China: a indústria do baijiu tem visto o despontar de uma nova era, impulsionada por uma crescente atração junto às gerações emergentes (Giulia Marchi/Bloomberg)
Agência
Publicado em 11 de agosto de 2023 às 16h44.
Última atualização em 11 de agosto de 2023 às 17h05.
O baijiu, a icônica “aguardente” ou cachaça chinesa, é um pilar inegável da cultura milenar do país. Com raízes que mergulham fundo na história, suas múltiplas técnicas de produção foram moldando ao longo do tempo uma cultura única.
A tradição de erguer um cálice de baijiu, enraizada em séculos de patrimônio cultural, hoje enfrenta um profundo período de mutação, conforme as gerações mais jovens forjam seus próprios hábitos. Li Hang, um sommelier de baijiu em Pequim, compartilha essa perspectiva, destacando a mudança.
Além de permear filosofia, etiqueta, literatura e sociedade, o baijiu é considerado uma joia para rituais tradicionais e eventos sociais, do Ano-Novo Chinês ao Festival do Meio do Outono.
A indústria do baijiu tem visto o despontar de uma nova era, impulsionada por uma crescente atração junto às gerações emergentes. No primeiro semestre deste ano, o consumo de baijiu atingiu um patamar inédito. As cifras provenientes de plataformas de e-commerce saltaram notáveis 230% em comparação ao ano anterior, com encomendas de produtos de alto valor se multiplicando durante os festivais de compras chineses.
O cenário de consumidores de baijiu na China revela uma clara tendência de rejuvenescimento. O grupo pós-95 desponta com o crescimento mais acentuado nas encomendas, firmando-se progressivamente como a espinha dorsal do consumo de baijiu.
Empresas tradicionais do setor, reconhecendo essa mudança, investem em reformulações audaciosas, buscando atrair um público mais jovem através de produtos de menor teor alcoólico e campanhas publicitárias apelativas.
A Moutai, por exemplo, ousou com um inusitado lançamento: um sorvete de baijiu. A iguaria, produzida em proporções específicas de 50 gramas de aguardente a 53 graus para cada quilo de leite, já ultrapassou a marca de 10 milhões de unidades vendidas.
Entretanto, não é apenas a Moutai que abraça a inovação. Empreendimentos do ramo estão mergulhando na competição de produtos de baixo teor alcoólico, em resposta ao apetite dos consumidores jovens.
A geração atual manifesta uma inclinação pelo consumo de bebidas menos alcoólicas, e as casas produtoras estão atendendo a essa demanda, introduzindo ao mercado variedades de baijiu com teor alcoólico reduzido e aromas frutados.
Em uma era em que a cultura do “ganbei” (brindar e esvaziar) foi uma norma, os jovens estão dando um novo significado à tradição. Mais que deglutir rapidamente, eles estão explorando o ato de beber com deleite e refinamento, apreciando os aromas e sabores de forma metódica e distinta.
Essa evolução se revela especialmente no contexto dos negócios. Enquanto a cultura do “ganbei” prevalece como um símbolo de celebração e camaradagem, nos tempos antigos tal atitude seria vista como deselegante e desrespeitosa.
As atitudes modernas refletem uma mudança no paradigma, onde o foco está na experiência e participação. Na televisão, observamos frequentemente pessoas dedicando tempo à decantação do vinho, apreciando os aromas e sabores de maneira lenta e contemplativa, revelando um refinado senso de elegância.
Sommeliers, como Li, têm um papel crucial nesse cenário. Ao introduzir o contexto cultural local aos clientes, eles oferecem uma narrativa única que contextualiza a escolha da bebida em relação à culinária da região. Isso não apenas aprofunda a experiência do consumidor, mas também agrega valor à tradição.
A revitalização do baijiu emerge como uma das forças motrizes para o futuro da indústria de bebidas na China. Mas, mais que isso, os entusiastas desejam projetar a cultura do baijiu no cenário internacional, brilhando como um símbolo da herança chinesa através de uma linguagem acessível a todos.