Rei da Espanha, Juan Carlos I, assina a sua abdicação no Palácio da Zarzuela, em Madri (Casa Real Espanhola/Divulgação via Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de junho de 2014 às 07h00.
Madri - Juan Carlos de Bourbon e Bourbon foi Rei da Espanha sob o nome de Juan Carlos I durante 39 anos, um dos reinados mais longos da história, desde que foi proclamado em 22 de novembro de 1975.
O rei nasceu em Roma no dia 5 de janeiro de 1938, primeiro filho homem de dom Juan de Bourbon e Battenberg e de dona María das Mercedes de Bourbon e Orleáns.
Após passar sua infância na Itália, Suíça e Estoril (Portugal), em 9 de novembro de 1948 pisou pela primeira vez na Espanha, onde fixou sua residência, afastado de sua família.
Na Espanha estudou bacharelado e completou sua formação militar nas academias de Terra, Mar e Ar de 1957 a 1959.
De 1960 a 1961 realizou um programa de estudos monográficos de Direito, Economia, Política e Filosofia.
No dia 14 de maio de 1962 se casou, em Atenas, com a então princesa Sofía, primogênita do rei Paulo da Grécia. Desta união nasceram três filhos, as infantas Elena (1963) e Cristina (1965) e dom Felipe, nascido em 1968, que desde 1977 é Príncipe das Astúrias e herdeiro.
Em 22 de julho de 1969, por proposta do general Franco, foi designado pelos Cortes Espanholas sucessor na Chefia de Estado, com o título de Rei. No dia seguinte prestou juramento e recebeu o título de Príncipe da Espanha.
Dois dias depois foi promovido no Exército e foram-lhe atribuídas as honras de capitão geral. Desde então, ocupou em todos os atos oficiais o posto imediato ao chefe de Estado.
Como Príncipes da Espanha, dom Juan Carlos e dona Sofía visitaram diferentes cidades e regiões da Espanha e viajaram oficialmente a 36 países de quatro continentes, como embaixadores de honra da Espanha.
Em 22 de novembro de 1975 foi proclamado rei e pronunciou perante as Cortes sua primeira mensagem à nação, no qual expressou seu desejo de ser "rei de todos os espanhóis".
Cinco dias mais tarde, em cerimônia religiosa aconteceu a denominada "exaltação" ao trono da Espanha, com o nome de Juan Carlos I.
A partir desse momento, se tornou um dos artífices da democratização do país, que começou com a Lei da Reforma Política de 1976. Outro momento de destaque foi a aprovação por referendo da Constituição em 6 de dezembro de 1978, sancionada pelo rei em 27 daquele mês.
No dia 14 de maio de 1977, dom Juan, conde de Barcelona, chefe da Casa Real Espanhola, renunciou oficialmente a todos seus direitos dinásticos, em favor de seu filho, dom Juan Carlos.
O rei teve uma intervenção decisiva para parar a tentativa de golpe de Estado do dia 23 de fevereiro de 1981, com a qual ganhou o respeito e a admiração, tanto na Espanha como no exterior.
Tal como expressa a Constituição em seu artigo 56, é o chefe do Estado, símbolo de sua unidade e permanência, arbitra e modera o funcionamento regular das instituições e assume a mais alta representação do Estado espanhol nas relações internacionais. Ostenta, além disso, o comando das Forças Armadas.
Em 22 de novembro de 2005, dom Juan Carlos completou 30 anos à frente da chefia do Estado, período no qual liderou "uma nova etapa da história da Espanha", cumprindo o desejo que expressou durante sua proclamação.
Por ocasião de seu 70º aniversário, em 9 de janeiro de 2008 foi celebrado um jantar em sua honra, com a presença das mais altas autoridades do Estado, na qual o Rei agradeceu a todos eles sua contribuição para manter "o rumo da Coroa" e ter conseguido "uma Espanha unida e diversa, moderna e plural, próspera e solidária".
Durante estes anos visitou todas as regiões espanholas e as duas cidades autônomas de Ceuta e Melilla, no norte da África.
Impulsionou um novo estilo nas relações com a região ibero-americana, com sua presença a todas a Cúpulas Ibero-Americanas realizadas desde 1991, salvo a de 2013, e lembrou sempre a vocação europeia da Espanha, encorajando seu processo de integração na Europa.
Foi investido doutor honoris causa por 30 famosas universidades espanholas e estrangeiras.
Como velador das relações internacionais e por seu papel no restabelecimento da democracia na Espanha foi reconhecido com vários prêmios internacionais, como o Prêmio Carlos Magno (1982), o Prêmio Nacional de Humanismo e Democracia (1983) e o Prêmio de Convivência "Professor Manuel Broseta" (1997).
Juan Carlos I conta, além disso, com vários títulos e condecorações estrangeiras, como a Grande Cruz da Ordem de Malta e cavalheiro da Ordem de la Jarretera, outorgada pela rainha da Inglaterra. Em 1987, as Nações Unidas lhe concedeu a Medalha Nausen, por seu apoio aos refugiados e em janeiro de 1988 recebeu a Medalha do Conselho da Europa.
Grande amador do esporte, sobretudo esqui e vela, participou dos Jogos Olímpicos de Munique de 1972, representando a Espanha em uma modalidade deste segundo esporte.
Don Juan Carlos foi operado nove vezes, cinco delas de 2010 a 2012. Sua passagem pela sala de cirurgia foi devido a motivos de saúde e por acidentes relacionados com a prática esportiva. Por sua especial relevância, destacam-se as cirurgias sofridas em maio de 2010, para extirpar um nódulo pulmonar, e em abril de 2012, de uma fratura no quadril.
Esta última coincidiu com um momento crítico da crise econômica espanhola e após uma viagem de lazer a Botsuana.
Em um gesto sem precedentes, dom Juan Carlos pediu no dia 18 de abril de 2012 desculpas publicamente, ao afirmar, "Sinto muito; me equivoquei e não voltará a acontecer".