Kirchner: ex-presidente argentina é considerada chefe de uma associação ilícita (Marcos Brindicci/Reuters)
AFP
Publicado em 17 de setembro de 2018 às 19h50.
A ex-presidente argentina Cristina Kirchner foi acusada formalmente por envolvimento no escândalo de subornos em troca de obras públicas conhecido como "Cadernos da corrupção", informou a imprensa local nesta segunda-feira.
Com este caso, Cristina Kirchner (2007-2015) passa a responder a cinco processos, mas continuará em liberdade por ter foro privilegiado por ocupar o cargo de senadora, mesmo após um pedido de prisão preventiva.
A ex-presidente "é considerada chefe de uma associação ilícita", apontou o Centro de Informação Judicial (CIJ).
O juiz federal encarregado do caso, Claudio Bonadio pediu a suspensão do foro privilegiado de Kirchner.
Bonadio também acusou e pediu a prisão preventiva de 17 ex-funcionários e 13 empresários. Deste total, cinco ex-funcionários e nove empresários permanecerão em liberdade por terem colaborado com a justiça, entre eles Ángelo Calcaterra, primo do presidente argentino, Mauricio Macri.
Outros sete empresários, quatro ex-funcionários e um ex-juiz estão sendo processados em liberdade.
Bonadio também congelou 4 bilhões de pesos (100 milhões de dólares) em bens de todos os processados.
Há três semanas, o juiz autorizou buscas e apreensões em três residências de Kirchner, uma em Buenos Aires e duas na Patagônia, ao sul do país.
Kirchner esteve duas vezes diante do juiz Bonadio, que investiga o pagamento de subornos milionários por parte dos mais importantes empresários argentinos para obter contratos de construção de obra pública entre 2003 e 2015.
A ex-presidente, que nega as acusações, pediu - sem sucesso - o impedimento do juiz e do procurador Carlos Stornelli.
A justiça também lhe negou um pedido de adiamento de audiência e Kirchner será interrogada nesta terça-feira pelo juiz Sebastián Casanello, em outra causa, que investiga suposta lavagem de dinheiro.
Kirchner está sendo investigada ainda por suposta corrupção e acobertamento a iranianos no caso do atentado à AMIA.
Em uma extensa decisão, de 500 páginas, Bonadio concluiu que durante os governos do finado Néstor Kirchner e de sua mulher, Cristina Kirchner, funcionou na Argentina "uma máquina de procedimentos escusos para tirar dinheiro do Estado".
Segundo o juiz, o objetivo era "distribuir propinas entre funcionários corruptos (...) pagas por um seleto grupo de empresários que também encheram seus bolsos mediante concessões para obras públicas".
O escândalo veio à tona após a revelação de anotações de um motorista do ministério do Planejamento que entregava as propinas sob a forma de malas de dinheiro.
Estas anotações, feitas em cadernos escolares, se somaram às confissões de uma dúzia de envolvidos que decidiram colaborar com a justiça.