estão abusando do uso da prisão preventiva.
Sob a lei peruana, suspeitos podem ser mantidos presos antes do julgamento por até 3 anos se os promotores mostrarem evidências de que provavelmente serão condenados e que podem tentar fugir ou obstruir a investigação a menos que sejam detidos.
Os quatro ex-presidentes mais recentes do Peru e o líder da oposição foram condenados à prisão preventiva em conexão com o caso da Odebrecht desde que a empresa admitiu, no final de 2016, que pagou cerca de 30 milhões de dólares em propinas a políticos peruanos, como parte de um sofisticado sistema de suborno.
Kuczynski, que era presidente há pouco mais de um ano, diz ter cooperado totalmente com os investigadores, inclusive recusando-se a entrar com um recurso quando foi impedido de deixar o país pouco depois de renunciar em março de 2018.
Como presidente, Kuczynski inicialmente negou ter qualquer vínculo com a Odebrecht. Mas ele posteriormente reconheceu que sua consultoria aconselhou a Odebrecht no financiamento de projetos que a empresa ganhou enquanto ele era ministro do governo do ex-presidente Alejandro Toledo.
Toledo está lutando contra a extradição dos Estados Unidos depois que um juiz ordenou que ele fosse preso por alegações de que recebeu suborno de 20 milhões de dólares da Odebrecht.
Outro ex-presidente do Peru, Ollanta Humala, passou nove meses em prisão preventiva em conexão com o caso Odebrecht antes de ser solto graças a um recurso.